|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cade deve condenar AmBev e Telefônica
Órgão que cuida da concorrência se reúne hoje e deve aplicar multas milionárias às duas empresas por prática desleal
Autuação da Ambev deve chegar a R$ 209 mi, a maior da história; a da Telefônica pode atingir R$ 25 mi; companhias não comentam
FÁTIMA FERNANDES
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Os conselheiros do Cade
(Conselho Administrativo de
Defesa Econômica) se reúnem
hoje para decidir cerca de 30
processos. Em dois deles -AmBev e Telefônica-, a decisão
deverá ser pela condenação.
Motivo: práticas desleais contra a livre concorrência. A Folha apurou que elas só poderão
escapar da condenação hoje caso algum integrante do conselho peça vistas do processo, algo que adiaria a votação.
As multas serão milionárias.
A AmBev pode ser autuada em
até R$ 209 milhões, a maior já
aplicada pelo Cade. Até hoje a
companhia recordista foi a
Gerdau, que recebeu autuação
de R$ 156 milhões por formação de cartel na venda de aço.
No caso da AmBev, a companhia foi acusada pela sua concorrente Schincariol de práticas anticoncorrenciais ao colocar em vigor um programa de
fidelização de bares. Batizado
de "Tô Contigo", o programa foi
criado em 2003 e dava descontos aos estabelecimentos que
comprassem apenas produtos
da AmBev.
A Schincariol acusou a empresa de abuso de poder de
mercado. Segundo a companhia, a AmBev detinha praticamente 70% de participação nas
vendas de cerveja no país.
Caso a condenação se confirme, a multa será de, no mínimo
1% do faturamento da companhia em 2003, o equivalente a
R$ 150 milhões. Como incidem
atualizações, esse valor pode
chegar a R$ 209 milhões.
Procurada, a AmBev recusou-se a fazer comentários antes da notificação sobre a decisão do Cade.
Telefônica e provedores
O processo contra a Telefônica tem natureza diferente. Foi
movido no final do ano passado
após uma representação feita
pela Abranet, a associação nacional dos provedores de internet. Naquela ocasião, a Telefônica fechou um acordo com o
Cade que previa diversos compromissos decorrentes da decisão judicial que obrigou a Telefônica a direcionar os assinantes do Speedy (seu serviço de
acesso à internet em banda larga) a um provedor de acesso.
Entre os compromissos acertados, estavam: informar os
clientes sobre a mudança em
seus sites e nos sites de maior
audiência do país durante seis
meses; e não oferecer o seu
"iTelefônica" como provedor
para novos usuários, especialmente se fosse grátis.
Em janeiro deste ano, a Abranet voltou a procurar o Cade
alegando descumprimento do
acordo. O parecer da Procuradoria do Cade recomenda "a
aplicação das penalidades determinadas pelo Conselheiro
Relator dos Recursos Voluntários". No caso, multa diária de
R$ 100 mil desde novembro de
2008 até a data da decisão final
do conselho. Cálculos iniciais
indicam que essa multa pode
chegar a R$ 25 milhões.
O presidente da Abranet,
Eduardo Parajo, afirma que,
quando teve de direcionar seus
clientes para outros provedores, a Telefônica ficou com 1,1
milhão deles em seus provedores (Terra e iTelefônica) porque ofereceu acesso gratuitamente. O problema é que ela
cobrava desses provedores parceiros uma mensalidade para
que eles oferecessem o serviço
sem custo ao cliente.
Parajo afirma que essa prática levou à falência pelo menos
10% dos provedores parceiros
da Telefônica no Estado, que,
àquela altura, somavam 200.
Parajo explica os prejuízos
com uma comparação: "se a Telefônica fabricasse farinha e
vendesse para as padarias, seria
uma coisa", diz. "Mas, a partir
do momento em que ela abre
uma padaria e começa a dar pão
de graça, prejudica aqueles estabelecimentos que continuam
comprando a sua farinha."
A Telefônica enviou sua defesa ao Cade, considerando o
cumprimento integral do acordo. Procurada pela Folha, afirmou que não vai se pronunciar
sobre o caso até a votação do
conselho do Cade hoje.
Com a Bloomberg
Texto Anterior: China usará reservas para expansão no exterior Próximo Texto: Foco: Grandes companhias farmacêuticas faturam bilhões com gripe suína Índice
|