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LUÍS NASSIF
Os desafios da Presidência
Quais as âncoras, de fato, da economia e da política brasileiras? A questão é relevante, quando se chega à reta final das eleições, para uma avaliação de riscos e oportunidades de cada candidatura.
Comecemos pela de Ciro Gomes e sua frente que abarca da direita pefelista à esquerda brizolista. O grande ativo de Ciro é o poder da palavra, o que os politicólogos chamam de "carisma". O carisma de JK foi relevante para levantar o país de norte a sul em torno de planos de metas. Cada pequena empresa tratava de ter seu próprio plano de metas. O de Jânio Quadros foi desperdiçado em bobagens irrelevantes, como proibição a brigas de galo e uso de biquínis.
O próprio Fernando Collor foi relevante agente de modernização, com seu discurso em favor da abertura, da desregulamentação e contra as "carroças".
Já FHC -que, por seu preparo e sua formação, poderia ser o
grande desfraldador de bandeiras- jogou fora seu ativo em
embates menores, como o episódio dos "neobobos".
A palavra só pode ser eficaz se
acompanhada da bandeira correta e dos acordos adequados de
sustentação política. Hoje em
dia, há um conjunto de bandeiras que demandam mobilização, como a luta pelo aumento
das exportações, a inovação nas
pequenas e médias empresas, a
implantação da qualidade total
como valor nacional, bandeiras
sociais etc.
O primeiro desafio de qualquer candidato será encontrar a
bandeira adequada. Para tanto,
terá de sair da armadilha desse
subeconomicismo que domina a
discussão eleitoral. Superávit
fiscal, estabilidade econômica,
política monetária adequada
são valores consolidados, estabilizados, reiterados e brandidos,
hoje em dia, apenas por quem
não tem mais nada a dizer. É
preciso mudar a partitura.
Fora isso, há três riscos a analisar. O primeiro, como o candidato irá compor seu futuro governo. Nesse item há dois problemas: um mais agudo, que é o
de as demandas políticas levarem ao descontrole do déficit
público. Desde que obtido um
pacto político adequado e com
limitações, esse risco é menor, já
que o candidato não aparenta
ser um tresloucado na área fiscal. De qualquer modo, Jânio
Quadros começou seu governo
visitando Estados e com o assessor Ernâne Galveas levando o livro do Orçamento debaixo do
braço. A cada demanda apresentada, Jânio pedia que o solicitante indicasse que item a
compensaria no Orçamento.
Mas não segurou a peteca, muito mais por seu desequilíbrio
emocional e político do que pela
falta de convicções fiscais.
Na composição de governo, o
segundo risco é imobilizar a administração com o loteamento
de cargos. A falta de estrutura
partidária fará de um futuro governo Ciro uma colcha de retalhos.
Como se resolve essa situação?
Utilizando as ferramentas do
Plano Plurianual que será herdado de FHC. Hoje em dia, há
uma tecnologia pronta, com
funcionários concursados com
cursos de gestor e desenvolvimento de indicadores. O caminho adequado é reservar alguns
ministérios menos essenciais para os aliados, mas cuidando de
manter na secretaria geral um
técnico de confiança, tanto para
tocar a máquina quanto para
evitar abusos decorrentes de
pactos fisiológicos, a exemplo do
ocorrido no governo Geisel.
O segundo risco está na escolha da equipe para as áreas-chave da administração. Ciro
não dispõe de equipe nem de conhecimento adequado sobre os
melhores quadros e melhores
formuladores. Por não ter ligações políticas maiores, poderá
tanto escolher os melhores
quanto os piores. Dependendo
da escolha, sua impetuosidade
política poderá fazer o país
avançar celeremente, ou celeremente levá-lo para o buraco.
O terceiro risco é como irá administrar seu temperamento. A
Presidência da República não comporta destempero.
Será desafio grande montar acordos políticos sem imobilizar
o governo, compor maiorias sem sacrificar a qualidade e negociar politicamente sem perder as estribeiras.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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