São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 2005

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LUÍS NASSIF

Um brasileiro no BID

O brasil pode dar o próximo presidente ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Só há um obstáculo: a resistência do Ministério da Fazenda. O candidato natural é o ex-ministro João Sayad, hoje em dia terceiro homem na hierarquia do BID e favorito à sucessão do uruguaio Enrique Iglesias. Sayad tem cancha, respeitabilidade, mas é um crítico severo da atual política econômica.
Acontece que o cargo é uma função de Estado. Empossado, será representante do Brasil, não de uma determinada escola de pensamento.
O BID surgiu das tratativas do presidente Juscelino Kubitschek, que, influenciado por Augusto Frederico Schimidt, lançou a Operação Pan-Americana. A iniciativa, visando unir os países do continente e abrir os olhos dos Estados Unidos para seus vizinhos, resultou no BID, como um braço do Banco Mundial para a região.
Mesmo assim, jamais o Brasil teve um presidente no órgão.
Os dois últimos foram o mexicano José Ortiz Penna, que saiu depois de uma gestão atribulada; e Iglesias, que virou referência mundial. Pela ordem natural, seria a vez do Brasil e de Sayad, que conta com apoio do próprio Iglesias.
Não haveria dificuldades em obter o apoio dos Estados Unidos, principalmente agora, que o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, tornou-se interlocutor direto de Condoleezza Rice.
O Brasil já dormiu no ponto quando vagou cargo de diretor do FMI. Era para ser um brasileiro. Não houve interesse da parte do Brasil, e o cargo acabou indo para Agustín Karsten, mexicano. O último brasileiro proeminente nesses organismos foi Alexandre Kafka, decano dos economistas brasileiros e, pelo que dizem, ainda vivo e em Nova York.
A importância política do cargo é enorme. Ainda mais agora, quando, no âmbito do Banco Mundial, está ocorrendo uma mudança radical nas suas políticas de financiamento. Na próxima reunião, no Japão, vai-se substituir a atual política, de financiamento de projetos isolados, por projetos integrados. Por exemplo, financiamento do programa de reestruturação de todos os portos de um país.
Se a Fazenda não deixar, o presidente provavelmente será um colombiano.

Falta de projetos
No governo Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil já pagou quase US$ 5 bilhões ao Banco Mundial e recebeu US$ 1,4 bilhão por carência de projetos.

Kroll
No jantar do Conselho das Américas, em Nova York, em homenagem ao ministro José Dirceu, surgiu do nada Jules Kroll, o presidente da Kroll, a empresa de espionagem que se enrolou no episódio Brasil Telecom e andou espionando até autoridades do governo. Mais irritado ficou o ministro quando Kroll propôs que o governo brasileiro poderia contratar a empresa para treinar a Polícia Federal na luta anticorrupção.
Ficou a impressão de que Jules não tem um bom sistema de informações sobre o que ocorre com sua própria empresa.

E-mail-
Luisnassif@uol.com.br


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