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Colapso no G4 provoca primeira desavença pública entre Bush e Lula
Ênfase da diplomacia brasileira no multilateralismo sofre derrota de Potsdam
DO ENVIADO ESPECIAL A POTSDAM
O fracasso de Potsdam acabou provocando a primeira
rusga pública na relação entre
os presidentes George Walker
Bush e Luiz Inácio Lula da Silva, que até aqui vinha sendo
muitíssimo cordial.
Bush, por seu porta-voz,
Tony Fratto, criticou a posição
brasileira: "O presidente está
desapontado pelo fato de que
alguns países estão bloqueando
uma oportunidade para expandir o comércio. Grandes economias como Brasil e Índia não
deveriam pôr-se no caminho
do progresso para países em
desenvolvimento menores e
pobres -mas é isso que parece
estar acontecendo".
Lula, ao contrário, falou com
o chanceler Celso Amorim e
não fez a menor ressalva às posições adotadas em Potsdam.
Mas os EUA e a União Européia trataram de intrigar Índia
e Brasil com os países mais pobres, tal como Bush explicitou.
Sua negociadora-chefe, Susan
Schwab, afirmou que "os grandes perdedores serão os países
em desenvolvimento que precisam exportar não só para os
países desenvolvidos mas também para países como Brasil,
Índia e China. Quem vai pagar
são os mais de 80 países da
OMC que não estão representados nesta sala".
Retruca Clodoaldo Hugueney, embaixador do Brasil em
Genebra, a sede da OMC: "Se
eles estão tão preocupados com
os países pobres, por que, em
vez de 97%, não dão 100% de
importações livres para esses
países". É alusão ao compromisso americano de liberar as
importações dos países pobres,
mas não totalmente.
Tiroteio à parte, para o Brasil, o fracasso do G4, que tende
a ser o fracasso da Rodada Doha, significa um retrocesso em
sua diplomacia, que apostou todas as fichas no entendimento
multilateral como forma de
"mudar a geografia comercial"
do mundo, na tese megalômana
do presidente Lula.
O Itamaraty já havia voltado
a falar em acordos bilaterais
(com a União Européia principalmente), sem prejuízo do que
acontecer com Doha. Mas, ontem, Mariann Fischer Boel, a
comissária para Agricultura da
UE, cortou qualquer possibilidade de concessões nesse âmbito: "Os países que esperam
concluir acordos bilaterais conosco ficarão desapontados.
Não podemos oferecer nada
parecido [ao que foi posto em
Potsdam] no âmbito bilateral".
O colapso em Potsdam acontece apenas duas semanas antes de Brasil e União Européia
fazerem a sua primeira reunião
de cúpula (Lisboa, 4 de julho),
durante a qual será lançada a
"parceria estratégica" com o
bloco europeu. A cereja do bolo
nesse tipo de entendimento
costuma ser um acordo de livre
comércio, cujas negociações,
aliás, estão paralisadas há algum tempo. É possível que, do
tiroteio de Potsdam, sobre uma
bala perdida para esse acordo.
(CLÓVIS ROSSI)
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