São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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Colapso no G4 provoca primeira desavença pública entre Bush e Lula

Ênfase da diplomacia brasileira no multilateralismo sofre derrota de Potsdam

DO ENVIADO ESPECIAL A POTSDAM

O fracasso de Potsdam acabou provocando a primeira rusga pública na relação entre os presidentes George Walker Bush e Luiz Inácio Lula da Silva, que até aqui vinha sendo muitíssimo cordial.
Bush, por seu porta-voz, Tony Fratto, criticou a posição brasileira: "O presidente está desapontado pelo fato de que alguns países estão bloqueando uma oportunidade para expandir o comércio. Grandes economias como Brasil e Índia não deveriam pôr-se no caminho do progresso para países em desenvolvimento menores e pobres -mas é isso que parece estar acontecendo".
Lula, ao contrário, falou com o chanceler Celso Amorim e não fez a menor ressalva às posições adotadas em Potsdam.
Mas os EUA e a União Européia trataram de intrigar Índia e Brasil com os países mais pobres, tal como Bush explicitou. Sua negociadora-chefe, Susan Schwab, afirmou que "os grandes perdedores serão os países em desenvolvimento que precisam exportar não só para os países desenvolvidos mas também para países como Brasil, Índia e China. Quem vai pagar são os mais de 80 países da OMC que não estão representados nesta sala".
Retruca Clodoaldo Hugueney, embaixador do Brasil em Genebra, a sede da OMC: "Se eles estão tão preocupados com os países pobres, por que, em vez de 97%, não dão 100% de importações livres para esses países". É alusão ao compromisso americano de liberar as importações dos países pobres, mas não totalmente.
Tiroteio à parte, para o Brasil, o fracasso do G4, que tende a ser o fracasso da Rodada Doha, significa um retrocesso em sua diplomacia, que apostou todas as fichas no entendimento multilateral como forma de "mudar a geografia comercial" do mundo, na tese megalômana do presidente Lula.
O Itamaraty já havia voltado a falar em acordos bilaterais (com a União Européia principalmente), sem prejuízo do que acontecer com Doha. Mas, ontem, Mariann Fischer Boel, a comissária para Agricultura da UE, cortou qualquer possibilidade de concessões nesse âmbito: "Os países que esperam concluir acordos bilaterais conosco ficarão desapontados. Não podemos oferecer nada parecido [ao que foi posto em Potsdam] no âmbito bilateral".
O colapso em Potsdam acontece apenas duas semanas antes de Brasil e União Européia fazerem a sua primeira reunião de cúpula (Lisboa, 4 de julho), durante a qual será lançada a "parceria estratégica" com o bloco europeu. A cereja do bolo nesse tipo de entendimento costuma ser um acordo de livre comércio, cujas negociações, aliás, estão paralisadas há algum tempo. É possível que, do tiroteio de Potsdam, sobre uma bala perdida para esse acordo. (CLÓVIS ROSSI)


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