São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

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Empresa evita demitir para não irritar o governo

DA SUCURSAL DO RIO

Das três maiores mineradoras do mundo, a Vale é a que menos tem recorrido a demissões como medida para cortar custos. A Folha apurou que existe, dentro da empresa, preocupação em resistir ao máximo à dispensa de pessoal para evitar desgastes com o governo. Como alternativa, a empresa vem atacando as "gorduras internas" para superar a crise.
Entre os acionistas da Vale estão a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) e o BNDES.
Até agora, a Vale dispensou 1.300 funcionários, ou 2% do total mundial. Maior mineradora do mundo, a BHP demitiu esta semana 6.000 funcionários, ou 6% de seu total. A Rio Tinto dispensou 14 mil funcionários, ou 13% do quadro geral.
Nos nove primeiros meses de 2008, as despesas operacionais na Vale cresceram 28% em relação a igual período de 2007. Na mesma comparação, a receita subiu 8%. Segundo executivos da empresa, corte de custos tornou-se uma obsessão antes mesmo das turbulências.
Com a crise, a redução tornou-se mandatória. E, aparentemente, havia bastante a ser cortado. A Folha apurou que uma das medidas tomadas recentemente foi o maior controle sobre a emissão de passagens aéreas. Com a internacionalização da empresa, gerentes e diretores tinha liberdade para emitir passagens na classe executiva. Agora, só com autorização da direção. Reuniões, sempre que possível, são por videoconferência.
Com a dispensa dos terceirizados -os sindicatos contabilizam 11 mil pessoas- muitos profissionais de manutenção deixaram a empresa. A alternativa foi treinar trabalhadores ociosos para serviços de manutenção.
Quem também vem sofrendo com os cortes na Vale são as inúmeras consultorias que faziam projetos nas áreas operacionais, administrativas e de tecnologia. Muitos projetos entregues não foram implementados, e estudos foram interrompidos.
A indústria de máquinas também sofre com a pisada no freio da Vale. O processo de aquisição de equipamentos vem sendo interrompido. Contratos de compra já assinado foram mantidos, mas a empresa não deu continuidade a processos em fase inicial. Produtos que chegaram a ser orçados no início do quarto trimestre não tiveram seus pedidos concluídos. "Acreditamos que essas aquisições devam atrasar em seis meses", diz José Velloso Cardoso, vice-presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).
A Vale informa ter um "caixa privilegiado", graças à emissão de ações que resultou na captação de US$ 12 bilhões, em julho. Mas reconhece que vem tomando medidas para reduzir custos e, assim, adaptar-se "à nova realidade do mercado". (SL)


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