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VINICIUS TORRES FREIRE
O silêncio dos cardeais
À beira dos 20 anos de regime constitucional, país vê crescer as conspirações e conluios no Estado, contra a sociedade
ONDE ESTÃO os "grandes líderes" da República, as "reservas morais" da nação, que
ninguém se manifesta sobre o novo
foco de infestação corrupta que a
Polícia Federal descobriu no Estado? Fingindo de mortos. Ou queimando documentos, como aquele
malandrote vulgar que a polícia flagrou churrasqueando papéis da quadrilha da empreiteira? Ou distribuindo cala-bocas a fim de amainar
o sururu na cúpula da política?
Onde estão os caciques da PSDB,
da discursalhada "ética" da campanha eleitoral de 2006, que aliás se
desvaneceu assim que passou a eleição? Passando um pente-fino na cabeleira de seus aliados e amigos, a
fim de verificar se há piolhos comprometedores nas cercanias, como
no caso do mensalão?
O PMDB e partidinhos de aluguel
cooptados pelo lulismo-petismo estão onde sempre estiveram, pastando no interior das suas "porteiras fechadas" ministeriais. Ora sem pasto,
os "demos", as lideranças do DEM, o
PFL que não ousa dizer seu nome,
ao menos não renegam suas origens
e a contumácia no vexame. Dizem
que o escândalo da Gautama é um
"problema do Executivo que não deve cair no colo do Congresso". "É
tempo de murici, cada qual cuide de
si", disse o coronel Tamarindo, um
dos oficiais da vexaminosa expedição de Moreira César contra Canudos, ao dar uma das ordens mais vulgares da história militar brasileira.
No ano que vem, o país completa
20 anos de regime constitucional e
democrático. São 20 anos de contínua desmoralização dos partidos,
débâcle que se completou com a subida do PT ao poder federal e sua
subseqüente ruína moral e política.
São 20 anos de despolitização progressiva da sociedade, contaminada
também pelo espírito do tempo de
conservantismo e derrotismo, despolitização que é traduzida pelas
forças sociais do país numa organização política em forma de corporações, ONGs, lobbies e quadrilhas.
São mais de 20 anos de estagnação
econômica, que aguçou o espírito de
saque dos coronelatos regionais e
das grandes quadrilhas político-empresariais dos Estados mais ricos,
com um e outro raro progresso recente, em lugares como São Paulo.
Para não falar de Fernando Collor,
pelo menos desde 1993, a partir da
CPI dos anões do Orçamento, foi
desfiada uma série de contubérnios
do demo, de contubérnio entre quadrilhas estatais responsáveis pelos
dinheiros públicos e parlamentares,
juízes (lembram da Anaconda e da
CPI do tráfico), empresas e bancos
(lembram dos precatórios, do Banestado, das CC5?). Mais recentemente, depois da CPI do narcotráfico, foi recorrente o flagra da camaradagem de membros federais dos
Três Poderes com bandidos mais
comuns (em número), com traficantes de drogas e armas e mortes.
O simples fato de os escândalos
ocorrerem em maior profusão e primordialmente na administração e
na votação do Orçamento, motivo
primevo e básico da existência de
Parlamentos, deveria ter provocado
uma revolução de métodos, fiscalização e punições. Se nada disso se
passa, se há conluio e conivência do
resto das lideranças mais confiáveis,
o nome da coisa é conspiração.
Onde está o presidente da Câmara? O presidente do Senado? As lideranças do governo do PT-PMDB?
vinit@uol.com.br
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