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TURBULÊNCIA
Fed sinaliza alta de juros maior e pressiona emergentes; Bovespa cai 2,89%, títulos da dívida perdem valor e risco-país sobe
BC dos EUA derruba mercado brasileiro
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O banco central dos Estados
Unidos avisou que ainda está
preocupado com a evolução da
inflação no país. E bastou para gerar um grande corre-corre no
mercado financeiro internacional. As Bolsas de Valores caíram
rapidamente, e as taxas pagas pelos títulos do Tesouro dos EUA
subiram para os maiores níveis
em muitos meses.
Pior para os emergentes, como
o Brasil, porque os investidores
tendem a se desfazer de seus ativos nesses momentos. O que já
ocorreu ontem: o Global 40, um
dos principais títulos da dívida
externa brasileira, despencou
2,01% e recuou a seu mais baixo
valor em cinco meses. Os C-Bonds perderam 1,38%. O risco-país brasileiro foi aos 443 pontos,
em alta de 1,6%, maior patamar
desde novembro de 2004.
A Bovespa, que chegou a subir
pela manhã, teve seu segundo
pior pregão de 2005 e fechou com
perdas de 2,89%.
"O mercado deve seguir reduzindo suas posições em ativos de
maior risco, o que é má notícia
para o Brasil. Pelo menos no curto
prazo, haverá ajustes, que terão
impactos negativos para os emergentes", diz o economista-chefe
da Gap Asset Management, Alexandre Maia.
Conforme as expectativas, o Fed
(Federal Reserve, o BC americano) elevou a taxa de juros em 0,25
ponto percentual. Mas, na nota
que divulgou após sua reunião, o
Fed mostrou preocupações com
futuras pressões inflacionárias.
O mercado interpretou a nota
como sinalizadora de que aumentos mais consistentes nos juros
americanos podem vir em breve
para conter indesejáveis pressões
sobre os preços no país.
Nesse cenário, a aversão ao risco
de ativos (como ações e títulos da
dívida) de emergentes cresce, pois
é melhor investir nos títulos americanos, que passam a pagar taxas
maiores e têm riscos menores.
A taxa paga pelo papel do Tesouro dos EUA com prazo de dez
anos disparou ontem e bateu nos
4,62%, maior nível em oito meses.
"A referência feita pelo Fed em
sua nota sobre o perigo de pressões inflacionárias fez com que o
mercado desandasse, reforçando
os temores crescentes nos últimos
meses. Até o fim da reunião, o
mercado vinha operando com
certa tranqüilidade", afirma Newton Rosa, economista-chefe da
Sul América Investimentos.
Para o Brasil, fica o temor de
que o risco-país suba muito.
Quando esse indicador alcança
níveis muito elevados, empresas,
bancos e o próprio governo encontram maiores dificuldades para conseguir empréstimos no exterior, que ficam mais caros e escassos, como aconteceu em 2002.
Segundo um operador do mercado, o banco JP Morgan rebaixou sua recomendação para os títulos de emergentes no fim da tarde. Para a Bolsa paulista, o cenário
é ruim, pois os investidores estrangeiros têm sido fundamentais
para sustentar o mercado de
ações doméstico. Se começarem a
sair, há temores de que a Bovespa
não consiga se sustentar nos
atuais patamares.
O mercado acionário americano também fechou em baixa, com
os investidores trocando a renda
variável por títulos de renda fixa,
que acompanham a alta dos juros.
O Dow Jones, principal índice da
Bolsa de Nova York, caiu 0,90%.
A Nasdaq, Bolsa eletrônica de empresas de alta tecnologia, perdeu
0,91%.
Apenas o dólar fechou sem ter
tempo de reagir à piora do mercado internacional. A moeda recuou 1,06%, para R$ 2,698. "Por
isso, acredito que o dólar suba
amanhã [hoje]. No mercado futuro, que fecha mais tarde, o dólar já
operava em alta no fim da tarde",
disse Rosa.
Para hoje, o Banco Central avisou que não irá realizar, pela segunda semana seguida, seu leilão
de "swap cambial inverso".
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