São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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"A gente vive como macaco", diz colhedor

DA REPORTAGEM LOCAL

"A gente é como macaco. Come no galho, porque não pode parar. Se pára, não ganha para a comida do dia seguinte", diz Reginaldo Pinheiro, 28, um dos 160 colhedores da fazenda Fittipaldi que decidiram cruzar os braços, após descobrirem que suas carteiras estavam com contrato irregular.
"Tenho de carregar 70 caixas [de 27 quilos" por dia para tirar R$ 300 por mês. Descontando o aluguel, sobram R$ 180. E, na hora de fazer a compra do mês, fico sabendo que o tempo que trabalhamos na fazenda não vale nada. O dono do mercado disse que o carimbo na carteira dizia que nosso contrato estava rompido. Fomos enganados", diz Pinheiro.
Claudio Aparecido da Silva, 32, conta que a surpresa foi a mesma quando chegou à Caixa Econômica. "Fui tirar o saldo do FGTS, e a gerente me falou que estava com contrato cancelado."
A jornada de trabalho de Pinheiro, Silva e dos colhedores é longa, chega a 12 horas, e o dia começa cedo, às 5h30. Moradores de Boa Esperança do Sul (301 km de SP), viajam de ônibus para a fazenda em Araraquara todos os dias. "A rotina é a mesma. Tem de pisar na espuma de química, mergulhar a água no barril com o produto e ir depressinha para o pé [de laranja"", diz José Aparecido de Oliveira, 26, que trabalha na "Fiti" -como chamam a fazenda.
Os colhedores não sabem ao certo quanto ganham por caixa, nem o que significam os descontos nos contracheques. O exame médico de admissão, conta Márcio Rodrigues, 24, foi feito em uma sala na casa do "turmeiro" -uma espécie de supervisor das turmas de trabalho. "O médico era um dos empreiteiros. Tiraram a pressão e estava tudo certo." Médico mesmo, nunca viram.
"Era bom o trabalho quando o registro era da fazenda. Hoje, com esse condomínio, não tem benefício. Água, comida, tem de trazer tudo de casa", diz Maria Tereza Tuschi, 35, enquanto come uma marmita. (CR e FF)

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