São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 2005

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TURBULÊNCIA

Fed sinaliza alta de juros maior e pressiona emergentes; Bovespa cai 2,89%, títulos da dívida perdem valor e risco-país sobe

BC dos EUA derruba mercado brasileiro

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O banco central dos Estados Unidos avisou que ainda está preocupado com a evolução da inflação no país. E bastou para gerar um grande corre-corre no mercado financeiro internacional. As Bolsas de Valores caíram rapidamente, e as taxas pagas pelos títulos do Tesouro dos EUA subiram para os maiores níveis em muitos meses.
Pior para os emergentes, como o Brasil, porque os investidores tendem a se desfazer de seus ativos nesses momentos. O que já ocorreu ontem: o Global 40, um dos principais títulos da dívida externa brasileira, despencou 2,01% e recuou a seu mais baixo valor em cinco meses. Os C-Bonds perderam 1,38%. O risco-país brasileiro foi aos 443 pontos, em alta de 1,6%, maior patamar desde novembro de 2004.
A Bovespa, que chegou a subir pela manhã, teve seu segundo pior pregão de 2005 e fechou com perdas de 2,89%.
"O mercado deve seguir reduzindo suas posições em ativos de maior risco, o que é má notícia para o Brasil. Pelo menos no curto prazo, haverá ajustes, que terão impactos negativos para os emergentes", diz o economista-chefe da Gap Asset Management, Alexandre Maia.
Conforme as expectativas, o Fed (Federal Reserve, o BC americano) elevou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual. Mas, na nota que divulgou após sua reunião, o Fed mostrou preocupações com futuras pressões inflacionárias.
O mercado interpretou a nota como sinalizadora de que aumentos mais consistentes nos juros americanos podem vir em breve para conter indesejáveis pressões sobre os preços no país.
Nesse cenário, a aversão ao risco de ativos (como ações e títulos da dívida) de emergentes cresce, pois é melhor investir nos títulos americanos, que passam a pagar taxas maiores e têm riscos menores.
A taxa paga pelo papel do Tesouro dos EUA com prazo de dez anos disparou ontem e bateu nos 4,62%, maior nível em oito meses.
"A referência feita pelo Fed em sua nota sobre o perigo de pressões inflacionárias fez com que o mercado desandasse, reforçando os temores crescentes nos últimos meses. Até o fim da reunião, o mercado vinha operando com certa tranqüilidade", afirma Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos.
Para o Brasil, fica o temor de que o risco-país suba muito.
Quando esse indicador alcança níveis muito elevados, empresas, bancos e o próprio governo encontram maiores dificuldades para conseguir empréstimos no exterior, que ficam mais caros e escassos, como aconteceu em 2002.
Segundo um operador do mercado, o banco JP Morgan rebaixou sua recomendação para os títulos de emergentes no fim da tarde. Para a Bolsa paulista, o cenário é ruim, pois os investidores estrangeiros têm sido fundamentais para sustentar o mercado de ações doméstico. Se começarem a sair, há temores de que a Bovespa não consiga se sustentar nos atuais patamares.
O mercado acionário americano também fechou em baixa, com os investidores trocando a renda variável por títulos de renda fixa, que acompanham a alta dos juros. O Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, caiu 0,90%. A Nasdaq, Bolsa eletrônica de empresas de alta tecnologia, perdeu 0,91%.
Apenas o dólar fechou sem ter tempo de reagir à piora do mercado internacional. A moeda recuou 1,06%, para R$ 2,698. "Por isso, acredito que o dólar suba amanhã [hoje]. No mercado futuro, que fecha mais tarde, o dólar já operava em alta no fim da tarde", disse Rosa.
Para hoje, o Banco Central avisou que não irá realizar, pela segunda semana seguida, seu leilão de "swap cambial inverso".


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