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Não houve acordo nem sobre quem desistiu das negociações na Alemanha
DO ENVIADO ESPECIAL A POTSDAM
Os quatro parceiros/adversários do G4 não conseguiram
se entender nem sobre quem
tomou a iniciativa de desistir
prematuramente de uma reunião prevista para durar mais
dois dias. O ministro brasileiro
Celso Amorim diz que "ficou
claro na hora do almoço que era
inútil continuar a discussão
com base nos números que estavam sobre a mesa".
Mas ele e o indiano Kamal
Nath negaram, em entrevista
coletiva, que tivessem tomado
a iniciativa de encerrar prematuramente a discussão.
Já Mike Johanns, secretário
de Agricultura dos EUA, listou
uma tal série de progressos nas
negociações que ele próprio fez
a pergunta que achava que os
jornalistas fariam: "Se é assim,
por que então vocês não continuam negociando?".
Johanns admitiu não saber
responder.
Ele acusa Brasil e Índia de terem "mudado as traves de lugar". É uma alusão à sua percepção de que nenhum dos dois
queria se mover em direção a
um acordo. "Literalmente, estivemos diante de dois países que
nada de novo tinham para colocar sobre a mesa", acusa.
Reforça o anfitrião, o britânico Peter Mandelson, comissário europeu: "Não se pode fazer
acordo quando se tem perto de
nada como retorno. Nem se pode negociar um só pilar [o agrícola, como insistiram Brasil e
Índia]".
Traduzindo: europeus e
americanos juram que fizeram
o máximo de concessões na
área agrícola, mas obtiveram
"perto de nada" como retorno
na área industrial. Brasileiros e
indianos dizem exatamente o
oposto.
Em uma coincidência que leva água ao moinho da teoria
conspiratória de Amorim sobre
a aliança Europa/Estados Unidos, é sintomático que Susan
Schwab e Peter Mandelson tenham usado expressão absolutamente idêntica para explicar
o fracasso:
"Nós nos movemos e nos movemos de novo e estávamos
prontos para um movimento final. Mas não podemos negociar
conosco mesmo" (Mandelson).
"Nem todo mundo na sala tinha a mesma disposição negociadora dos Estados Unidos.
Punham mais barreiras a cada
vez. Os Estados Unidos não podem negociar com ele próprio"
(Susan Schwab).
Devolve Amorim: "As grandes divergências apareceram
em agricultura, que é o motor
da rodada" (portanto, não teriam sido os bens industriais
que teriam causado o colapso).
Reforça o indiano Kamal
Nath: "Se os que deveriam receber acabam concedendo e os
que deveriam conceder acabam
recebendo, não se pode falar
em Rodada de Desenvolvimento" (aliás, o nome oficial da Rodada Doha).
(CR)
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