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Despesa do governo cresce quase 3 vezes o PIB
Economia se expandiu 42,8% em 18 anos; gastos não-financeiros da União, 112,5%
Alternativa mais viável seria
congelar contratações e
aumentos reais; governo
Lula foi na contramão do que
especialistas recomendam
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto o PIB brasileiro
cresceu 42,8% nos últimos 18
anos, os gastos não-financeiros
da União aumentaram 112,5%.
As despesas com pessoal, os
gastos previdenciários e, mais
recentemente, os benefícios assistenciais foram os principais
responsáveis pelo descontrole.
Para cortar esses e outros
gastos, que representam cerca
de 89% do total, seriam necessárias mudanças legais (inclusive constitucionais) politicamente polêmicas.
A alternativa mais viável seria um congelamento de novas
contratações de funcionários e
o fim dos aumentos reais (superiores à inflação) a salários e
benefícios previdenciários
atrelados ao salário mínimo.
Assim, mesmo que o PIB
continue a crescer magros 3%
ao ano, com o tempo a despesa
cairia proporcionalmente.
O governo Lula, porém, vem
fazendo justamente o contrário. Nos últimos três anos, o
presidente autorizou um aumento de 25% reais (acima da
inflação) para o salário mínimo
e acrescentou mais 23 mil servidores à folha de pagamento
da União em seus três primeiros anos de mandato.
No regime geral da Previdência, cerca de um terço do gasto
se dá com pagamentos de benefícios iguais a um salário mínimo a pessoas que quase nunca
contribuíram com o sistema.
Segundo cálculos do economista Raul Velloso, entre 1999
e 2005, esse gasto aumentou
R$ 10 bilhões/ano.
Se esticarmos o período para
mais um ano (2006), o aumento passa para R$ 17 bilhões somente por conta do aumento
real de 13,4% para o mínimo
autorizado por Lula neste ano.
No campo do funcionalismo,
embora tenham acelerado nos
últimos anos, os aumentos de
gastos no Poder Executivo têm
sido proporcionalmente até
menores aos de outras áreas
com independência para aumentar pessoal e salários.
Na média, houve um aumento de 20% no gasto com funcionários nos últimos dez anos. No
Executivo, a alta foi de 12%. No
Legislativo, de 63%, e no Judiciário, de 133%.
Guilherme Loureiro, economista da Tendências, afirma
que, além do "engessamento"
no perfil do gasto (onde 89% é
"imexível"), esse aumento contínuo restringe a cada ano a
margem para economia.
O economista Fábio Giambiagi, do Ipea, afirma que um
conjunto de quatro pontos básicos poderia conter os gastos
sem a necessidade de um ajuste
draconiano:
1) fixar um teto para o crescimento das despesas de pessoal
dos Três Poderes;
2) mudar a atual emenda
constitucional que obriga a um
aumento proporcional ao do
PIB nos gastos com Saúde;
3) adoção de um teto declinante como proporção do PIB
para as despesas do governo;
4) aumento gradual dos
atuais 20% para 35% dos valores abrangidos pela DRU (Desvinculação das Receitas da
União) para permitir mais flexibilidade orçamentária.
Discussão nesse sentido chegou a ser feita no Ministério do
Planejamento em 2005, mas
acabou abafada pela posição da
ministra Dilma Rousseff (Casa
Civil). Ela qualificou como "rudimentar" proposta para reduzir fortemente as despesas.
Mais recentemente, o ministro Guido Mantega (Fazenda)
afirmou que, em um eventual
segundo mandato, o governo
Lula pretende aplicar um redutor nas despesas públicas.
A Folha questionou a assessoria da campanha de Lula sobre a estratégia nessa área, mas
não obteve resposta.
Já a coordenação do programa de Geraldo Alckmin
(PSDB) informou que a estratégia para os maiores gastos
(funcionalismo, Previdência e
Saúde) "é a mesma de todos os
outros gastos: qualidade total
na gestão das coisas e contas
públicas". Os tucanos prometem cortar ministérios e extinguir novos cargos criados no
governo Lula.
(FERNANDO CANZIAN)
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