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Argentina propõe estatizar o sistema de previdência
Projeto de lei de Cristina Kirchner foi enviado ao Congresso, a quem caberá decidir
Proposta prevê eliminação do atual sistema privado e a transferência dos fundos para um novo sistema
único estatal e obrigatório
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
O governo argentino enviou
ontem ao Congresso um projeto de lei que prevê a eliminação
do atual sistema de previdência
privada e a transferência de
seus fundos e futuras contribuições para um novo sistema
único estatal e obrigatório.
A reforma, principal medida
do governo até agora para conter os efeitos da crise internacional, pretende "resgatar" os
aposentados e afiliados aos
fundos de pensão privada que,
com a maioria de seu dinheiro
investido em bônus e ações, tiveram perdas de cerca de 20%
recentemente, devido à instabilidade dos mercados.
Além disso, a medida também garante fundos e uma arrecadação extra ao governo para o próximo ano, diante da crise e de compromissos com vencimentos da dívida. Com a
transferência, o governo absorverá cerca de US$ 30 bilhões
dos fundos de pensão e arrecadará aproximadamente outros
US$ 5 bilhões anuais.
Atualmente, o sistema misto
de previdência na Argentina
conta com 9,5 milhões de afiliados aos fundos privados.
Durante o anúncio, a presidente argentina, Cristina
Kirchner, afirmou que a reforma é "uma decisão estratégica
dentro do atual cenário internacional" e negou que a intenção do governo seja "fazer caixa". "A única motivação é resgatar da incerteza nossos futuros aposentados e os que hoje
estão no regime de capitalização", disse Cristina.
"Enquanto outros países decidiram salvar bancos e instituições financeiras, o governo
argentino decidiu salvar seus
trabalhadores", reforçou o presidente da Anses (o INSS argentino), Amado Boudou.
Bolsa cai
O anúncio provocou queda
de 11% na Bolsa de Comércio de
Buenos Aires, que chegou ao
menor índice em quatro anos.
A queda chegou a picos de
14%, mas as ações voltaram a
subir depois que a Justiça
anunciou que os fundos de pensão não poderão operar nos
mercados nos próximos sete
dias, devido à suspeita de que
estariam liquidando bônus e
ações às vésperas da estatização de seus recursos.
Segundo o novo regime, os
argentinos poderão continuar
contribuindo voluntariamente
aos fundos privados, para garantir uma pensão complementar, em um sistema similar
ao brasileiro.
Críticas da oposição
Para entrar em vigor, no entanto, a medida precisa ser
aprovada pelo Congresso, e a
oposição já promete trazer problemas ao governo.
Para a líder da frente de oposição Coalizão Cívica, Elisa
Carrió, o novo sistema "não visa melhorar o sistema de aposentadorias, mas saquear os
fundos dos aposentados para
fazer caixa".
Os fundos de pensão privados foram criados na Argentina
em 1994. No sistema misto,
quem não optasse entre a previdência estatal ou a privada, ia
automaticamente para o sistema privado. Uma reforma feita
pelo ex-presidente Néstor
Kirchner (2003-2007) permitiu que os contribuintes do setor privado pudessem voltar a
escolher o sistema público.
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