São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2008

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Remessas de montadoras sobem 239% e vão a US$ 4 bi

Setor automobilístico supera o financeiro como o que mais envia lucros ao exterior

Ganhos recordes no Brasil e necessidade de cobrir perdas no exterior elevam remessas; déficit em transações correntes vai a US$ 19,512 bi


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Impulsionados pelos elevados ganhos obtidos nas suas operações no Brasil, a indústria automobilística foi o setor que mais enviou lucros para suas matrizes do exterior neste ano, superando as remessas feitas pelo setor financeiro, que tradicionalmente responde pelos maiores volumes de remessas.
Segundo dados do Banco Central, os fabricantes de automóveis responderam por um envio de US$ 4,045 bilhões para fora do Brasil entre janeiro e julho deste ano, aumento de 239% em relação ao valor observado no mesmo período de 2007. Só no mês passado, essas remessas somaram US$ 1,281 bilhão, 41% do total de dividendos enviados por empresas estrangeiras instaladas no país.
Com as vendas facilitadas pela expansão do crédito, as montadoras têm tido resultados recordes no Brasil. Entre janeiro e julho, foram fabricados mais de 2 milhões de veículos, 22% a mais do que nos primeiros sete meses de 2007.
Outros setores da economia também aceleraram suas remessas ao exterior, embora numa velocidade inferior à dos fabricantes de automóveis. As remessas feitas pelos bancos, por exemplo, somaram US$ 2,414 bilhões entre janeiro e julho, alta de 143% em relação a 2007.
Ao todo, as empresas instaladas no país enviaram, também entre janeiro e julho, US$ 22,131 bilhões para suas matrizes no exterior. Trata-se de um crescimento de 89% na comparação com 2007. O valor acumulado até agora já está bem próximo dos US$ 22,435 bilhões em remessas efetuadas ao longo de todo o ano passado.
Para Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário do Ministério da Fazenda, a alta das remessas reflete o aumento da lucratividade das empresas instaladas no Brasil.
"Seria bom se uma parcela maior [desses ganhos] fosse reinvestida por aqui, mas, na atual conjuntura, isso é impossível", afirma. Segundo Almeida, setores como o bancário e o automotivo aproveitam a rentabilidade obtida no Brasil para compensar perdas sofridas no exterior, e esse quadro não deve se alterar tão cedo.

Déficit
O lado negativo do aumento das remessas está no seu impacto sobre as contas externas do país. No mês passado, o déficit em transações correntes -que contabiliza a negociação de bens e serviços com outros países- ficou em US$ 2,111 bilhões, o que levou o saldo negativo acumulado no ano para US$ 19,512 bilhões, o maior já registrado nos primeiros sete meses de um ano.
O economista Fabio Kanczuk, professor da USP, diz que os números divulgados ontem não são "nenhuma surpresa" e que a velocidade de crescimento do déficit externo é "assustadora". "É de esperar que um país emergente tenha déficit, mas o ritmo que estamos observando não é sustentável."
Para Kanczuk, no curto prazo a situação não chega a ser preocupante, mas, se o déficit externo continuar crescendo, em 2009 será necessário um ajuste na taxa de câmbio para que o problema seja corrigido.


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