São Paulo, quinta-feira, 22 de outubro de 2009

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Para analistas, foco de debate agora é o "spread", não a Selic

Queda de 5 pontos percentuais nos juros básicos neste ano não chegou ao crédito

Economistas também criticam a indicação do Banco Central de que pode haver novas altas da Selic dentro dos próximos meses

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A aparente solidez da retomada da economia brasileira depois da crise internacional e a ausência de ameaças inflacionárias no horizonte fazem com que a ideia da manutenção da taxa básica de juros da economia brasileira em 8,75% ao ano seja razoavelmente aceita pela maioria dos especialistas.
Nesse cenário de relativa estabilidade, ressaltam, mais importante é discutir por que a redução da Selic neste ano -são cinco pontos percentuais desde janeiro- não tem alcançado os consumidores e as empresas, que continuam pagando caro pelo crédito.
Segundo levantamento realizado pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), do início de 2009 até setembro a taxa de juros média para pessoa jurídica recuou de 4,44% ao ano para 3,89%, uma diminuição de 0,55 ponto percentual apenas. A taxa média para pessoa física passou de 7,57% ao ano para 7,01% no mesmo período, o que significa uma baixa de 0,56 ponto percentual.
"O governo precisa reforçar os seus esforços para encurtar o "spread" bancário", afirma Fernando Sarti, professor da Unicamp. "Spread" é a diferença entra a taxa à qual as instituições captam recursos e a que aplicam nos financiamentos concedidos a seus clientes. "Esse é um problema central para que a economia do país sustente a recuperação, e não existem motivos que justifiquem um abismo tão grande como o que vemos hoje. A inadimplência, apontada como uma das explicações, está comportada."
Para Ricardo Carneiro, também professor da Unicamp, "o Banco Central ajudaria muito mais a economia do país neste momento sinalizando que não pretende voltar a aumentar os juros tão cedo do que cortando a Selic". "Quando a autoridade monetária menciona a velocidade de crescimento da demanda, o mercado entende que haverá uma elevação lá na frente", afirma.
São dois os efeitos negativos de tal atitude: impede que as instituições financeiras cortem as taxas cobradas dos clientes com mais convicção e desanima os empresários que estão pensando em fazer investimentos. E é da velocidade de ampliação da capacidade produtiva brasileira que depende a evolução futura da inflação.
Na opinião de Luiz Carlos Mendonça de Barros, economista-chefe da Quest Investimentos, os riscos devem subir no fim do primeiro semestre de 2010. "Hoje a inflação está muito controlada, mas, daqui a alguns meses, começará a haver pressões advindas do mercado de trabalho", diz.
Depois de demitirem bastante no momento mais crítico da crise, as empresas voltam aos poucos a contratar e, quando o patamar de emprego estiver alto, o consumo tende a crescer com força também.


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