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Crise externa encarece o financiamento de exportações
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os reflexos da crise internacional no Brasil não se resumem a fortes oscilações na Bolsa de Valores e nos mercados de
câmbio e juros. As perdas geradas pelo calote em empréstimos imobiliários de má qualidade nos EUA já respinga na
economia não-financeira brasileira, e as empresas e bancos
que trabalham com financiamentos para exportação e importação estão pagando mais
caro por essas operações.
Mesmo sem ter relação direta com o mercado imobiliário
norte-americano, eles arcam
com parte do custo porque recorrem a dinheiro externo para
financiar o comércio com o exterior. Com isso, pagam pelo
risco dos outros.
Levantamento feito pela Folha com instituições que operam com esses financiamentos
mostra que o custo dos bancos
que operam no Brasil para captar linhas lá fora subiu entre 0,5
a 0,76 ponto percentual dependendo da operação e do prazo.
Esse valor foi acrescido ao prêmio de risco que é cobrado nas
transações além da taxa de juros. O aumento é repassado aos
empresários brasileiros.
"O risco não é do Brasil, mas
não nos separamos do mundo.
Estamos no contexto", justifica
Marlene Milan, diretora do Departamento de Câmbio do Bradesco. Ela lembra que até julho
do ano passado havia dinheiro
sobrando no mundo em busca
de mais rendimento, mesmo
que significasse mais risco.
"A crise do subprime [empréstimos imobiliários de alto
risco nos EUA] mudou tudo",
explica, ressaltando que os
bancos brasileiros não reduziram o volume de recursos para
o comércio exterior e também
não têm problema de conseguir
dinheiro lá fora, mas o custo
aumentou. O repasse para as
empresas é automático.
Para financiar os exportadores e importadores brasileiros,
os bancos instalados no país recorrem a dinheiro externo,
mais barato do que as opções
domésticas, já que o Brasil tem
uma das taxas de juros mais altas do mundo.
Entre as opções de fonte de
recursos, estão as linhas oferecidas por instituições estrangeiras (o que inclui a própria
matriz para os bancos estrangeiros), lançamento de bônus
no mercado de capitais internacional e depósitos de empresas e pessoas físicas nas agências no exterior.
A crise internacional fez com
que os investidores ficassem
mais receosos, e a quantidade
de dinheiro disponível para
empréstimos no mundo caiu.
Segundo relato de um executivo de um grande banco nacional, alguns parceiros antigos lá
fora sequer respondem mensagens ou atendem a telefonemas. Motivo: não têm dinheiro
para repassar.
"As alternativas de captação
no mercado ficaram limitadas,
e os bancos estão mais dependentes das linhas banco-a-banco", diz Milan. Para Eduardo
Dacache, vice-presidente de
Corporate e Empresas do Santander no Brasil, parte desse
aumento no prêmio de risco é
compensada pela queda da Libor (taxa de juros londrina e referência para o comércio exterior). "O cenário de turbulência
joga risco para todo mundo,
mas, desde setembro do ano
passado, a Libor vem caindo, e
isso reduz parte do impacto negativo", afirma.
O vice-presidente da AEB
(Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de
Castro, destaca que esse aumento no crédito se soma à elevação do IOF (Imposto sobre
Operações Financeiras) anunciada pelo governo para compensar parte da perda de receita com o fim da CPMF.
"Antes, os contratos de câmbio eram isentos de IOF e pagavam CPMF. Agora, pagam duas
vezes o IOF, quando fecha o
contrato com o banco e, depois,
quando recebe o dinheiro do
exterior e liquida a operação".
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