São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 2005

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AGRICULTURA

Seca no Sul e no Centro-Oeste deve derrubar colheita de grãos prevista em 131,9 mi de toneladas para 119,5 mi

Safra pode ter "quebra histórica", diz Conab

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Levantamento extraordinário da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) divulgado ontem diagnosticou que a estiagem no Sul e no Centro-Oeste devem causar uma "quebra histórica" na próxima safra de grãos e trouxe ao governo a preocupação com a possibilidade de desabastecimento de milho durante o ano -hipótese que vinha sendo descartada até o mês passado.
A Conab avalia, porém, que a quebra na produção das principais commodities brasileiras -milho e soja- pode ser beneficiada por reduções na produção norte-americana, o que elevaria o preço no mercado internacional.
Segundo essa tese, que tende a se confirmar nos próximos meses, os grandes agricultores conseguiriam repor as perdas. Os pequenos produtores vêm recebendo incentivos do governo -como o alongamento do prazo para pagamento de dívidas.
"A queda das produções brasileira e americana deve influir no preço, principalmente da soja e do milho, o que deve compensar quem não teve grandes perdas com a produção", disse Jacinto Ferreira, presidente da Conab.
De acordo com os dados divulgados ontem, a estimativa da colheita de 131,9 milhões de toneladas, feita em dezembro do ano passado, encolheu para os 119,5 milhões de toneladas, bem próximos dos 119,2 milhões da safra anterior -crescimento de 0,3%. O milho deve cair 7,5% em relação à safra 2003/4 e a produção de soja crescerá menos do que o esperado, alcançando variação positiva de 6,7%.
A quebra é considerada a "maior da história agrícola brasileira" porque indica redução de 9% em comparação com a estimativa inicial, de dezembro. Se a previsão de 131,9 milhões de toneladas se confirmasse, a safra seria um novo recorde.
"A quebra é sempre muito negativa para quem plantou, mas, no balanço geral, deve haver a recuperação do preço, ao menos para quem não perdeu tanto", afirma Ferreira.
O levantamento foi elaborado extraordinariamente pela Conab, que divulga no mês que vem a última previsão de safra para a colheita de 2004/5. No próximo levantamento, a produção de soja e de milho deve apenas "sofrer alguns ajustes", segundo o presidente da Conab.
Desta vez, a pesquisa foi feita apenas nos Estados do Sul, no Mato Grosso do Sul, em Goiás, em parte do Estado de São Paulo e na região central da Bahia, onde a estiagem tem se apresentado mais intensamente.
A hipótese de desabastecimento, que no mês passado era descartada, agora vem sendo avaliada como possível pelo governo.

Auxílio aos produtores
O Ministério da Agricultura deve aguardar os números definitivos sobre a safra para pleitear benefícios aos produtores das áreas mais atingidas pela seca.
Segundo o presidente da Conab, se as medidas tomadas até agora não forem suficientes, "o ministro Roberto Rodrigues [Agricultura] tem a sinalização do ministro Antonio Palocci Filho [Fazenda] de que vão voltar a conversar".
No início do mês, Rodrigues assegurou aos produtores de algodão, arroz, milho, trigo e soja a prorrogação de R$ 2,62 bilhões de dívidas relativas a parcelas de empréstimos tomados com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para investimentos.


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