São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Mais empregos e algumas ilusões

Trabalho formal cresce mais rápido que total de empregos, déficit do INSS estaciona, mas país torra dinheiro da bonança

2007 DEVE TER "recorde" na criação de empregos com carteira assinada, torce o Ministério do Trabalho. Difícil saber, pois as estatísticas a respeito são anuais. A mais recente é de 2005. No que diz respeito à formalização previdenciária (trabalhadores contribuintes), o pico da formalização foi em 1980, 55% das pessoas economicamente ativas, contra 45% em 2005, talvez quase 47% em 2006, quiçá 49% neste ano. Mas essa é uma estimativa grossa, vulgo chute informado.
Trata-se de um ciclo positivo iniciado no governo Lula, decerto, de economia mais estável, embora ainda não muito brilhante -sob Lula 1, o país cresceu a 65% da média mundial, contra 63% de FHC 1.
A formalização parece bem na foto das estatísticas mais novas, a do cálculo mensal do emprego nas metrópoles, feito pelo IBGE e divulgado ontem. O emprego na carteira cresce 67% mais rápido do que a população empregada, na média dos últimos 12 meses. O ritmo de criação de empregos voltou a acelerar desde os números ruins de meados do ano passado.
O desemprego nas metrópoles continua horrivelmente alto, em torno dos 10%, porque nas grandes cidades há mais gente querendo trabalhar do que vagas (embora a taxa nacional, que se conhece apenas uma vez por ano, deva andar abaixo disso, entre 8% e 9%).
Mas a formalização do trabalho e o PIB vitaminado influenciam os resultados da Previdência. O déficit deste ano pode estacionar em 1,8% do PIB, como no ano passado. O economista Amir Khair avisa que na nova Lei de Diretrizes Orçamentárias a previsão de déficit é cadente. Mas a despesa continua a subir, assim como outros gastos (e receitas) do governo, que devem crescer entre 3% e 4% (como proporção do PIB) neste ano. Pior, a carga tributária cresce quatro vezes mais rápido que o investimento federal nos anos Lula (sim, sob FHC foi pior).
Isto é, continua a se transferir renda para gastos correntes e aposentadorias, em detrimento de investimentos públicos (ou privados, pois as empresas, ainda mais tributadas, ficam com menos capital disponível) e, por conseqüência, em detrimento da criação de trabalho. É preciso corrigir já alguns horrores sociais, decerto, mas a tendência de tal política é reduzir a produtividade geral da economia -a capacidade de criar riqueza.
Os impostos sobre a renda têm crescido algo mais que aqueles sobre a produção, mas todos crescem demais. Além do mais, as contas fiscais e da Previdência, embora nem de longe catastróficas como prega a direita, são ruins e estão sendo equilibradas em um ciclo positivo da economia e com mais imposto. E se a maré vira? Gastar em vez de investir e gastar ainda mais em períodos de bonança não é muito racional.


vinit@uol.com.br

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