São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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Não houve acordo nem sobre quem desistiu das negociações na Alemanha

DO ENVIADO ESPECIAL A POTSDAM

Os quatro parceiros/adversários do G4 não conseguiram se entender nem sobre quem tomou a iniciativa de desistir prematuramente de uma reunião prevista para durar mais dois dias. O ministro brasileiro Celso Amorim diz que "ficou claro na hora do almoço que era inútil continuar a discussão com base nos números que estavam sobre a mesa".
Mas ele e o indiano Kamal Nath negaram, em entrevista coletiva, que tivessem tomado a iniciativa de encerrar prematuramente a discussão.
Já Mike Johanns, secretário de Agricultura dos EUA, listou uma tal série de progressos nas negociações que ele próprio fez a pergunta que achava que os jornalistas fariam: "Se é assim, por que então vocês não continuam negociando?".
Johanns admitiu não saber responder.
Ele acusa Brasil e Índia de terem "mudado as traves de lugar". É uma alusão à sua percepção de que nenhum dos dois queria se mover em direção a um acordo. "Literalmente, estivemos diante de dois países que nada de novo tinham para colocar sobre a mesa", acusa.
Reforça o anfitrião, o britânico Peter Mandelson, comissário europeu: "Não se pode fazer acordo quando se tem perto de nada como retorno. Nem se pode negociar um só pilar [o agrícola, como insistiram Brasil e Índia]".
Traduzindo: europeus e americanos juram que fizeram o máximo de concessões na área agrícola, mas obtiveram "perto de nada" como retorno na área industrial. Brasileiros e indianos dizem exatamente o oposto.
Em uma coincidência que leva água ao moinho da teoria conspiratória de Amorim sobre a aliança Europa/Estados Unidos, é sintomático que Susan Schwab e Peter Mandelson tenham usado expressão absolutamente idêntica para explicar o fracasso:
"Nós nos movemos e nos movemos de novo e estávamos prontos para um movimento final. Mas não podemos negociar conosco mesmo" (Mandelson).
"Nem todo mundo na sala tinha a mesma disposição negociadora dos Estados Unidos. Punham mais barreiras a cada vez. Os Estados Unidos não podem negociar com ele próprio" (Susan Schwab).
Devolve Amorim: "As grandes divergências apareceram em agricultura, que é o motor da rodada" (portanto, não teriam sido os bens industriais que teriam causado o colapso).
Reforça o indiano Kamal Nath: "Se os que deveriam receber acabam concedendo e os que deveriam conceder acabam recebendo, não se pode falar em Rodada de Desenvolvimento" (aliás, o nome oficial da Rodada Doha). (CR)


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