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ANÁLISE
O Brasil e a diáspora das empresas asiáticas
ANTONIO CORRÊA DE LACERDA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O recente ingresso de empresas chinesas no Brasil marca
nova fase da sua diáspora. Já
fortemente presentes na África, a consolidação dos chineses
como investidores no Brasil
torna-os não só os maiores recipientes dos investimentos externos dos demais países mas
fortes players internacionais.
Ao se internacionalizarem e
tornarem-se, como nos exemplos recentes no Brasil, operadoras, as empresas chinesas
passam a ter presença expressiva no mercado consumidor.
Como se trata em geral de
empresas estatais, ou, pelo menos, mistas, contam, entre outras vantagens tributárias e de
financiamento, com o suporte
de cerca de US$ 2,5 trilhões de
reservas cambiais do país.
Sua estratégia é propiciar via
internacionalização de suas
empresas maior autonomia no
suprimento de matérias-primas, energia e alimentos. E
acessam um mercado quase cativo para seus fornecedores de
equipamentos e componentes.
O mundo reclama, atônito,
da política de desvalorização do
yuan, o que causa problemas
aos demais países, especialmente aos, que, como o Brasil,
permitiram valorização de suas
moedas. Isso dá às empresas
chinesas uma competitividade
artificial, mas extraordinária,
tornando quase irrelevantes as
proteções alfandegárias.
O novo cenário só reforça a
importância de uma estratégia
urgente de industrialização e
de inserção externa qualificada
da economia brasileira.
Para isso, é fundamental uma
nova base de políticas macroeconômicas que visem: garantir
a sustentabilidade intertemporal das contas públicas, levar os
juros reais brasileiros à média
internacional e adotar uma política cambial mais ativa. Isso
significa não necessariamente
abandonar o câmbio flutuante,
mas torná-lo mais estável em
um patamar mais competitivo
(leia-se desvalorizado) do que a
média dos últimos anos.
No campo das políticas de
competitividade (políticas industrial, comercial e de tecnologia/inovação), é preciso melhorar a competitividade sistêmica e apoiar as empresas brasileiras no seu processo de consolidação no mercado interno e
de internacionalização, assim
como agregar mais valor a partir das filiais das empresas
transnacionais aqui instaladas.
Passividade
O risco da passividade é um
processo regressivo da industrialização brasileira e a excessiva dependência de produção
e exportação de produtos de
baixo valor agregado. Além do
mais, um processo conduzido
por cadeias globais, sobre as
quais não temos suficiente influência nos centros de decisão.
Mas isso não denota ao Brasil
um desfecho determinístico,
necessariamente. No século 20,
tivemos a ousadia, dada pelas
circunstâncias, de sair de uma
economia primária para uma
das mais industrializadas, mediante um projeto de desenvolvimento. O século 21 nos impõe
o desafio de um novo salto.
ANTONIO CORRÊA DE LACERDA é professor-doutor do departamento de economia da PUC-SP e autor, entre outros livros, de "Desnacionalização: mitos, riscos e desafios" (Contexto).
aclacerda@pucsp.br
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