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Classe AB foi a que mais cresceu sob Lula, diz FGV
Faixa de brasileiros com renda familiar acima de R$ 4.807 aumentou 37% de 2003 a 2008
Classe C, a mais numerosa e que responde por quase metade da população, teve expansão de 31,1% no governo Lula, diz estudo
DA SUCURSAL DO RIO
A classe AB, com renda familiar a partir de R$ 4.807, foi a
que mais cresceu proporcionalmente no governo Lula, de
acordo com dados divulgados
ontem pelo economista Marcelo Neri, pesquisador do Centro
de Políticas Sociais da FGV
(Fundação Getulio Vargas).
Usando dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), ele aponta que a
faixa mais rica teve crescimento real de 37,1% no número de
integrantes entre 2003 e 2008.
No último ano, a alta foi de 7%.
A classe mais numerosa, no
entanto, é a C, que no ano passado concentrou quase metade
da população (49,2%), apesar
de ter crescido menos (4,9%).
No governo Lula, a classe C aumentou 31,1%.
Neri aponta que houve redução na desigualdade no país. De
acordo com cálculos do economista, a renda do trabalho foi
responsável por 66,8% dessa
queda, entre 2001 e 2008. O
Bolsa Família, principal programa social do governo federal, contribuiu com 17% para a
melhoria no índice Gini, usado
para medir a desigualdade.
A pesquisa usa como base dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios)
divulgada na semana passada.
Segundo os cálculos do economista, 3,8 milhões de pessoas saíram da classe E, abaixo
da linha da pobreza (renda familiar de até R$ 768). No entanto, ainda havia 29,9 milhões
nessa condição em 2008. Eram
49,3 milhões em 2003.
Migração
O número de brasileiros na
classe AB subiu de 13,3 milhões
para 19,4 milhões -o crescimento nominal foi de 45%,
mas, descontado a expansão da
população, foi de 37,1%. Para
Neri, o crescimento econômico
provocou migração das duas
faixas de renda mais baixas (D e
E) para as de cima.
Na avaliação da economista
Sônia Rocha, a melhora na escolaridade do trabalhador começou a ter impacto na remuneração, o que não ocorreu, segundo ela, no início da década.
Para ela, o aumento na demanda por mão de obra qualificada
valorizou as pessoas com mais
tempo de escola.
Para Neri, a crise econômica,
a partir de setembro de 2008
(com efeitos que não foram
captados pela última Pnad), foi
uma "parada súbita" na melhoria dos indicadores de renda.
Para ele, o país apresentará índices semelhantes aos da Pnad
de 2008 na próxima pesquisa.
"É um bom resultado esse
empate dos indicadores? É, em
relação aos indicadores internacionais. Mas não em relação
ao passado. A má notícia é que
isso é uma parada súbita."
Ele criticou a intenção do governo de reajustar as aposentadorias com valores acima do salário mínimo. Conforme dados
apresentados, esse benefício
tem peso maior nas faixas de
renda superiores. Na AB, as
pensões acima do mínimo representam 18,9% da renda. Na
E e na D, são 1,2% e 4,4%, respectivamente. Para Neri, a medida pode ser um retrocesso na
queda da desigualdade.
"Defendo mais reajustes
transitórios ao Bolsa Família
do que definitivos ao salário
mínimo e, muito menos, ganhos de pensões acima do salário mínimo, que não beneficiam nem a classe média brasileira [...] Nossa capacidade de
chegar ao piso mínimo de desigualdade certamente é atrapalhada por decisões públicas."
As pesquisas do IBGE não
captam a renda proveniente da
valorização de propriedade, de
investimentos financeiros ou
de ações. Mas, para Neri, essa
ausência não altera o resultado
da queda da desigualdade. Afirmou que essa queda se reflete
na posse de bens duráveis, que,
para ele, é indicativo do potencial de consumo do brasileiro.
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