São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 2005

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CRÉDITO

Senadores reclamam do excessivo gasto com publicidade e do baixo volume de recursos para a população de baixa renda

Oposição critica atuação do Banco Popular

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Criado pelo governo para estimular a expansão do crédito para a população de baixa renda, o Banco Popular do Brasil teve sua atuação duramente criticada pela oposição durante audiência pública realizada ontem na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado.
Senadores reclamaram do volume de recursos destinado a aplicações em títulos públicos e a publicidade -em ambos os casos, o total de dinheiro superou o montante efetivamente liberado para as operações de crédito.
Em dezembro de 2004, o Banco Popular possuía R$ 51,9 bilhões aplicados em papéis do governo, que, atualmente, rendem juros de 19,25% ao ano. Já os empréstimos concedidos pela instituição somavam R$ 20 milhões. Em publicidade, foram gastos, no ano passado, R$ 25 milhões.
O presidente do Banco Popular, Ivan Guimarães, disse que é normal que os gastos com propaganda sejam mais elevados no início das operações da instituição. "É preciso que a população saiba que existe um Banco Popular do Brasil e que ele é ligado ao Banco do Brasil", disse.
O banco foi criado por medida provisória em setembro de 2003, mas só começou a operar plenamente em julho de 2004. Segundo Guimarães, com o passar do tempo, as despesas com publicidade e as aplicações em títulos públicos vão diminuir, para, paulatinamente, dar lugar ao crédito.
O presidente do Banco Popular, porém, foi o que menos fez uso da palavra, numa sessão marcada pelas discussões entre os próprios senadores. Originalmente, a audiência foi organizada para discutir a MP que regulamenta as operações de microcrédito no país, mas as contendas deixaram o assunto em segundo plano. A própria relatora da MP no Senado, Ideli Salvatti (PT-SC), admitiu que a sessão de ontem "pouco contribuiu" para o debate.
A confusão começou no início da sessão, quando foi exibido, antes das declarações de Guimarães, um vídeo de dez minutos com depoimentos de pessoas atendidas pela instituição. Ao final do filme, foram mostrados os logotipos do Banco do Brasil, do Banco Popular e do governo federal.
O primeiro a reagir foi o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), que classificou o vídeo de "propaganda deslavada do governo", já que a peça acabou sendo exibida pela TV Senado, que transmitia a audiência ao vivo.
ACM também criticou o presidente da comissão, senador Luiz Otávio (PMDB-PA), por permitir a exibição do vídeo. "Não tenho poder para censurar a TV Senado", respondeu Otávio. Ambos começaram a gritar.
"Não tenho medo de gritaria", disse Otávio, para ouvir em seguida de ACM que ele "devia é ter medo dos tribunais" -o presidente da CAE é réu em processos sobre corrupção que correm no Supremo Tribunal Federal.
Depois da polêmica, Guimarães se desculpou pela exibição do vídeo. "Não tinha idéia da dimensão que isso teria. Não se tratava de uma peça de publicidade, e sim de um vídeo institucional."
Já o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou que o Banco Popular "é um banco que parece ter nascido para fazer propaganda disfarçada do governo".
A reação coube ao líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que afirmou que o valor gasto em publicidade em 2004 é pequeno perto dos prejuízos de R$ 200 milhões que o BB teve com a parceria em 2001 com o Deutsche Bank para atender clientes de alta renda no Brasil.


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