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ECONOMIA GLOBAL
Americanos e chineses dão mostras de que o espaço para influência maior do Fundo continuará limitado
China e EUA divergem das visões do FMI
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário Internacional) ganhou "carta branca"
ontem de seus principais membros para tentar promover reformas em sua estrutura e no modo
como passará a enfrentar os
atuais desequilíbrios econômicos
mundiais.
Já na próxima reunião do organismo em setembro, em Cingapura, o diretor-gerente do FMI,
Rodrigo de Rato, deverá apresentar um roteiro, que terá de ser
aprovado, para a implementação
das principais mudanças.
Embora apóiem as reformas,
EUA e China, as duas principais
economias do mundo, deram
mostras ontem de que o espaço
para uma influência maior do
Fundo continuará limitado.
Autonomia
A China disse claramente que
não é papel do FMI interferir na
"autonomia" dos países em questões como taxa de câmbio. Já os
EUA afirmaram que o Fundo não
deve esperar que o país "resolva
sozinho" os atuais desequilíbrios
mundiais.
O IMFC (Comitê Monetário e
Financeiro Internacional, na sigla
em inglês), composto pelo "board
de governadores" do Fundo, autorizou Rodrigo de Rato a elaborar propostas para dois conjuntos
de mudanças longamente esperadas:
1) a reforma do sistema de cotas
do Fundo para aumentar a representatividade dos países emergentes e; 2) a criação de "mecanismos multilaterais" de atuação e
consulta entre o FMI, os países
responsáveis pelos atuais desequilíbrios globais e outras nações
que possam ser afetadas.
O FMI também deverá elaborar
uma proposta para a criação de
uma nova linha de crédito para
países que entrarem em crise
mesmo tendo um comportamento fiscal responsável.
Estágio inicial
A idéia, ainda em estágio inicial,
é que não seja preciso o fechamento de um acordo completo e
formal para que possam receber a
ajuda.
Paralelamente, o IMFC ressaltou a necessidade de criar novos
mecanismos para aumentar a
transparência na área de petróleo
para tornar mais previsível o
comportamento dos preços.
As possíveis mudanças sobre as
quais o FMI começará a trabalhar
agora são resultado de um reconhecimento de que a economia
global passa por uma fase de otimismo, com crescimento acima
de 4% nos últimos quatro anos,
mas que esconde problemas estruturais nos bastidores.
Déficits gêmeos
Há pelo menos três anos o FMI
vem apontado os chamados déficits gêmeos dos EUA (fiscal e em
conta corrente) como uma das
principais fontes de insegurança
econômica mundial.
O déficit recorde em conta corrente americano equivale hoje a
6,4% do PIB (Produto Interno
Bruto) do país e vem sendo provocado principalmente pelas exportações chinesas para os EUA.
Ontem, o secretário do Tesouro
dos Estados Unidos, John Snow,
disse que o FMI não pode esperar
que os EUA "resolvam o problema sozinhos".
Na véspera, Snow havia cobrado do Fundo uma posição mais
incisiva para que a China desvalorize sua moeda, o yuan, para segurar as exportações.
A resposta do presidente do
banco central chinês, Zhou Xiaochuan, foi seca: "Cada país deve
ser autônomo para decidir sobre
seu sistema cambial".
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