São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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PORTA GIRATÓRIA

Bancos exibem com orgulho presença em seus quadros de ex-dirigentes de instituições financeiras federais

Ex-integrantes do governo viram "troféus"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os bancos ostentam com orgulho o fato de terem em seus quadros ex-integrantes do governo. São exibidos quase como troféus.
No site do Unibanco, por exemplo, o currículo do diretor Daniel Gleizer destaca o seguinte predicado: "Sua experiência profissional também inclui três anos como diretor da Área Internacional do Banco Central do Brasil e membro votante do Copom".
São dois os perfis básicos de quem passa por funções-chave na máquina pública: os que primeiro constroem carreira no governo para depois migrar para a iniciativa privada e os que deixam postos em grandes empresas e bancos, ficam um tempo no governo e voltam para o mercado em situação, em geral, melhor do que estavam -usam o que se convencionou chamar em Brasília de porta giratória entre mercado e governo.
O ex-ministro Pedro Malan (Fazenda) está no primeiro grupo. Depois de 37 anos no setor público, faz carreira na iniciativa privada. Além do Unibanco, integra também conselhos da Portugal Telecom Internacional (em Lisboa) e da Globex, controladora da rede de lojas Ponto Frio.
Armínio Fraga (ex-BC) se enquadra mais no segundo grupo. Depois de passar pelo Garantia, ocupou cargo de vice-presidente da Salomon Brothers em Nova York, quando foi convidado para assumir a diretoria de Assuntos Internacionais do BC, em 91. Em seguida, comandou o fundo especulativo do megainvestidor americano George Soros, de onde saiu em 99 para voltar ao BC, como presidente da instituição.
Em meados do ano passado, Armínio abriu seu próprio negócio, a Gávea Investimentos. Em um ano, a empresa tornou-se a segunda maior gestora independente de recursos (não ligada a banco) do país, com ativos estimados em R$ 2,5 bilhões.
Um caso de uso da porta giratória é Francisco Gros. Nos anos 70, foi diretor da Multiplic Corretora. Em 1980, assumiu uma diretoria da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). De 1981 a 1985, comandou a área de mercado de capitais do Unibanco. Depois, foi para o BNDES, onde foi vice-presidente da BNDESpar. Presidiu o BC duas vezes: em 1987 e de 1991 a 1992. Saiu do BC e foi para o Morgan Stanley Dean Witter, em 1993. Em 2000, passou a presidir o BNDES. Em 2001, assumiu a presidência da Petrobras.
Há também aqueles cujo ponto de partida é o meio acadêmico. Vão para órgãos importantes do governo e, ao sair, são absorvidos pela iniciativa privada.
É o caso do ex-diretor de Política Econômica do BC Ilan Goldfajn. Trabalhou três anos com Armínio. Agora, é sócio da Gávea.


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