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RECEITA ORTODOXA
Empresários não acreditam em queda na taxa básica de juros, mesmo com elevação do superávit primário
Meta fiscal maior desagrada a setor produtivo
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Os empresários não estão satisfeitos com a discussão dentro do
governo de aumentar a meta de
superávit primário neste ano como alternativa para evitar novas
elevações da taxa de juros. Em encontros fechados, pesos pesados
de diversos setores têm se queixado dessa idéia.
Segundo Josué Gomes da Silva,
presidente da Abit (Associação
Brasileira da Indústria Têxtil) e da
Coteminas e filho do vice-presidente José Alencar, não faz sentido o governo aproveitar o aumento da carga tributária para
elevar a meta do superávit primário e não baixar os juros. "Se for
assim, eu acho que o governo vai
encontrar grande resistência da
sociedade", afirmou.
Gomes da Silva acha até que a
sociedade estaria disposta a
apoiar um aumento da meta de
superávit primário, caso houvesse
uma queda dos juros. "A sociedade aplaudiria", diz o empresário.
Num encontro recente com empresários em São Paulo, pouco
antes da última reunião do Copom, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse que estava
em negociações com a Fazenda
uma idéia de aumento do aperto
fiscal, que hoje equivale a 4,25%
do PIB (Produto Interno Bruto).
A elevação da meta fiscal é uma
alternativa para impedir que a taxa básica de juros (16,25% ao ano)
suba muito e prejudique a retomada do crescimento econômico.
Isso porque a redução de gastos
públicos, assim como a alta de juros, contribui para frear a atividade econômica e, assim, a inflação.
Os empresários ficaram animados com a possibilidade, mas o
próprio Dirceu jogou uma ducha
de água fria ao dizer que tudo levava a crer que o BC iria aumentar
os juros, apesar do aperto na política fiscal. O desânimo foi geral.
No governo, a proposta está
concentrada na Fazenda. Não
houve, ainda, uma reunião formal
da câmara de política econômica
ou mesmo da coordenação do governo para debater a idéia. Há
também fortes resistências de ministros à proposta.
Os empresários argumentam
que, no início do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não haveria aumento da
carga tributária, apesar do aumento da Cofins. "O mínimo que
se espera é que o governo mantenha a promessa de devolver esse
aumento da carga tributária", diz
Claudio Vaz, presidente eleito da
Ciesp (Centro das Indústrias do
Estado de São Paulo).
Para Vaz, "a política de aumento de juros e de elevação do superávit primário é a melhor receita
para abortar esse início de recuperação do mercado interno".
O economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor do Iedi
(Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), confirma que tem ouvido uma série
de queixas à proposta. "Isso está
sendo visto como mais uma esperteza do mercado financeiro
em cima do dinheiro do setor
produtivo", diz.
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