São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Até os mais ricos acham difícil "fechar o mês"

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Mesmo nas famílias mais ricas, mais da metade dos brasileiros em quase todas as regiões afirma ter dificuldade para viver com a renda obtida. É o que mostra um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) feito por Alexandre Nunes de Almeida e Rogério Edivaldo Freitas a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE de 2002 e 2003.
Ao pesquisarem essa situação nas cinco regiões brasileiras, eles perceberam que, em três delas (Nordeste, Sudeste e Norte), o percentual de famílias com renda mensal superior a 25 salários mínimos a dizer que viviam com dificuldades financeiras era superior a 50%. No Norte e no Sudeste, a proporção chega a 59%. No Nordeste, ela fica em 56%.
Apenas no Sul e no Centro-Oeste esse percentual não ultrapassa mais da metade das famílias mais ricas. Nos dois casos, no entanto, fica bem próximo disso: 49% no Centro-Oeste e 44% no Sul. Esse contingente de famílias vivendo com mais de 25 salários mínimos representa 7% do total de famílias. Sua renda média per capita é de R$ 3.286 por mês.
No outro extremo, como era de esperar, os percentuais de insatisfação com a renda são ainda maiores. Em todas as cinco regiões, eles ultrapassam 90% quando é feito o corte entre as famílias que vivem com menos de cinco salários mínimos por mês. Em todo o Brasil, elas representam 51% da população. Se a faixa de rendimento for inferior a 2,5 salários mínimos, a renda média per capita desse grupo fica em R$ 137.
Entre as famílias mais pobres, no entanto, o gasto médio das famílias é superior à renda. Isso significa que as famílias com renda inferior a 2,5 salários mínimos tinham, no ano da pesquisa, um déficit médio mensal de R$ 114 em seu orçamento doméstico. Entre as famílias entre 2,5 e 5 salários, o déficit diminui para R$ 27. A partir dessa faixa, o déficit médio deixa de existir, com as famílias declarando uma renda superior aos gastos.
Para Freitas, o fato de o nível de insatisfação com a renda ser alto mesmo entre as famílias mais ricas reflete, em parte, o caráter subjetivo da pergunta, pois é o entrevistado que responde se a renda lhe permite ou não viver com facilidade.
"Essa percepção é afetada em razão dos valores sociais e culturais relativos a cada classe social. Embora ela diminua à medida que aumenta a renda, isso acaba ficando muito atrelado à expectativa de consumo de cada um", diz Almeida.
O estudo permite, no entanto, avaliar aspectos menos subjetivos. Na região Norte, por exemplo, 40% das famílias mais ricas já declararam ter atrasado contas de água, luz ou gás. No Sudeste, a proporção é de 20% nas mesmas famílias.


Texto Anterior: Aumentam gastos com benefícios sociais
Próximo Texto: Filho de Gerdau assume direção do grupo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.