São Paulo, domingo, 23 de abril de 2006

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COMIDA

Apesar de menu mais saudável, é lanche barato e criticado que segura resultado

McDonald's turbina lucro com lanche de US$ 1

Associated Press
Ativista do Greenpeace é preso na Nova Zelândia após protesto; a rede de lanchonetes vem aumentando seu lucro com itens baratos


MELANIE WARNER
DO "NEW YORK TIMES"

Numa tarde destas no McDonald's da Union Square em Manhattan, Chris Rivera e Shamell Jackson analisavam o cardápio, que inclui diversas opções saudáveis, como salada e frutas. Então pediram o de sempre: dois sanduíches McChicken do cardápio de US$ 1 (o chamado Dollar Menu), fritas e milk-shakes.
Os dois jovens de 15 anos, assim como muitos de seus colegas do colégio Washington Irving ali perto, vão com freqüência ao McDonald's. E são clientes como eles que constantemente pedem os artigos mais baratos e engordativos do cardápio, que alimentaram uma notável recuperação da companhia.
"Quando eu era mais jovem, minha mãe nunca me deixava vir aqui", disse Jackson, parado numa fila cheia de adolescentes. "Ela achava que era ruim. Mas agora tenho meu próprio dinheiro."
O enorme sucesso do Dollar Menu, com diversos artigos por US$ 1, nos Estados Unidos ajudou a estimular o crescimento das vendas na mesma loja por 36 meses consecutivos. Em três anos, a receita do McDonald's aumentou 33% e suas ações dispararam 170%, uma virada notável para uma empresa que apenas quatro anos atrás parecia estar indo a lugar nenhum.
A marca recebeu muita atenção nos últimos anos por lançar produtos alimentares saudáveis, como saladas e frutas. Mas sua virada não vem do aumento de vendas desses alimentos, e sim da maior venda de produtos básicos de fast food, como cheeseburgers duplos e sanduíches de frango frito, do Dollar Menu.
Embora isso possa ajudar clientes de baixa renda a economizar, pode ter um alto custo para a saúde. O McDonald's tem dirigido as vendas do cardápio de US$ 1 para adolescentes, jovens adultos e grupos minoritários que já são afetados pela alta incidência de obesidade e de problemas de saúde relacionados, como diabetes.
Muitos nutricionistas dizem que o fast food é uma das piores coisas na dieta norte-americana, devido às calorias, gorduras, falta de fibras e adição de açúcares e carboidratos processados.
"Se você examinar o Dollar Menu em termos da quantidade de alimento que recebe, realmente parece um bom negócio", disse Connie Schneider, assessora de nutrição para o condado de Fresno, na Califórnia. "Mas, se você examinar quantos nutrientes está recebendo por um dólar, é o menos econômico."
E todos os dias o McDonald's processa muito mais cheeseburgers duplos do que saladas ou os novos sanduíches de frango Premium Chicken, que na verdade têm mais calorias e mais sódio do que um cheeseburger duplo.
Richard Adams, ex-executivo do McDonald's que trabalha como consultor para franquias, diz que uma loja média vende cerca de 50 saladas por dia e de 50 a 60 sanduíches Premium Chicken, comparado a 300 a 400 cheeseburgers duplos do Dollar Menu.

Concorrência reage
Reagindo ao sucesso do McDonald's, seus concorrentes Wendy's e Burger King começaram a promover suas versões de ofertas baratas.
A Wendy's, que foi a primeira rede de hambúrgueres a experimentar produtos por US$ 1, baixou os preços de seu Super Value Menu para US$ 0,99 em janeiro. E, em fevereiro, o Burger King começou a oferecer sua versão do Dollar Menu, que inclui o Whopper Jr. e cheeseburgers.
O Dollar Menu tornou-se parte permanente do cardápio do McDonald's nos EUA no final de 2002. Ele oferece produtos como o cheeseburger duplo, o sanduíche McChicken, batatas fritas, sundae, tortas, uma salada de acompanhamento, uma sobremesa de iogurte e um refrigerante de meio litro.

Cheeseburger duplo
Desde que o McDonald's começou a anunciar o Dollar Menu em todo o país, o cheeseburger duplo tornou-se o artigo mais pedido na rede. Mesmo a US$ 1, os cheeseburgers duplos rendem mais que as saladas ou os sanduíches de frango, que custam de US$ 3,19 a US$ 4,29.
Os executivos do McDonald's dizem que o Dollar Menu atraiu um tráfego enorme para as lojas, basicamente de homens e mulheres de 18 a 24 anos. "O Dollar Menu atrai consumidores de baixa renda e étnicos", disse Steve Levigne, vice-presidente de pesquisa de negócios do McDonald's nos EUA. "São pessoas que nem sempre têm US$ 6 no bolso."
Apenas três anos e meio atrás, o McDonald's enfrentava grandes dificuldades. Sua ação tinha caído 56% em dez meses e a companhia divulgou seu primeiro prejuízo trimestral em todos os tempos. As vendas nas lojas dos EUA, o maior mercado da empresa, não estavam crescendo e em muitos casos decaíam.
Atingido por processos legais de obesidade e críticas de livros como "País Fast Food", a marca da empresa parecia ultrapassada e sua culinária de alto teor de calorias, gorduras e sódio, destinada a um longo declínio.
Mas isso não aconteceu. Hoje, os negócios do McDonald's, tanto nos EUA como em todo o mundo, estão crescendo: a rede recebe cerca de 1 milhão de visitantes americanos a mais por dia do que há um ano.
Outros fatores contribuíram para essa virada, que foi surpreendentemente rápida para uma empresa tão grande. O McDonald's está abrindo menos lojas e melhorando as existentes e seu serviço.
A rede deu mais ênfase para o café da manhã e introduziu uma campanha de marketing global de sucesso com o slogan "Amo muito tudo isso". Mas o McDonald's diz que um dos fatores mais importantes em seu sucesso têm sido os artigos de baixo preço.
Os anúncios do Dollar Menu dirigidos para jovens afro-americanos e hispânicos muitas vezes se concentram na quantidade de comida que podem conseguir por apenas US$ 1, uma mensagem que muitos jovens adoram.
"O problema é que estão lidando com um segmento em que há enormes questões de obesidade e eles fazem parecer que comer Big Macs e cheeseburgers duplos é divertido e excitante", disse Jerome Williams, professor de publicidade na Universidade do Texas em Austin e um dos autores de um relatório do Instituto de Medicina dos EUA, do ano passado, sobre o marketing de "junk food" para crianças e adolescentes.
O médico David Ludwig, diretor do programa de obesidade no Hospital Infantil de Boston, diz que comercializar fast food para afro-americanos e hispânicos é uma "receita para o desastre".
"Está demonstrado que o consumo desses lanches eleva a ingestão de calorias, promove o aumento de peso e eleva o risco de diabetes", diz Ludwig. "Como os afro-americanos e os hispânicos têm inerentemente risco maior de obesidade e diabetes, o fast food só aumentará o problema."

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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