São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2008

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Mercado irracional demanda diversificação

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem análise técnica nem avaliação de fundamentos. Para uma corrente de especialistas, são as emoções, e não a razão, que determinam o comportamento do mercado financeiro. Essa tese pode explicar o movimento da Bovespa na semana passada: queda de 7,59% na segunda-feira, alta de 1,68% na terça, baixa de 6,7% na quarta, elevação de 5,48% na quinta e de 9,57% na sexta sem que houvesse mudança notável na economia do país ou nas perspectivas para as suas empresas.
"Diante de uma situação de perigo, o instinto manda bater ou fugir. Quando há muitas más notícias, os indivíduos reagem exageradamente, prestam atenção apenas ao que os está assustando e não pensam com calma na situação. Saem correndo", afirma Hersh Shefrin, professor da Universidade Santa Clara, nos EUA, e autor de "Beyond Greed and Fear: Understanding Behavioral Finance and the Psychology of Investing" (em tradução livre, além da ganância e do medo: entendendo as finanças comportamentais e a psicologia do investimento). "Ainda funcionamos como os nossos ancestrais -com a diferença de que vivemos em um mundo mais complexo. Por isso, precisamos ter cuidado com a forma como respondemos aos acontecimentos, para não nos deixar levar pela insensatez."
Isso vale também para as fases de prosperidade. Na opinião de Shefrin, a esperança de que os ventos continuem favoráveis dita as decisões de compra de ações. "Ambição exacerbada são poucos que têm; esperança de juntar um bom dinheiro para realizar os objetivos de viajar, comprar uma casa de veraneio ou estudar todos têm. Os desejos que estão por trás da poupança determinam o grau de ousadia adotado e o tanto de risco a correr."
À fé se junta o otimismo desmedido de acreditar que realmente todos os eventos futuros serão positivos, resultando no que se chama "exuberância irracional", a qual provoca as ondas de euforia nas Bolsas de Valores. "Além de querer que coisas boas ocorram, os investidores crêem ser bastante provável que vão ocorrer. E aí simplesmente fecham os olhos para qualquer informação que vá contra o pensamento adotado. Se acham que o papel escolhido é sensacional e vai lhes trazer ganhos abundantes, não adianta apontar erros no balanço da empresa ou comentar que o setor está declinando -eles não acreditam", diz o matemático John Allen Paulos, professor da Universidade Temple.
No seu livro "A Lógica do Mercado de Ações", ele descreve como se deixou seduzir pelas ações da empresa de telecomunicações WordCom. "Depois de comprar mais papéis, várias vezes me surpreendi pensando: por que não comprar mais? Não me considero um jogador, porém resolvi não refletir, determinei-me simplesmente a agir. Quase sempre pragmático, eu estava sendo dominado por uma paixão desastrosa", relata.
Tendo engolido muitos prejuízos depois que a companhia quebrou, Paulos finalmente entendeu como aplicar no mercado financeiro sem se deixar levar pela irracionalidade. "O melhor é diversificar ao máximo, de preferência escolhendo um fundo de investimentos ligado ao principal índice da Bolsa [no Brasil, é o Ibovespa] e barato, ou seja, que cobre taxas de administração pequenas", sugere. "Se você concentra as apostas em um segmento, como o bancário ou o de energia, quando algo dá errado corre o risco de perder a camisa e as calças."
Essa é a mesma recomendação de Shefrin. O economista acrescenta que, se houver um gosto pessoal em "brincar" de escolher papéis, pode ser uma boa idéia reservar apenas uma pequena parte dos recursos para para "satisfazer a vontade", distinguindo claramente o que é "diversão" das economias da família, que ser planejadas com vistas no longo prazo.


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