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VINICIUS TORRES FREIRE
Mais empregos e algumas ilusões
Trabalho formal cresce mais rápido que total de empregos, déficit do INSS estaciona, mas país torra dinheiro da bonança
2007 DEVE TER "recorde" na criação de empregos com carteira
assinada, torce o Ministério do
Trabalho. Difícil saber, pois as estatísticas a respeito são anuais. A mais
recente é de 2005. No que diz respeito à formalização previdenciária
(trabalhadores contribuintes), o pico da formalização foi em 1980, 55%
das pessoas economicamente ativas, contra 45% em 2005, talvez
quase 47% em 2006, quiçá 49% neste ano. Mas essa é uma estimativa
grossa, vulgo chute informado.
Trata-se de um ciclo positivo iniciado no governo Lula, decerto, de
economia mais estável, embora ainda não muito brilhante -sob Lula 1,
o país cresceu a 65% da média mundial, contra 63% de FHC 1.
A formalização parece bem na foto das estatísticas mais novas, a do
cálculo mensal do emprego nas metrópoles, feito pelo IBGE e divulgado ontem. O emprego na carteira
cresce 67% mais rápido do que a
população empregada, na média
dos últimos 12 meses. O ritmo de
criação de empregos voltou a acelerar desde os números ruins de
meados do ano passado.
O desemprego nas metrópoles
continua horrivelmente alto, em
torno dos 10%, porque nas grandes
cidades há mais gente querendo
trabalhar do que vagas (embora a
taxa nacional, que se conhece apenas uma vez por ano, deva andar
abaixo disso, entre 8% e 9%).
Mas a formalização do trabalho e
o PIB vitaminado influenciam os
resultados da Previdência. O déficit deste ano pode estacionar em
1,8% do PIB, como no ano passado.
O economista Amir Khair avisa
que na nova Lei de Diretrizes Orçamentárias a previsão de déficit é
cadente. Mas
a despesa continua a subir, assim
como outros gastos (e receitas) do
governo, que devem crescer entre
3% e 4% (como proporção do PIB)
neste ano. Pior, a carga tributária
cresce quatro vezes mais rápido
que o investimento federal nos
anos Lula (sim, sob FHC foi pior).
Isto é, continua a se transferir
renda para gastos correntes e aposentadorias, em detrimento de investimentos públicos (ou privados,
pois as empresas, ainda mais tributadas, ficam com menos capital
disponível) e, por conseqüência,
em detrimento da criação de trabalho. É preciso corrigir já alguns
horrores sociais, decerto, mas a
tendência de tal política é reduzir a
produtividade geral da economia
-a capacidade de criar riqueza.
Os impostos sobre a renda têm
crescido algo mais que aqueles sobre a produção, mas todos crescem
demais. Além do mais, as contas
fiscais e da Previdência, embora
nem de longe catastróficas como
prega a direita, são ruins e estão
sendo equilibradas em um ciclo
positivo da economia e com mais
imposto. E se a maré vira?
Gastar em vez de investir e gastar
ainda mais em períodos de bonança não é muito racional.
vinit@uol.com.br
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