São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2006

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País mantém "stop and go", diz economista

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia brasileira permanece suscetível a um ritmo de crescimento "stop and go". Ou seja, com taxas de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) que alternam fases de crescimento mais baixo e outras com um maior dinamismo.
Na avaliação de economistas, essa oscilação ocorre por causa do baixo nível de investimentos em proporção ao tamanho da economia brasileira.
De acordo com João Sicsú, professor de economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), para exibir taxas de crescimento entre 5,5% e 6% ao ano, o Brasil precisaria, no mínimo, de investimentos equivalentes a 26% do PIB. "O primeiro passo para o país sair desse "stop and go" é ter uma taxa de investimento entre 26% e 29%. O próximo é alcançar taxas de investimento em níveis asiáticos, mas o Brasil ainda está bem longe disso."
Segundo estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgado ontem, de 1995 a 2004, o volume de investimentos no Brasil representou 19,3% do PIB. No mesmo período, os emergentes asiáticos tiveram uma taxa de 32,6% do PIB.
Para este ano, avalia Sicsú, o quadro de investimentos -tanto os do setor privado quanto os do setor público- não deve mudar muito. "O investimento privado não acontece [em maior proporção] porque a taxa de juros é muito alta [a Selic está em 16,5%]. Por isso, na hora de decidir entre comprar um título público e comprar uma fábrica, muitos empresários ficam com a primeira opção que é muito mais rentável", argumentou o professor da UFRJ. No caso do investimento público, diz, é também a ciranda dos juros altos que inibe um vigor na hora de investir.

Fator externo
O dinamismo dos emergentes asiáticos na comparação com o Brasil também pode ser atribuído a características próprias desses países. "Os asiáticos têm altos níveis de investimento, em grande parte, porque a matriz econômica deles é voltada para a exportação. O Brasil está começando só agora a ter mais participação no comércio internacional", diz professor Fernando Ribeiro, do Núcleo de Negócios Internacionais da Universidade Mackenzie.
Além do principal calcanhar-de-aquiles do PIB brasileiro -o baixo volume de investimentos-, Ribeiro ressalta que instabilidades externas também podem representar mais um fator para a manutenção do crescimento entre soluços da economia brasileira. "Acredito que são mais as questões externas do que as domésticas que preocupam. O déficit gigante em conta corrente dos EUA, os rumos da gripe aviária no mundo e a instabilidade no Oriente Médio. Não é nada catastrófico, mas pode fazer uma marola mais séria", afirmou.


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