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Até os mais ricos acham difícil "fechar o mês"
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Mesmo nas famílias mais ricas, mais da metade dos brasileiros em quase todas as regiões
afirma ter dificuldade para viver com a renda obtida. É o que
mostra um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) feito por Alexandre
Nunes de Almeida e Rogério
Edivaldo Freitas a partir da
Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE de 2002 e 2003.
Ao pesquisarem essa situação nas cinco regiões brasileiras, eles perceberam que, em
três delas (Nordeste, Sudeste e
Norte), o percentual de famílias com renda mensal superior
a 25 salários mínimos a dizer
que viviam com dificuldades financeiras era superior a 50%.
No Norte e no Sudeste, a proporção chega a 59%. No Nordeste, ela fica em 56%.
Apenas no Sul e no Centro-Oeste esse percentual não ultrapassa mais da metade das famílias mais ricas. Nos dois casos, no entanto, fica bem próximo disso: 49% no Centro-Oeste
e 44% no Sul. Esse contingente
de famílias vivendo com mais
de 25 salários mínimos representa 7% do total de famílias.
Sua renda média per capita é de
R$ 3.286 por mês.
No outro extremo, como era
de esperar, os percentuais de
insatisfação com a renda são
ainda maiores. Em todas as cinco regiões, eles ultrapassam
90% quando é feito o corte entre as famílias que vivem com
menos de cinco salários mínimos por mês. Em todo o Brasil,
elas representam 51% da população. Se a faixa de rendimento
for inferior a 2,5 salários mínimos, a renda média per capita
desse grupo fica em R$ 137.
Entre as famílias mais pobres, no entanto, o gasto médio
das famílias é superior à renda.
Isso significa que as famílias
com renda inferior a 2,5 salários mínimos tinham, no ano
da pesquisa, um déficit médio
mensal de R$ 114 em seu orçamento doméstico. Entre as famílias entre 2,5 e 5 salários, o
déficit diminui para R$ 27. A
partir dessa faixa, o déficit médio deixa de existir, com as famílias declarando uma renda
superior aos gastos.
Para Freitas, o fato de o nível
de insatisfação com a renda ser
alto mesmo entre as famílias
mais ricas reflete, em parte, o
caráter subjetivo da pergunta,
pois é o entrevistado que responde se a renda lhe permite
ou não viver com facilidade.
"Essa percepção é afetada em
razão dos valores sociais e culturais relativos a cada classe social. Embora ela diminua à medida que aumenta a renda, isso
acaba ficando muito atrelado à
expectativa de consumo de cada um", diz Almeida.
O estudo permite, no entanto, avaliar aspectos menos subjetivos. Na região Norte, por
exemplo, 40% das famílias
mais ricas já declararam ter
atrasado contas de água, luz ou
gás. No Sudeste, a proporção é
de 20% nas mesmas famílias.
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