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VINICIUS TORRES FREIRE
Lula e os fundos privados
Grandes empresas querem isenção de imposto para levar fundos de pensão a investir em obras de infra-estrutura
NAS MEDIDAS da "nova política
econômica" do governo Lula
consta uma ainda nebulosa
isenção de impostos para fundos
que invistam em infra-estrutura.
Trata-se de uma proposta da Associação Brasileira da Infra-Estrutura
e Indústrias de Base, a Abdib, entregue ao governo faz dois anos. A Abdib não é uma entidade filantrópica,
mas uma associação de megaempresas, públicas e privadas. Dois terços
de seus 39 presidentes e vice-presidentes representam empreiteiras,
empresas de logística e de energia.
O plano da Abdib pode ser uma
idéia muito boa, mas pouco se sabe
dos seus detalhes, na barafunda em
que anda a equipe econômica, atarantada depois que Lula pediu a
Noel um crescimento de 5%. O plano da Abdib, que já teria sido "adotado" pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, talvez não vai precisar
de exorcismo caso o governo apareça com os detalhes, onde o diabo por
vezes se esconde.
A Abdib diz que, em quatro anos,
seu projeto pode levar até R$ 75 bilhões para a infra-estrutura, investidos por meio desses fundos, os FIPs.
FIPs são Fundos de Investimento e
Participações, regulamentados em
2003. Por ora, têm patrimônio líquido total de R$ 5 bilhões, uma ninharia perto do negócio de fundos e das
necessidades da infra-estrutura.
Nos FIPs, bancos de investimento
e firmas de gestão de dinheiro grosso juntam fundos de pensão, na
maioria, e outros investidores institucionais e de muita bala na agulha a
fim de aplicar e, em tese, influir na
gestão estratégica de empresas
abertas ou fechadas, um investimento de longo prazo -trata-se dos
fundos "private equity" brasileiros.
A Abbid quer isenção de impostos
para FIPs que invistam em empresas de infra-estrutura. Empresas e
"investidores qualificados" (com
centenas de milhares de reais em
aplicações e patrimônio de milhões)
não pagariam Imposto de Renda,
Contribuição Social, PIS, Cofins sobre o rendimento dos seus FIPs.
Medida provisória aprovada em
meados do ano zerou o IR de investidores estrangeiros em FIPs.
O argumento da Abdib é que, sem
o desconto de imposto, os investidores institucionais não seriam atraídos para o negócio. Para ser claro, a
Abdib quer atrair os fundos de pensão de estatais e ex-estatais, onde está o dinheiro grosso. Os fundos das
estatais maiores investem ou planejam investir, por ora, não mais que
3% dos seus ativos em FIPs.
Quem já está no negócio de gestão
de fundos? ABN Amro, GP, AG Angra (Andrade Gutierrez e Angra
Partners). Quem aplica, em geral?
Fundos de pensão.
Por que mais investidores grandes
não entram nos FIPs? O governo paga juros enormes e leva o capital disponível. Normas sobre o investimento em infra-estrutura (energia e
saneamento etc) inexistem, não são
confiáveis ou cumpridas. A questão
é: com a isenção de impostos (e de
quais impostos?), o dinheiro vai fluir
para os FIPs de infra-estrutura de
modo a compensar a renúncia fiscal
(na verdade, a renúncia a impostos
que, sem o investimento, não seriam
mesmo recebidos)? O risco de qualquer incentivo fiscal é que o benefício apenas vá parar no bolso do setor
empresarial beneficiado. Mas, sem
incentivos, alguns setores podem
simplesmente não decolar.
vinit@uol.com.br
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