São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BNDES já limita a liberação de recursos

Diretor diz que banco vive "estresse de caixa" com aumento da demanda, atrasa repasses e prioriza pequenos e PAC

Desembolsos da instituição, que seguiam num ritmo de até R$ 8 bilhões por mês, explodem em outubro e superam R$ 10 bilhões

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Para fazer frente à corrida das empresas por crédito, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) está contingenciando a liberação de recursos para empréstimos já aprovados.
Só escapam desse contingenciamento o dinheiro destinado a micro e pequenas empresas, à área social e aos projetos de infra-estrutura do PAC.
A informação do contingenciamento de recursos do BNDES foi obtida pela Folha com alguns empresários que não quiseram se identificar e confirmada ontem pelo diretor financeiro do banco, Maurício Borges Lemos, por meio da assessoria de imprensa.
Lemos chamou esse processo de liberação contingenciada de recursos de "estresse de caixa". Ou seja, o orçamento do banco não está sendo suficiente para suprir a demanda de crédito por parte das empresas.
O banco estava preparado para desembolsar até R$ 8 bilhões por mês até que, em outubro, as liberações atingiram o montante de R$ 10,2 bilhões, uma quantia muito superior ao programado pelo BNDES.
Em razão desse estresse, o BNDES está atrasando o repasse de algumas linhas para os agentes econômicos. Uma das linhas mais atingidas é a Finame (programa para a compra de máquinas e equipamentos).
Lemos acredita, no entanto, que esse estresse esteja com os dias contados com a liberação de recursos prometida pelo governo. Na próxima semana, já devem entrar no caixa do banco os R$ 7 bilhões do fundo de investimento do FGTS, o que pode fazer com que a situação se normalize por um tempo.
A perspectiva é que esse estresse retorne no início de 2009, caso demorem a entrar as novas injeções de recursos prometidas pelo governo.
Como a Folha revelou ontem, o governo irá repassar mais R$ 11 bilhões para os cofres do BNDES, sendo R$ 5 bilhões de um empréstimo do Banco Mundial e R$ 6 bilhões de lucros e dividendos que deveriam ser pagos ao Tesouro.
De acordo com Lemos, o BNDES vem convivendo com essa situação de "estresse de caixa" o ano todo. Até setembro, o responsável era o crescimento acelerado da economia, tanto que o governo promoveu duas injeções de capital no banco -R$ 12,5 bilhões, em março, e R$ 15 bilhões, em setembro. Mas, nos últimos dois meses, a principal causa do estresse de caixa tem sido a crise financeira. O crédito secou, e as empresas correram para os bancos públicos.
"As empresas correram para onde a torneira ainda não fechou", diz o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi e ex-secretário de Política Econômica da Fazenda no governo Lula.
Desde o agravamento da crise, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, tem sido um dos maiores defensores, no governo, da adoção de políticas anticíclicas para estimular a demanda e compensar a retração da atividade econômica.
"O BNDES tem sido mais ágil do que o Banco do Brasil e a Caixa para atender às necessidades de crédito das empresas", disse Gomes de Almeida.
Nos primeiros dez meses do ano, o BNDES já liberou R$ 71,5 bilhões em empréstimos, 44% a mais do que no mesmo período de 2007. Esse montante já supera inclusive os R$ 64,9 bilhões liberados no ano passado.
No início do ano, a previsão de Coutinho era que o BNDES iria desembolsar neste ano R$ 80 bilhões, mas essa projeção já foi superada. A previsão agora é que as liberações do banco possam alcançar R$ 90 bilhões.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Banco bate recorde de desembolsos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.