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Obama ataca bancos e cobra reforma
Presidente dos EUA incita banqueiros a "abandonar" seus "furiosos esforços" contra mudanças no sistema financeiro
Para Obama, banqueiros "falharam em suas
responsabilidades" e foram
os responsáveis pela crise;
FMI reforça coro por mudança
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O presidente dos EUA, Barack Obama, jogou ontem seu
peso político contra Wall Street
para tentar forçar o Congresso
a aprovar uma profunda reforma no sistema financeiro.
Citando diretamente "batalhões de lobistas de bancos" e
seus "furiosos esforços" para
tentar barrar as mudanças,
Obama incitou os banqueiros a
"abandonar a disputa" contra
as reformas.
Para o presidente, os banqueiros "falharam em suas responsabilidades" e foram os responsáveis pela crise financeira
global recente.
"As únicas pessoas que temem mais escrutínio e a transparência que nós estamos propondo são justamente as que
não conseguirão passar por esse mesmo escrutínio", disse.
O pronunciamento de Obama foi feito perante cerca de
700 pessoas em Nova York, entre eles os principais banqueiros de Wall Street.
Em Washington, o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, reforçou a
carga contra os bancos ao dizer
que "chegou a hora de reformar
o sistema financeiro mundial".
Além das mudanças nas regras e na supervisão sobre os
bancos, o FMI também está
propondo que o sistema financeiro seja taxado para contribuir em um fundo, equivalente
a entre 2% e 4% do PIB (Produto Interno Bruto) de cada país.
Os recursos seriam usados
para compensar governos que
eventualmente venham a ter
prejuízos caso o sistema financeiro tenha de ser socorrido
-como houve em 2008 e 2009.
Os países-membros do G20
(grupo das 20 maiores economias) devem tentar fechar
questão sobre o tema em uma
próxima reunião, em junho.
Para Obama, "o modo como o
sistema financeiro opera hoje
levou a uma série de resgates
maciços e de alto custo para os
contribuintes".
"O voto pró-reforma é um
voto para acabar com os socorros financiados pelos contribuintes. Essa é a verdade. Ponto final", disse Obama.
Romaria
Nesta semana, mais de 1.500
lobistas e funcionários de bancos fizeram uma romaria ao
Congresso dos EUA para tentar
diluir as medidas propostas pelo governo Obama.
Muitos desses lobistas de
bancos vêm sendo convidados
pelos próprios partidos Republicano e Democrata. Alguns
dos "convites" para encontros
com parlamentares custam milhares de dólares.
Um deles, enviado a bancos
de Wall Street por um senador
do Texas, o republicano John
Cornyn, dizia: "Trata-se de
uma oportunidade única para
ter acesso de qualidade a congressistas republicanos em pequenas reuniões". O preço do
"acesso": US$ 10 mil.
A ofensiva de Obama ontem
ocorreu dias depois de a SEC (a
CVM dos EUA) ter aberto uma
ação contra o banco Goldman
Sachs por ter causado supostos
prejuízos de US$ 1 bilhão a investidores em vários países.
Três dos mais graduados funcionários do Goldman Sachs
estavam na plateia do discurso
de Obama, assim como representantes de bancos socorridos
pelo governo na crise, como Citigroup e Bank of America.
Entre as mudanças propostas pela Casa Branca estão a
criação de uma agência de proteção aos consumidores, limitação ao tamanho de alguns
bancos e ao risco que eles podem assumir, limites ao pagamento de bônus e a criação de
câmaras de compensação para
registros das hoje obscuras
operações com derivativos.
No FMI, Strauss-Kahn defendeu que essas reformas sejam implementadas coordenadamente em todo o mundo.
"Temos visto pressões políticas em vários países para que os
governos ajam e implementem
essas mudanças rapidamente.
O risco disso, que em alguns casos já se materializa, é que diferentes partes do mundo acabarão tendo diferentes medidas.
E o conjunto pode se tornar inconsistente", disse.
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