São Paulo, quarta-feira, 23 de maio de 2007

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Ação do BC para conter queda do dólar piora dívida pública

Cresce parcela dos títulos atrelados à Selic; endividamento total chega a R$ 1,29 tri

Em abril, instituição emite US$ 4 bi em "swaps" que seguem juros para tentar frear recuo da moeda; cai participação dos prefixados


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os altos juros praticados no Brasil continuaram a puxar o aumento da dívida do governo federal no mês passado. No final de abril, esse endividamento havia chegado a R$ 1,286 trilhão -R$ 7,7 bilhões acima do valor apurado em março. Além disso, a atuação do Banco Central para conter a queda do dólar já começa a ser sentida nas contas do Tesouro Nacional.
O impacto dos juros reflete o elevado nível da taxa Selic, que serve de parâmetro para a rentabilidade dos títulos públicos negociados no Brasil. Hoje, essa taxa está em 12,5% ao ano.
Ao longo de abril, os gastos do governo com juros foram de R$ 11,1 bilhões, mas seu efeito na dívida foi compensado pelo resgate antecipado de alguns títulos feito pelo Tesouro.
Em março, 38,8% dos títulos públicos em circulação no país eram corrigidos pela Selic. No mês passado, essa proporção havia subido para 39,6%. Parte desse aumento reflete as operações do BC com o chamado "swap cambial reverso".
O "swap" é negociado pelo BC com o objetivo de favorecer a queda do real. Por meio desses contratos, o BC faz uma transação que equivale a uma compra de dólares no mercado futuro. Simultaneamente, é feita outra operação que corresponde a uma venda de títulos públicos corrigidos pela Selic.
Isso significa que, para conter a queda do dólar, o BC acaba elevando a parcela pós-fixada da dívida pública, justamente o que o Tesouro quer evitar -em tese, títulos pós-fixados oferecem mais risco às contas do governo pois o comportamento da Selic é imprevisível.
Em abril, o BC emitiu US$ 4 bilhões desses contratos de "swap". "É natural que tenha ocorrido essa deterioração, mas ela deve ser momentânea", diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings.
Segundo Agostini, houve uma melhora "inegável" no perfil da dívida pública nos últimos anos. Ele cita como exemplo desse avanço a maior participação dos títulos prefixados na dívida interna do governo: essa proporção estava em 6,5% em setembro de 2002 e chegou a 36,2% no mês passado.
O economista afirma que a situação "melhorou, mas ainda não está boa". Segundo ele, o ideal seria que pelo menos dois terços da dívida do governo fosse de papéis prefixados.
Além da ação do BC, o perfil da dívida pública em abril sofreu também o impacto sazonal do vencimento de grande volume de títulos prefixados. Esse tipo de vencimento se concentra no início de cada trimestre e faz a participação dos prefixados no total da dívida cair.
Em abril, os vencimentos desses papéis somaram R$ 37,8 bilhões. Ao longo do restante do trimestre, porém, novas emissões são feitas pelo Tesouro e o peso dos prefixados pode voltar aos níveis iniciais.

Dívida externa
Os números divulgados ontem mostram ainda que o peso da dívida externa na dívida total do governo continua caindo. Em abril, compromissos assumidos com credores estrangeiros estavam em R$ 134,5 bilhões -10,5% do total. No final de 2006, o endividamento externo era de R$ 143,5 bilhões, ou 11,6% do total.


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