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análise
Investimento público perde da era FHC
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em contraste com o esforço da propaganda oficial para atribuir ao PAC
os bons indicadores do
ano passado, os dados
apontam que o programa
pouco alterou o peso do
investimento público na
economia nacional, ainda
inferior até ao patamar do
final do governo FHC
-que não foi particularmente marcante pela pujança econômica.
No ano passado, os investimentos totais do governo federal com recursos orçamentários somaram R$ 19,2 bilhões, já incluídos na conta os R$ 7,4
bilhões destinados às
obras do PAC, segundo valores obtidos pela ONG
Contas Abertas no sistema
de acompanhamento dos
gastos públicos mantido
pelo Tesouro Nacional.
Trata-se de uma expansão quase irrelevante para
as proporções da renda
nacional. Os investimentos -compostos basicamente por obras e aquisições de máquinas e equipamentos- passaram de
0,66%, no ano anterior,
para 0,76% do Produto Interno Bruto.
Quando o pacote de estímulo ao crescimento foi
lançado, há um ano, esperava-se elevar o investimento orçamentário a 1%
do PIB, como acontecia
até a década de 80. Obteve-se apenas recuperação
das taxas herdadas e reduzidas pelo governo Lula.
Nesta década, o melhor
resultado continua sendo
o 0,83% do ano eleitoral de
2002, quando, em meio a
uma crise financeira, Lula
foi eleito para suceder
FHC. Mesmo que a contabilidade final do ano passado, a ser divulgada, apresente valores um pouco
mais altos que os disponíveis hoje, a série histórica
mostra que a importância
do PAC ainda é mais política do que econômica.
Com o programa, o governo aplicou uma marca
própria à expansão generalizada dos gastos públicos iniciada não no ano
passado, mas em 2005
-ano que combinou um
cenário econômico favorável com o terremoto político provocado pelo escândalo do mensalão.
Nos últimos três anos,
todas as principais despesas públicas tiveram crescimento acelerado, graças
a um afrouxamento calculado da política fiscal. Os
investimentos, por sinal,
cresceram mais no ano
eleitoral de 2006 do que
sob o marketing do PAC.
Diagnóstico
O diagnóstico que deu
origem ao programa acabou deixado de lado: a avaliação de que os sucessivos
aumentos dos gastos permanentes do governo tirava espaço dos investimentos e levava à alta também
contínua da carga tributária, nos dois casos prejudicando o crescimento duradouro da economia.
As propostas para conter o aumento das despesas permanentes foram
bombardeadas pela ministra Dilma Rousseff (Casa
Civil). Da lista, restou um
projeto para limitar os
reajustes salariais nos três
Poderes, parado no Congresso desde o lançamento do PAC.
Não por acaso, os gastos
com pessoal crescem em
volumes bem superiores
aos dos investimentos
-no Orçamento de 2008,
por exemplo, recebem
mais R$ 12 bilhões e chegam ao total de R$ 130 bilhões. Já o PAC tem R$ 18
bilhões, ameaçados pelos
cortes tornados inevitáveis pelo fim da CPMF.
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