São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Obama ataca bancos e cobra reforma

Presidente dos EUA incita banqueiros a "abandonar" seus "furiosos esforços" contra mudanças no sistema financeiro

Para Obama, banqueiros "falharam em suas responsabilidades" e foram os responsáveis pela crise; FMI reforça coro por mudança


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O presidente dos EUA, Barack Obama, jogou ontem seu peso político contra Wall Street para tentar forçar o Congresso a aprovar uma profunda reforma no sistema financeiro.
Citando diretamente "batalhões de lobistas de bancos" e seus "furiosos esforços" para tentar barrar as mudanças, Obama incitou os banqueiros a "abandonar a disputa" contra as reformas.
Para o presidente, os banqueiros "falharam em suas responsabilidades" e foram os responsáveis pela crise financeira global recente.
"As únicas pessoas que temem mais escrutínio e a transparência que nós estamos propondo são justamente as que não conseguirão passar por esse mesmo escrutínio", disse.
O pronunciamento de Obama foi feito perante cerca de 700 pessoas em Nova York, entre eles os principais banqueiros de Wall Street.
Em Washington, o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, reforçou a carga contra os bancos ao dizer que "chegou a hora de reformar o sistema financeiro mundial".
Além das mudanças nas regras e na supervisão sobre os bancos, o FMI também está propondo que o sistema financeiro seja taxado para contribuir em um fundo, equivalente a entre 2% e 4% do PIB (Produto Interno Bruto) de cada país.
Os recursos seriam usados para compensar governos que eventualmente venham a ter prejuízos caso o sistema financeiro tenha de ser socorrido -como houve em 2008 e 2009.
Os países-membros do G20 (grupo das 20 maiores economias) devem tentar fechar questão sobre o tema em uma próxima reunião, em junho.
Para Obama, "o modo como o sistema financeiro opera hoje levou a uma série de resgates maciços e de alto custo para os contribuintes".
"O voto pró-reforma é um voto para acabar com os socorros financiados pelos contribuintes. Essa é a verdade. Ponto final", disse Obama.

Romaria
Nesta semana, mais de 1.500 lobistas e funcionários de bancos fizeram uma romaria ao Congresso dos EUA para tentar diluir as medidas propostas pelo governo Obama.
Muitos desses lobistas de bancos vêm sendo convidados pelos próprios partidos Republicano e Democrata. Alguns dos "convites" para encontros com parlamentares custam milhares de dólares.
Um deles, enviado a bancos de Wall Street por um senador do Texas, o republicano John Cornyn, dizia: "Trata-se de uma oportunidade única para ter acesso de qualidade a congressistas republicanos em pequenas reuniões". O preço do "acesso": US$ 10 mil.
A ofensiva de Obama ontem ocorreu dias depois de a SEC (a CVM dos EUA) ter aberto uma ação contra o banco Goldman Sachs por ter causado supostos prejuízos de US$ 1 bilhão a investidores em vários países.
Três dos mais graduados funcionários do Goldman Sachs estavam na plateia do discurso de Obama, assim como representantes de bancos socorridos pelo governo na crise, como Citigroup e Bank of America.
Entre as mudanças propostas pela Casa Branca estão a criação de uma agência de proteção aos consumidores, limitação ao tamanho de alguns bancos e ao risco que eles podem assumir, limites ao pagamento de bônus e a criação de câmaras de compensação para registros das hoje obscuras operações com derivativos.
No FMI, Strauss-Kahn defendeu que essas reformas sejam implementadas coordenadamente em todo o mundo.
"Temos visto pressões políticas em vários países para que os governos ajam e implementem essas mudanças rapidamente. O risco disso, que em alguns casos já se materializa, é que diferentes partes do mundo acabarão tendo diferentes medidas. E o conjunto pode se tornar inconsistente", disse.


Texto Anterior: Deficit fiscal da UE em 2009 é maior do que o esperado
Próximo Texto: Foco: Em discurso a banqueiros, presidente é aplaudido a cada dois minutos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.