São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2010

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Deficit fiscal da UE em 2009 é maior do que o esperado

Revisão mostra rombo ainda maior nas contas da Grécia, e agência de risco Moody's rebaixa nota da dívida do país

Dado negativo derruba o euro para a menor cotação ante o dólar em quase um ano; Bolsas de Valores do bloco também despencam

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

Dados divulgados ontem pelo Eurostat (o órgão estatístico da União Europeia) mostram que o rombo fiscal na Grécia e em outros países do bloco é ainda maior do que se estimava.
Atenas registrou em 2009 deficit de 13,6% do PIB (0,7 ponto acima do relatado antes). Na média, a UE fechou o ano com um buraco de 6,8%, o triplo do que tinha no fim de 2008 e 3,8 pontos acima do teto fixado pelo próprio bloco. A relação entre dívida e PIB dos 27 países subiu de 61,3% para 71,3%.
Os números fizeram disparar o ágio sobre os títulos da dívida grega, que superou o patamar de 10% para o papel que vence em dois anos e chegou a 8,8% para o de dez. Ante o novo dado, a Moody's rebaixou a classificação desses bônus, o que significa que a agência de risco vê agora mais chance de Atenas declarar moratória.
O efeito dominó derrubou o euro para a pior cotação ante o dólar em 11 meses, US$ 1,32. As Bolsas europeias também acompanharam a queda. Em Londres, o recuo foi de 1,02%, em Frankfurt, de 0,99%, e, em Paris, de 1,33%. A Bolsa de Atenas se desvalorizou em 3,91%.
Os números do Eurostat mostram que não é só a Grécia que está em uma situação delicada, embora Atenas certamente seja o governo com mais dificuldade de tomar dinheiro emprestado a juros razoáveis.
Os britânicos têm um deficit de 11,5%, e os espanhóis, de 11,2%. A dívida da Itália equivale a 115,8% de seu PIB (ante 115,1% da grega). Na zona do euro, que inclui 16 países, o deficit foi de 6,3%, e a dívida, equivalente a 78,7% do PIB.
O cenário deve tornar ainda mais difícil para a Grécia rolar sua dívida, que tem cerca de 20 bilhões vencendo nas próximas quatro semanas.
Depois de quatro meses de negociações, cobranças, escrutínio e promessas, o país obteve garantias de empréstimos da União Europeia e de uma linha de crédito do FMI que totalizam 40 bilhões e ainda não foram acionadas.
Segundo uma fonte no governo grego ouvida pela Folha, Atenas deve fazer a solicitação antes de 15 de maio. A contragosto. Bater na porta do FMI fere os brios europeus e sempre foi lido pelo bloco como um atestado de sua inépcia em gerenciar a própria crise.
Por outro lado, com o euro ameaçado ante a possibilidade de um calote grego contaminar a percepção sobre outros países, era preciso agir. E os estatutos da UE vetam um socorro nos moldes tradicionais, justamente para não criar um colchão para suicidas fiscais.
A situação atípica levou à criação do pacote combinado, com as maiores economias do bloco, Alemanha e França, negociando uma forma de amparar Atenas ao mesmo tempo em que seus governos tentavam mostrar a seu público doméstico que não estavam simplesmente pagando a conta de um vizinho perdulário.
O estouro do deficit grego veio à tona em outubro, quando o premiê socialista Georges Papandreou chegou ao poder e se deparou com o estouro deixado por seu antecessor conservador e camuflado pelo órgão oficial de estatísticas.
Desde então, sob o cabresto da União Europeia, Atenas prometeu e começou a aplicar um rígido arrocho fiscal, que detonou uma onda de protestos de rua e greves -a mais recente, ontem. O efeito positivo sobre o mercado foi limitado e pode ter chegado ao fim ontem.


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