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São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2003

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LUÍS NASSIF

As políticas pró-ativas

A discussão sobre política de comércio exterior reflete alguns dos dilemas da economia brasileira. Com a globalização, os ganhos de escala globais, economias bem-sucedidas foram aquelas que definiram suas respectivas áreas de competência -caso dos tigres asiáticos e do Japão.
Em relação ao Brasil, há um dilema. De um lado, os que sustentam que a economia brasileira é muito diversificada para que se definam setores prioritários. Na condição de economia continental, o país deveria avançar em todos os setores, e o mercado definiria os vitoriosos.
Na outra ponta, há os que defendem a idéia de que, dada a falta crônica de recursos no país, há que definir, sim, os setores que apresentem vantagens competitivas e organizar os esforços nacionais em torno deles.
Não é uma discussão fácil. O caminho da especialização é inevitável. De continental o Brasil tem apenas a superfície e a população -não necessariamente mercado de consumo e recursos físicos. E já se atrasou muito na definição de vocações. A cada dia que passa o mundo fica menor para quem demorar a entrar e definir seu espaço.
O grande empecilho é a falta de fóruns adequados para a definição desses setores. Em ambiente democrático, o planejamento está submetido à pressão legítima de lobbies. Só que é necessário desenhar o futuro, mas a força política está com o presente -muitas vezes, com o passado. Ou seja, as forças da modernização, as novas áreas tecnológicas, os novos setores de competência são meros embriões, que exigirão muito trabalho para florescer.
E aí assomam os problemas de um país que não conseguiu ainda criar canais específicos de formulação de políticas estratégicas. Não existe ainda uma inteligência nacional. A discussão ainda é muito contaminada por posições ideológicas apriorísticas e pouca objetividade. São promissores os ensaios de pacto em torno do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Mas ainda faltam estratégias permanentes de consolidação de novos modelos, a exemplo do que a Marinha fez com o enriquecimento de urânio -um feito tecnológico dos mais expressivos, conduzido com pertinácia e com escassez de recursos, mas com rumo definido.
Com ou sem políticas industriais, há um conjunto de princípios que deveriam ser consagrados de imediato. Como, por exemplo, a exigência de contrapartidas para investimentos externos, na forma de transferência de tecnologia, compromissos de exportação, percentuais de compra de fornecedores nacionais.
Em relação às multinacionais instaladas no país, deveria haver uma política pró-ativa do governo, para aumentar as exportações dos produtos da filial no escopo das políticas globais da matriz. Ou, no caso das grandes redes internacionais de supermercados, indução ao aumento de compra de fornecedores brasileiros.
Em suma, o país ainda não dispõe de condições de definir políticas setoriais. O caminho consiste em criar as condições, e não em supor que será possível conquistar espaço na globalização deixando tudo ao sabor dos ventos.

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