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Remessas de montadoras sobem 239% e vão a US$ 4 bi
Setor automobilístico supera o financeiro como o que mais envia lucros ao exterior
Ganhos recordes no Brasil e
necessidade de cobrir perdas
no exterior elevam remessas;
déficit em transações correntes vai a US$ 19,512 bi
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Impulsionados pelos elevados ganhos obtidos nas suas
operações no Brasil, a indústria
automobilística foi o setor que
mais enviou lucros para suas
matrizes do exterior neste ano,
superando as remessas feitas
pelo setor financeiro, que tradicionalmente responde pelos
maiores volumes de remessas.
Segundo dados do Banco
Central, os fabricantes de automóveis responderam por um
envio de US$ 4,045 bilhões para fora do Brasil entre janeiro e
julho deste ano, aumento de
239% em relação ao valor observado no mesmo período de
2007. Só no mês passado, essas
remessas somaram US$ 1,281
bilhão, 41% do total de dividendos enviados por empresas estrangeiras instaladas no país.
Com as vendas facilitadas pela expansão do crédito, as montadoras têm tido resultados recordes no Brasil. Entre janeiro
e julho, foram fabricados mais
de 2 milhões de veículos, 22% a
mais do que nos primeiros sete
meses de 2007.
Outros setores da economia
também aceleraram suas remessas ao exterior, embora numa velocidade inferior à dos fabricantes de automóveis. As remessas feitas pelos bancos, por
exemplo, somaram US$ 2,414
bilhões entre janeiro e julho, alta de 143% em relação a 2007.
Ao todo, as empresas instaladas no país enviaram, também
entre janeiro e julho, US$
22,131 bilhões para suas matrizes no exterior. Trata-se de um
crescimento de 89% na comparação com 2007. O valor acumulado até agora já está bem
próximo dos US$ 22,435 bilhões em remessas efetuadas
ao longo de todo o ano passado.
Para Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário do Ministério da Fazenda, a
alta das remessas reflete o aumento da lucratividade das empresas instaladas no Brasil.
"Seria bom se uma parcela
maior [desses ganhos] fosse
reinvestida por aqui, mas, na
atual conjuntura, isso é impossível", afirma. Segundo Almeida, setores como o bancário e o
automotivo aproveitam a rentabilidade obtida no Brasil para
compensar perdas sofridas no
exterior, e esse quadro não deve se alterar tão cedo.
Déficit
O lado negativo do aumento
das remessas está no seu impacto sobre as contas externas
do país. No mês passado, o déficit em transações correntes
-que contabiliza a negociação
de bens e serviços com outros
países- ficou em US$ 2,111 bilhões, o que levou o saldo negativo acumulado no ano para
US$ 19,512 bilhões, o maior já
registrado nos primeiros sete
meses de um ano.
O economista Fabio Kanczuk, professor da USP, diz que
os números divulgados ontem
não são "nenhuma surpresa" e
que a velocidade de crescimento do déficit externo é "assustadora". "É de esperar que um
país emergente tenha déficit,
mas o ritmo que estamos observando não é sustentável."
Para Kanczuk, no curto prazo a situação não chega a ser
preocupante, mas, se o déficit
externo continuar crescendo,
em 2009 será necessário um
ajuste na taxa de câmbio para
que o problema seja corrigido.
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