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Para analistas, foco de debate agora é o "spread", não a Selic
Queda de 5 pontos percentuais nos juros básicos neste ano não chegou ao crédito
Economistas também criticam a indicação do Banco Central de que pode haver novas altas da Selic dentro dos próximos meses
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
A aparente solidez da retomada da economia brasileira
depois da crise internacional e
a ausência de ameaças inflacionárias no horizonte fazem com
que a ideia da manutenção da
taxa básica de juros da economia brasileira em 8,75% ao ano
seja razoavelmente aceita pela
maioria dos especialistas.
Nesse cenário de relativa estabilidade, ressaltam, mais importante é discutir por que a redução da Selic neste ano -são
cinco pontos percentuais desde
janeiro- não tem alcançado os
consumidores e as empresas,
que continuam pagando caro
pelo crédito.
Segundo levantamento realizado pela Anefac (Associação
Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), do início de 2009
até setembro a taxa de juros
média para pessoa jurídica recuou de 4,44% ao ano para
3,89%, uma diminuição de 0,55
ponto percentual apenas. A taxa média para pessoa física passou de 7,57% ao ano para 7,01%
no mesmo período, o que significa uma baixa de 0,56 ponto
percentual.
"O governo precisa reforçar
os seus esforços para encurtar o
"spread" bancário", afirma Fernando Sarti, professor da Unicamp. "Spread" é a diferença
entra a taxa à qual as instituições captam recursos e a que
aplicam nos financiamentos
concedidos a seus clientes. "Esse é um problema central para
que a economia do país sustente a recuperação, e não existem
motivos que justifiquem um
abismo tão grande como o que
vemos hoje. A inadimplência,
apontada como uma das explicações, está comportada."
Para Ricardo Carneiro, também professor da Unicamp, "o
Banco Central ajudaria muito
mais a economia do país neste
momento sinalizando que não
pretende voltar a aumentar os
juros tão cedo do que cortando
a Selic". "Quando a autoridade
monetária menciona a velocidade de crescimento da demanda, o mercado entende que
haverá uma elevação lá na frente", afirma.
São dois os efeitos negativos
de tal atitude: impede que as
instituições financeiras cortem
as taxas cobradas dos clientes
com mais convicção e desanima os empresários que estão
pensando em fazer investimentos. E é da velocidade de
ampliação da capacidade produtiva brasileira que depende a
evolução futura da inflação.
Na opinião de Luiz Carlos
Mendonça de Barros, economista-chefe da Quest Investimentos, os riscos devem subir
no fim do primeiro semestre de
2010. "Hoje a inflação está muito controlada, mas, daqui a alguns meses, começará a haver
pressões advindas do mercado
de trabalho", diz.
Depois de demitirem bastante no momento mais crítico da
crise, as empresas voltam aos
poucos a contratar e, quando o
patamar de emprego estiver alto, o consumo tende a crescer
com força também.
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