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BNDES já limita a liberação de recursos
Diretor diz que banco vive "estresse de caixa" com aumento da demanda, atrasa repasses e prioriza pequenos e PAC
Desembolsos da instituição, que seguiam num ritmo de até R$ 8 bilhões por mês, explodem em outubro e superam R$ 10 bilhões
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Para fazer frente à corrida
das empresas por crédito, o
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico
Social) está contingenciando a
liberação de recursos para empréstimos já aprovados.
Só escapam desse contingenciamento o dinheiro destinado
a micro e pequenas empresas, à
área social e aos projetos de infra-estrutura do PAC.
A informação do contingenciamento de recursos do
BNDES foi obtida pela Folha
com alguns empresários que
não quiseram se identificar e
confirmada ontem pelo diretor
financeiro do banco, Maurício
Borges Lemos, por meio da assessoria de imprensa.
Lemos chamou esse processo de liberação contingenciada
de recursos de "estresse de caixa". Ou seja, o orçamento do
banco não está sendo suficiente para suprir a demanda de
crédito por parte das empresas.
O banco estava preparado
para desembolsar até R$ 8 bilhões por mês até que, em outubro, as liberações atingiram o
montante de R$ 10,2 bilhões,
uma quantia muito superior ao
programado pelo BNDES.
Em razão desse estresse, o
BNDES está atrasando o repasse de algumas linhas para os
agentes econômicos. Uma das
linhas mais atingidas é a Finame (programa para a compra
de máquinas e equipamentos).
Lemos acredita, no entanto,
que esse estresse esteja com os
dias contados com a liberação
de recursos prometida pelo governo. Na próxima semana, já
devem entrar no caixa do banco os R$ 7 bilhões do fundo de
investimento do FGTS, o que
pode fazer com que a situação
se normalize por um tempo.
A perspectiva é que esse estresse retorne no início de
2009, caso demorem a entrar
as novas injeções de recursos
prometidas pelo governo.
Como a Folha revelou ontem, o governo irá repassar
mais R$ 11 bilhões para os cofres do BNDES, sendo R$ 5 bilhões de um empréstimo do
Banco Mundial e R$ 6 bilhões
de lucros e dividendos que deveriam ser pagos ao Tesouro.
De acordo com Lemos, o
BNDES vem convivendo com
essa situação de "estresse de
caixa" o ano todo. Até setembro, o responsável era o crescimento acelerado da economia,
tanto que o governo promoveu
duas injeções de capital no
banco -R$ 12,5 bilhões, em
março, e R$ 15 bilhões, em setembro. Mas, nos últimos dois
meses, a principal causa do estresse de caixa tem sido a crise
financeira. O crédito secou, e as
empresas correram para os
bancos públicos.
"As empresas correram para
onde a torneira ainda não fechou", diz o economista Júlio
Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi e ex-secretário
de Política Econômica da Fazenda no governo Lula.
Desde o agravamento da crise, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, tem sido um
dos maiores defensores, no governo, da adoção de políticas
anticíclicas para estimular a
demanda e compensar a retração da atividade econômica.
"O BNDES tem sido mais ágil
do que o Banco do Brasil e a
Caixa para atender às necessidades de crédito das empresas", disse Gomes de Almeida.
Nos primeiros dez meses do
ano, o BNDES já liberou R$
71,5 bilhões em empréstimos,
44% a mais do que no mesmo
período de 2007. Esse montante já supera inclusive os R$
64,9 bilhões liberados no ano
passado.
No início do ano, a previsão
de Coutinho era que o BNDES
iria desembolsar neste ano R$
80 bilhões, mas essa projeção
já foi superada. A previsão agora é que as liberações do banco
possam alcançar R$ 90 bilhões.
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