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VINICIUS TORRES FREIRE
Os sujos e os mal lavados
"Manifesto de atualização" do programa tucano usa dados errados sobre o passado e nada tem a dizer sobre o futuro
É ARGUMENTÁVEL que a leitura
e a discussão de programas
partidários sejam falta do que
fazer. Mas a alternativa é a rendição
aos cangaceiros do apocalipse político, o mundo paralelo de Renan Calheiros, do cafezinho do Congresso e
outros assuntos assim putrefatos.
E então a gente depara com o programa de "refundação" do PSDB, o
"manifesto que atualiza o programa
de 1988" dos tucanos, lançado na
terça-feira. O tal manifesto é uma
peça de manifesta falta do que dizer,
de inanidades, demagogias, desconversas e dados errados. Um texto
que tem a coragem de dizer coisas
como "apoiamos as privatizações no
passado" e que há "descoordenação"
no setor elétrico sob Lula.
Fiquemos na "parte econômica",
econômica em tudo, aliás, em idéias
e fatos e projetos concretos de mudança. Sabe-se apenas que, num governo PSDB 3, haverá mais Estado,
mais mercado, crescimento, justiça
social e segurança. Parece um pouco
com o programa de Geraldo Alckmin em 2006, mas é ainda pior que
aquele projeto de quadratura do círculo, pelo qual o governo investiria
mais, gastaria mais no "social", cortaria imposto, e o Estado não gastaria mais do que arrecada.
Nos últimos cinco anos, o país
cresceu menos que a média mundial, diz o "manifesto". Sob FHC
também. Lula manteve os "juros
desnecessariamente elevados e o
câmbio excepcionalmente apreciado". Bem, o PSDB não é favor de autonomia do Banco Central? Quem
pariu Mateus que o embale. E, por
falar em juro alto e câmbio apreciado, isso lembra... o governo FHC!
O manifesto diz que o governo Lula transferiu para Estados, municípios e estatais federais o esforço de
fazer superávit primário (poupança
do governo, desconsiderados gastos
com juros). É "menas verdade".
Quando FHC fez superávit, no segundo mandato, o esforço proporcional do governo federal foi em média igual ao do governo Lula 1. A poupança do governo central vem caindo, é fato, e em 2007 será proporcionalmente a menor desde 2001.
Comparados os anos finais e iniciais dos governos FHC 1, 2 e Lula 1,
foi nos anos tucanos que a receita federal de impostos cresceu mais, em
porcentagem do PIB. A despesa primária do governo central sob Lula
cresce mais rápido que sob FHC
(25% mais rápido, em média). Mas
sob FHC a despesa crescia a uma velocidade 100% maior que a do crescimento do PIB (contra 65% de Lula
1). E o gasto com pessoal ativo nos
anos FHC foi em média igual ao dos
anos Lula. Mas os investimentos federais foram um tico maiores no tucanato (0,2% do PIB a mais).
Sim, FHC teve de lidar com a quebra do setor público (para a qual
contribuiu em parte), com as despesas decorrentes dos esforços da estabilização monetária e com terríveis
crises financeiras mundiais, que
destroçaram as contas do país.
Lula governa em período de crescimento mundial extraordinário e
se beneficia das reformas de FHC
etc. Quase nada faz em termos de
mudanças institucionais e queima
os frutos da bonança econômica. É
um desastre programático na prática. Mas vamos, por favor, nos insultar com os palavrões adequados,
usar dados certos, não falsificar a
história, assumir erros e, enfim,
pensar. Uma idéia, por favor.
vinit@uol.com.br
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