São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Crise de comida ou de petróleo?


Agência Internacional de Energia deve rever para baixo estimativa de produção nos maiores campos do mundo

QUAL O PREÇO "certo" do petróleo? Os participantes do mercado, "especuladores" ou não, decidiram que o barril ficará ainda mais caro do que agora, segundo as cotações do mercado futuro (tem gente adquirindo opções de compra de petróleo a US$ 200 para dezembro, no mercado de Nova York. São poucos, mas tem).
E o preço que permite às petroleiras manter operações e investimentos em aumento de oferta? A pergunta foi feita na quarta-feira por senadores americanos a executivos das maiores petroleiras do mundo, que depunham sob juramento.
"Entre US$ 35 e US$ 65", respondeu o presidente da Shell, John Hofmeister (à vista, nos EUA, o preço era US$ 132,78). O vice-presidente da Conoco, John Lowe: "Algo acima de US$ 90". Stephen Simon, vice da Exxon: "Senador, não tenho a menor idéia, preço é coisa do mercado".
A fama das grandes petroleiras dos EUA parece com a de bancos no Brasil. Gasolina cara é algo assim como um atentado ao cidadão. Combustíveis têm peso relevante no orçamento das famílias, que deixam de comprar bens devido a despesas com gasolina e óleo de aquecimento.
O preço médio da gasolina chegou a US$ 3,8 por galão (R$ 1,66 por litro. Em São Paulo, segundo pesquisa semanal da Folha, o litro custa em média R$ 2,43. Pois é). O galão a US$ 4 nas férias de verão é um caso político e um fator extra de problemas para a economia americana.
O Congresso americano está agitado com o caso, um sururu parecido com o de CPIs no Brasil. Surfa na onda da gasolina a fim de detonar ainda mais a imagem de George Bush, de família e governo amigos das petroleiras. Nesta semana, Bush assinou, a contragosto, uma lei que proíbe o governo de incrementar a Reserva Estratégica de Petróleo enquanto o barril estiver acima de US$ 75. A idéia é aumentar a oferta e reduzir preços -é bobagem. Na terça, a Câmara de lá aprovou lei, que Bush ameaça vetar, que permite ao Departamento de Justiça processar a Opep com base nas lei americana de cartéis.
Não resolve, claro. Nesta semana, a Agência Internacional de Energia disse que vai rever as estimativas de produção para os maiores campos de petróleo do mundo. Talvez venha a dar força, em seu relatório anual (que sai em novembro), à "teoria do pico" (a produção de petróleo chegou perto do limite). Na Rússia, segundo maior produtor, a extração de petróleo estagnou neste ano. O Iraque é um caos.
O Irã tem dificuldades devido a embargos comerciais. A Nigéria vive guerra civil. Grandes campos europeus e americanos declinam.
Taiwan anunciou ontem que vai cortar o subsídio do combustível. A Indonésia disse que vai permitir reajustes, depois de três anos. Na Ásia, o subsídio é pesado e custa cada vez mais caro para os Tesouros nacionais. Mas a China, com a inflação em alta, avisou que seus preços continuam tabelados. O petróleo foi a grande commodity que mais subiu em um ano, afora o trigo, no preço à vista. Entre grandes analistas e "players" do mercado, ninguém se entende sobre o futuro do preço. Mas, a US$ 135 o barril, já está caro o bastante para criar rolos políticos e deteriorar prognósticos no mundo rico.

vinit@uol.com.br


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