São Paulo, sábado, 22 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

O Brasil e a diáspora das empresas asiáticas

ANTONIO CORRÊA DE LACERDA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O recente ingresso de empresas chinesas no Brasil marca nova fase da sua diáspora. Já fortemente presentes na África, a consolidação dos chineses como investidores no Brasil torna-os não só os maiores recipientes dos investimentos externos dos demais países mas fortes players internacionais.
Ao se internacionalizarem e tornarem-se, como nos exemplos recentes no Brasil, operadoras, as empresas chinesas passam a ter presença expressiva no mercado consumidor. Como se trata em geral de empresas estatais, ou, pelo menos, mistas, contam, entre outras vantagens tributárias e de financiamento, com o suporte de cerca de US$ 2,5 trilhões de reservas cambiais do país.
Sua estratégia é propiciar via internacionalização de suas empresas maior autonomia no suprimento de matérias-primas, energia e alimentos. E acessam um mercado quase cativo para seus fornecedores de equipamentos e componentes.
O mundo reclama, atônito, da política de desvalorização do yuan, o que causa problemas aos demais países, especialmente aos, que, como o Brasil, permitiram valorização de suas moedas. Isso dá às empresas chinesas uma competitividade artificial, mas extraordinária, tornando quase irrelevantes as proteções alfandegárias.
O novo cenário só reforça a importância de uma estratégia urgente de industrialização e de inserção externa qualificada da economia brasileira.
Para isso, é fundamental uma nova base de políticas macroeconômicas que visem: garantir a sustentabilidade intertemporal das contas públicas, levar os juros reais brasileiros à média internacional e adotar uma política cambial mais ativa. Isso significa não necessariamente abandonar o câmbio flutuante, mas torná-lo mais estável em um patamar mais competitivo (leia-se desvalorizado) do que a média dos últimos anos.
No campo das políticas de competitividade (políticas industrial, comercial e de tecnologia/inovação), é preciso melhorar a competitividade sistêmica e apoiar as empresas brasileiras no seu processo de consolidação no mercado interno e de internacionalização, assim como agregar mais valor a partir das filiais das empresas transnacionais aqui instaladas.

Passividade
O risco da passividade é um processo regressivo da industrialização brasileira e a excessiva dependência de produção e exportação de produtos de baixo valor agregado. Além do mais, um processo conduzido por cadeias globais, sobre as quais não temos suficiente influência nos centros de decisão.
Mas isso não denota ao Brasil um desfecho determinístico, necessariamente. No século 20, tivemos a ousadia, dada pelas circunstâncias, de sair de uma economia primária para uma das mais industrializadas, mediante um projeto de desenvolvimento. O século 21 nos impõe o desafio de um novo salto.


ANTONIO CORRÊA DE LACERDA é professor-doutor do departamento de economia da PUC-SP e autor, entre outros livros, de "Desnacionalização: mitos, riscos e desafios" (Contexto).

aclacerda@pucsp.br


Texto Anterior: Chinesa investe US$ 3 bi em campo de petróleo do Brasil
Próximo Texto: Artigo: Crédito chinês é motivo de preocupação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.