São Paulo, domingo, 23 de abril de 2006

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ECONOMIA GLOBAL

Americanos e chineses dão mostras de que o espaço para influência maior do Fundo continuará limitado

China e EUA divergem das visões do FMI

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) ganhou "carta branca" ontem de seus principais membros para tentar promover reformas em sua estrutura e no modo como passará a enfrentar os atuais desequilíbrios econômicos mundiais.
Já na próxima reunião do organismo em setembro, em Cingapura, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, deverá apresentar um roteiro, que terá de ser aprovado, para a implementação das principais mudanças.
Embora apóiem as reformas, EUA e China, as duas principais economias do mundo, deram mostras ontem de que o espaço para uma influência maior do Fundo continuará limitado.

Autonomia
A China disse claramente que não é papel do FMI interferir na "autonomia" dos países em questões como taxa de câmbio. Já os EUA afirmaram que o Fundo não deve esperar que o país "resolva sozinho" os atuais desequilíbrios mundiais.
O IMFC (Comitê Monetário e Financeiro Internacional, na sigla em inglês), composto pelo "board de governadores" do Fundo, autorizou Rodrigo de Rato a elaborar propostas para dois conjuntos de mudanças longamente esperadas:
1) a reforma do sistema de cotas do Fundo para aumentar a representatividade dos países emergentes e; 2) a criação de "mecanismos multilaterais" de atuação e consulta entre o FMI, os países responsáveis pelos atuais desequilíbrios globais e outras nações que possam ser afetadas.
O FMI também deverá elaborar uma proposta para a criação de uma nova linha de crédito para países que entrarem em crise mesmo tendo um comportamento fiscal responsável.

Estágio inicial
A idéia, ainda em estágio inicial, é que não seja preciso o fechamento de um acordo completo e formal para que possam receber a ajuda.
Paralelamente, o IMFC ressaltou a necessidade de criar novos mecanismos para aumentar a transparência na área de petróleo para tornar mais previsível o comportamento dos preços.
As possíveis mudanças sobre as quais o FMI começará a trabalhar agora são resultado de um reconhecimento de que a economia global passa por uma fase de otimismo, com crescimento acima de 4% nos últimos quatro anos, mas que esconde problemas estruturais nos bastidores.

Déficits gêmeos
Há pelo menos três anos o FMI vem apontado os chamados déficits gêmeos dos EUA (fiscal e em conta corrente) como uma das principais fontes de insegurança econômica mundial.
O déficit recorde em conta corrente americano equivale hoje a 6,4% do PIB (Produto Interno Bruto) do país e vem sendo provocado principalmente pelas exportações chinesas para os EUA.
Ontem, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, disse que o FMI não pode esperar que os EUA "resolvam o problema sozinhos".
Na véspera, Snow havia cobrado do Fundo uma posição mais incisiva para que a China desvalorize sua moeda, o yuan, para segurar as exportações.
A resposta do presidente do banco central chinês, Zhou Xiaochuan, foi seca: "Cada país deve ser autônomo para decidir sobre seu sistema cambial".


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