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Mercado irracional demanda diversificação
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem análise técnica nem
avaliação de fundamentos. Para uma corrente de especialistas, são as emoções, e não a razão, que determinam o comportamento do mercado financeiro. Essa tese pode explicar o
movimento da Bovespa na semana passada: queda de 7,59%
na segunda-feira, alta de 1,68%
na terça, baixa de 6,7% na quarta, elevação de 5,48% na quinta
e de 9,57% na sexta sem que
houvesse mudança notável na
economia do país ou nas perspectivas para as suas empresas.
"Diante de uma situação de
perigo, o instinto manda bater
ou fugir. Quando há muitas
más notícias, os indivíduos reagem exageradamente, prestam
atenção apenas ao que os está
assustando e não pensam com
calma na situação. Saem correndo", afirma Hersh Shefrin,
professor da Universidade Santa Clara, nos EUA, e autor de
"Beyond Greed and Fear: Understanding Behavioral Finance and the Psychology of Investing" (em tradução livre, além
da ganância e do medo: entendendo as finanças comportamentais e a psicologia do investimento). "Ainda funcionamos
como os nossos ancestrais
-com a diferença de que vivemos em um mundo mais complexo. Por isso, precisamos ter
cuidado com a forma como respondemos aos acontecimentos, para não nos deixar levar
pela insensatez."
Isso vale também para as fases de prosperidade. Na opinião de Shefrin, a esperança de
que os ventos continuem favoráveis dita as decisões de compra de ações. "Ambição exacerbada são poucos que têm; esperança de juntar um bom dinheiro para realizar os objetivos de viajar, comprar uma casa
de veraneio ou estudar todos
têm. Os desejos que estão por
trás da poupança determinam
o grau de ousadia adotado e o
tanto de risco a correr."
À fé se junta o otimismo desmedido de acreditar que realmente todos os eventos futuros
serão positivos, resultando no
que se chama "exuberância irracional", a qual provoca as ondas de euforia nas Bolsas de Valores. "Além de querer que coisas boas ocorram, os investidores crêem ser bastante provável
que vão ocorrer. E aí simplesmente fecham os olhos para
qualquer informação que vá
contra o pensamento adotado.
Se acham que o papel escolhido
é sensacional e vai lhes trazer
ganhos abundantes, não adianta apontar erros no balanço da
empresa ou comentar que o setor está declinando -eles não
acreditam", diz o matemático
John Allen Paulos, professor da
Universidade Temple.
No seu livro "A Lógica do
Mercado de Ações", ele descreve como se deixou seduzir pelas
ações da empresa de telecomunicações WordCom. "Depois
de comprar mais papéis, várias
vezes me surpreendi pensando:
por que não comprar mais?
Não me considero um jogador,
porém resolvi não refletir, determinei-me simplesmente a
agir. Quase sempre pragmático,
eu estava sendo dominado por
uma paixão desastrosa", relata.
Tendo engolido muitos prejuízos depois que a companhia
quebrou, Paulos finalmente
entendeu como aplicar no mercado financeiro sem se deixar
levar pela irracionalidade. "O
melhor é diversificar ao máximo, de preferência escolhendo
um fundo de investimentos ligado ao principal índice da Bolsa [no Brasil, é o Ibovespa] e barato, ou seja, que cobre taxas de
administração pequenas", sugere. "Se você concentra as
apostas em um segmento, como o bancário ou o de energia,
quando algo dá errado corre o
risco de perder a camisa e as
calças."
Essa é a mesma recomendação de Shefrin. O economista
acrescenta que, se houver um
gosto pessoal em "brincar" de
escolher papéis, pode ser uma
boa idéia reservar apenas uma
pequena parte dos recursos para para "satisfazer a vontade",
distinguindo claramente o que
é "diversão" das economias da
família, que ser planejadas com
vistas no longo prazo.
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