São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Empresários não acreditam em queda na taxa básica de juros, mesmo com elevação do superávit primário

Meta fiscal maior desagrada a setor produtivo

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Os empresários não estão satisfeitos com a discussão dentro do governo de aumentar a meta de superávit primário neste ano como alternativa para evitar novas elevações da taxa de juros. Em encontros fechados, pesos pesados de diversos setores têm se queixado dessa idéia.
Segundo Josué Gomes da Silva, presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) e da Coteminas e filho do vice-presidente José Alencar, não faz sentido o governo aproveitar o aumento da carga tributária para elevar a meta do superávit primário e não baixar os juros. "Se for assim, eu acho que o governo vai encontrar grande resistência da sociedade", afirmou.
Gomes da Silva acha até que a sociedade estaria disposta a apoiar um aumento da meta de superávit primário, caso houvesse uma queda dos juros. "A sociedade aplaudiria", diz o empresário.
Num encontro recente com empresários em São Paulo, pouco antes da última reunião do Copom, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse que estava em negociações com a Fazenda uma idéia de aumento do aperto fiscal, que hoje equivale a 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto).
A elevação da meta fiscal é uma alternativa para impedir que a taxa básica de juros (16,25% ao ano) suba muito e prejudique a retomada do crescimento econômico.
Isso porque a redução de gastos públicos, assim como a alta de juros, contribui para frear a atividade econômica e, assim, a inflação.
Os empresários ficaram animados com a possibilidade, mas o próprio Dirceu jogou uma ducha de água fria ao dizer que tudo levava a crer que o BC iria aumentar os juros, apesar do aperto na política fiscal. O desânimo foi geral.
No governo, a proposta está concentrada na Fazenda. Não houve, ainda, uma reunião formal da câmara de política econômica ou mesmo da coordenação do governo para debater a idéia. Há também fortes resistências de ministros à proposta.
Os empresários argumentam que, no início do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não haveria aumento da carga tributária, apesar do aumento da Cofins. "O mínimo que se espera é que o governo mantenha a promessa de devolver esse aumento da carga tributária", diz Claudio Vaz, presidente eleito da Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
Para Vaz, "a política de aumento de juros e de elevação do superávit primário é a melhor receita para abortar esse início de recuperação do mercado interno".
O economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), confirma que tem ouvido uma série de queixas à proposta. "Isso está sendo visto como mais uma esperteza do mercado financeiro em cima do dinheiro do setor produtivo", diz.


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