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Deficit fiscal da UE em 2009 é maior do que o esperado
Revisão mostra rombo ainda maior nas contas da Grécia, e agência de risco Moody's rebaixa nota da dívida do país
Dado negativo derruba o euro para a menor cotação ante o dólar em quase um ano; Bolsas de Valores do bloco também despencam
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Dados divulgados ontem pelo Eurostat (o órgão estatístico
da União Europeia) mostram
que o rombo fiscal na Grécia e
em outros países do bloco é ainda maior do que se estimava.
Atenas registrou em 2009
deficit de 13,6% do PIB (0,7
ponto acima do relatado antes).
Na média, a UE fechou o ano
com um buraco de 6,8%, o triplo do que tinha no fim de 2008
e 3,8 pontos acima do teto fixado pelo próprio bloco. A relação
entre dívida e PIB dos 27 países
subiu de 61,3% para 71,3%.
Os números fizeram disparar
o ágio sobre os títulos da dívida
grega, que superou o patamar
de 10% para o papel que vence
em dois anos e chegou a 8,8%
para o de dez. Ante o novo dado,
a Moody's rebaixou a classificação desses bônus, o que significa que a agência de risco vê agora mais chance de Atenas declarar moratória.
O efeito dominó derrubou o
euro para a pior cotação ante o
dólar em 11 meses, US$ 1,32. As
Bolsas europeias também
acompanharam a queda. Em
Londres, o recuo foi de 1,02%,
em Frankfurt, de 0,99%, e, em
Paris, de 1,33%. A Bolsa de Atenas se desvalorizou em 3,91%.
Os números do Eurostat
mostram que não é só a Grécia
que está em uma situação delicada, embora Atenas certamente seja o governo com mais
dificuldade de tomar dinheiro
emprestado a juros razoáveis.
Os britânicos têm um deficit
de 11,5%, e os espanhóis, de
11,2%. A dívida da Itália equivale a 115,8% de seu PIB (ante
115,1% da grega). Na zona do
euro, que inclui 16 países, o deficit foi de 6,3%, e a dívida, equivalente a 78,7% do PIB.
O cenário deve tornar ainda
mais difícil para a Grécia rolar
sua dívida, que tem cerca de
20 bilhões vencendo nas próximas quatro semanas.
Depois de quatro meses de
negociações, cobranças, escrutínio e promessas, o país obteve
garantias de empréstimos da
União Europeia e de uma linha
de crédito do FMI que totalizam 40 bilhões e ainda não
foram acionadas.
Segundo uma fonte no governo grego ouvida pela Folha,
Atenas deve fazer a solicitação
antes de 15 de maio. A contragosto. Bater na porta do FMI
fere os brios europeus e sempre foi lido pelo bloco como um
atestado de sua inépcia em gerenciar a própria crise.
Por outro lado, com o euro
ameaçado ante a possibilidade
de um calote grego contaminar
a percepção sobre outros países, era preciso agir. E os estatutos da UE vetam um socorro
nos moldes tradicionais, justamente para não criar um colchão para suicidas fiscais.
A situação atípica levou à
criação do pacote combinado,
com as maiores economias do
bloco, Alemanha e França, negociando uma forma de amparar Atenas ao mesmo tempo
em que seus governos tentavam mostrar a seu público doméstico que não estavam simplesmente pagando a conta de
um vizinho perdulário.
O estouro do deficit grego
veio à tona em outubro, quando o premiê socialista Georges
Papandreou chegou ao poder e
se deparou com o estouro deixado por seu antecessor conservador e camuflado pelo órgão oficial de estatísticas.
Desde então, sob o cabresto
da União Europeia, Atenas
prometeu e começou a aplicar
um rígido arrocho fiscal, que
detonou uma onda de protestos de rua e greves -a mais recente, ontem. O efeito positivo
sobre o mercado foi limitado e
pode ter chegado ao fim ontem.
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