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LUÍS NASSIF
As políticas pró-ativas
A discussão sobre política de comércio exterior
reflete alguns dos dilemas da
economia brasileira. Com a
globalização, os ganhos de escala globais, economias bem-sucedidas foram aquelas que
definiram suas respectivas
áreas de competência -caso
dos tigres asiáticos e do Japão.
Em relação ao Brasil, há um
dilema. De um lado, os que
sustentam que a economia
brasileira é muito diversificada para que se definam setores
prioritários. Na condição de
economia continental, o país
deveria avançar em todos os
setores, e o mercado definiria
os vitoriosos.
Na outra ponta, há os que
defendem a idéia de que, dada
a falta crônica de recursos no
país, há que definir, sim, os setores que apresentem vantagens competitivas e organizar
os esforços nacionais em torno
deles.
Não é uma discussão fácil. O
caminho da especialização é
inevitável. De continental o
Brasil tem apenas a superfície
e a população -não necessariamente mercado de consumo e recursos físicos. E já se
atrasou muito na definição de
vocações. A cada dia que passa o mundo fica menor para
quem demorar a entrar e definir seu espaço.
O grande empecilho é a falta
de fóruns adequados para a
definição desses setores. Em
ambiente democrático, o planejamento está submetido à
pressão legítima de lobbies. Só
que é necessário desenhar o
futuro, mas a força política está com o presente -muitas
vezes, com o passado. Ou seja,
as forças da modernização, as
novas áreas tecnológicas, os
novos setores de competência
são meros embriões, que exigirão muito trabalho para florescer.
E aí assomam os problemas
de um país que não conseguiu
ainda criar canais específicos
de formulação de políticas estratégicas. Não existe ainda
uma inteligência nacional. A
discussão ainda é muito contaminada por posições ideológicas apriorísticas e pouca objetividade. São promissores os
ensaios de pacto em torno do
Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social. Mas ainda faltam estratégias permanentes de consolidação de novos modelos, a exemplo do que
a Marinha fez com o enriquecimento de urânio -um feito
tecnológico dos mais expressivos, conduzido com pertinácia
e com escassez de recursos,
mas com rumo definido.
Com ou sem políticas industriais, há um conjunto de princípios que deveriam ser consagrados de imediato. Como,
por exemplo, a exigência de
contrapartidas para investimentos externos, na forma de
transferência de tecnologia,
compromissos de exportação,
percentuais de compra de fornecedores nacionais.
Em relação às multinacionais instaladas no país, deveria haver uma política pró-ativa do governo, para aumentar
as exportações dos produtos
da filial no escopo das políticas globais da matriz. Ou, no
caso das grandes redes internacionais de supermercados,
indução ao aumento de compra de fornecedores brasileiros.
Em suma, o país ainda não
dispõe de condições de definir
políticas setoriais. O caminho
consiste em criar as condições,
e não em supor que será possível conquistar espaço na globalização deixando tudo ao
sabor dos ventos.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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