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INVESTIGAÇÃO
Grupo é acusado de violar regras do BC e admitir brasileiros em fundo de investimento registrado em paraíso fiscal
Opportunity enfrenta julgamento na CVM
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A diretoria da CVM (Comissão
de Valores Mobiliários) julgará,
amanhã, o processo administrativo contra o grupo Opportunity,
acusado de burlar regras do Banco Central ao admitir brasileiros
no fundo de investimento estrangeiro Opportunity Fund, sediado
nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal
do Caribe. Estão indiciados os
bancos Opportunity e ABN Amro
(na condição de custodiante do
fundo), e três executivos das duas
instituições: Verônica Dantas e
Dório Ferman, do Opportunity, e
Carmine Gesu Rago, do ABN
Amro. O julgamento está marcado para as 10h30, na sede da
CVM, no centro do Rio.
O processo contra o Opportunity tornou-se um dos mais rumorosos da CVM. Dois dos cinco
diretores da casa -Norma Parente e Luiz Antônio Campos-
não participarão do julgamento.
Eles se declararam impedidos por
terem advogado em causas do interesse do Opportunity antes de
assumirem suas funções na CVM.
O processo contra o Opportunity nasceu a partir de informações prestadas pelo empresário
Luiz Roberto Demarco, quatro
anos atrás. Ex-sócio de Daniel
Dantas no Opportunity e seu
atual desafeto (os dois travam batalha judicial em Cayman), Demarco acusou o Opportunity de
admitir brasileiros em aplicações
criadas para residentes no exterior, isentas de Imposto de Renda.
Demarco informou à CVM que
havia investido US$ 500 mil em
vários subfundos do Opportunity
Fund, de Cayman, mas, segundo
ele, dentro das condições estabelecidas para os residentes no Brasil, com pagamento de imposto.
Ele entregou à comissão cópias de
faxes, e-mails e as planilhas de
suas aplicações feitas em fundos
administrados pelo Opportunity
no Brasil e em Cayman.
Em abril de 2001, a revista ""Carta Capital" publicou que haveria
aplicação ilegal de brasileiros e de
estrangeiros residentes no país
nos fundos do Opportunity em
Cayman, e a CVM decidiu abrir
um inquérito. Mais de 50 pessoas
foram ouvidas, entre elas, Daniel
Dantas, fundador do Opportunity, e o ex-presidente do BNDES
Pérsio Arida, que foi diretor do
Opportunity de 1996 a 1999, período investigado pela CVM. Os
dois não foram indiciados.
O inquérito chegou ao final sem
confirmar a existência de residentes no Brasil entre os investidores
do Opportunity Fund estrangeiro. A CVM solicitou às autoridades monetárias de Cayman que
apontassem os brasileiros existentes no fundo, mas não foi atendida. A única informação que obteve foi a de que o fundo foi administrado pelo ABN Amro Trust
Company até julho de 2000 e que
partir daí a administração passou
para o UBS.
O caso esquentou em julho de
2002, com a divulgação, na internet, de uma lista de supostos ex-investidores brasileiros no Opportunity Fund. O Ministério Público Federal determinou que a
CVM ouvisse 35 pessoas da lista.Todas negaram ter aplicado no
fundo estrangeiro.
Indiciamento
Embora não tenha comprovado
a presença de brasileiros nos fundos restritos a estrangeiros, o inquérito apontou irregularidades
no comportamento dos dois bancos. O ABN foi indiciado, entre
outros motivos, por suposta negligência na supervisão do cumprimento do regulamento do Opportunity Fund. O Opportunity
foi indiciado por orientar seus
funcionários a oferecer o serviço a
brasileiros, entre outras razões.
O Opportunity propôs à CVM
trocar o indiciamento pela confecção de CD-ROM e livro com as
decisões do colegiado e os pareceres jurídicos já emitidos pela comissão. O pedido foi recusado.
No final de agosto, o procurador da República Luiz Francisco
de Souza enviou ofício à CVM sobre possíveis remessas ilegais de
dinheiro pelo exterior identificadas pela CPI do Banestado para o
Opportunity Fund. De acordo o
CVM, o fato não alterou a data de
julgamento.
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