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Governo paulista já sofre pressão de bancos privados
Eles temem avanço do Banco do Brasil em SP e ingerência política no negócio
Depósitos judiciais de
R$ 16 bi que não podem ser vendidos aos bancos privados favorecem BB, diz presidente da Nossa Caixa
CATIA SEABRA
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Contrariados com a possibilidade de avanço do Banco do
Brasil em São Paulo, os bancos
privados já pressionam o governo do Estado por causa das
negociações para a venda da
Nossa Caixa, segundo apurou a
Folha.
Os bancos privados alertam
para o risco de que a operação
seja objeto de influência política, que beneficiaria as instituições públicas na disputa pelo
mercado paulista. Anteontem,
o presidente da Febraban, Fabio Barbosa, manifestou à Folha sua preocupação de que o
negócio não siga "regras de
mercado".
O fato é que um ativo de R$
16 bilhões, relativo aos depósitos judiciais, pavimenta a venda da Nossa Caixa para o Banco
do Brasil. Segundo integrantes
do governo Serra, não está descartada a negociação com instituições privadas, mas a legislação prevê que os depósitos judiciais devem ficar em bancos públicos, como o Banco do Brasil.
Na Nossa Caixa, os depósitos
judiciais somam R$ 16 bilhões,
praticamente o dobro do total
de depósitos em poupança, de
cerca de R$ 9 bilhões. Sem direito aos depósitos judiciais, os
bancos privados ofereceriam
um preço menos vantajoso para o Estado, como explica o próprio presidente da Nossa Caixa,
Milton Luiz de Melo Santos.
"Um dos fatores mais relevantes na formação do preço é
o fato de que os depósitos judiciais permanecem em uma instituição financeira pública.
Num banco privado, por força
da lei, esses depósitos judiciais
não permaneceriam", disse ele,
admitindo que o negócio ficaria
"menos atraente": "Bem menos
atraente, o valor [pago] ficaria
muito menor, e o governo não
teria interesse em vender para
um banco privado", disse o presidente do banco.
Santos evita falar sobre a negociação. "O assunto deve ser
tratado com o acionista controlador, que é o governo. Sou um
executivo do banco. Estou tocando o banco, procurando fazer com que seja o mais rentável possível, mas esse assunto
não é da minha alçada", disse o
presidente da Nossa Caixa.
Além do interesse do BB pelos depósitos judiciais, a venda
para um banco estatal é bem
mais palatável politicamente.
Na Assembléia Legislativa de
São Paulo, a privatização enfrentaria a oposição até mesmo
de tucanos. Agora, com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nem os petistas imporiam muita resistência
ao negócio.
A rede de agências e as operações da Nossa Caixa interessa a
todos os bancos comerciais, especialmente ao Bradesco, que
busca reconquistar sua liderança em São Paulo, que será perdida após a incorporação do
ABN Real pelo Santander.
Com a Nossa Caixa, o BB somará 1.241 agências e deverá
assumir a liderança no Estado.
Juntos, o Santander e o ABN
Real somam cerca de 1.200
agências, enquanto o Bradesco
têm 1.022, e o Itaú, 816.
No ano passado, a venda sem
licitação da folha de pagamentos dos servidores paulistas para a Nossa Caixa por R$ 2 bilhões enfureceu os demais concorrentes, que procuraram barrar o negócio na Justiça.
Banco do Brasil e Nossa Caixa buscam ganhar eficiência e
diminuir custos fixos com sua
operação. Nos últimos anos,
ambos os bancos ficaram para
traz em relação à concorrência
em termos de lucratividade e
de retorno para o acionista, indicador medido pela rentabilidade sobre o patrimônio líquido. Enquanto Itaú e Bradesco
apresentam retorno da ordem
de 25,5% e 29,44% do patrimônio, o BB e a Nossa Caixa estão
ainda em 23% e 11,5%, respectivamente, segundo dados da
consultoria Economática.
Na Nossa Caixa, a notícia sobre o negócio causou surpresa
pelo momento, considerado
politicamente inadequado tendo em vista as eleições municipais de outubro. Desde que
Santos assumiu a presidência
do banco paulista, os funcionários sentiram que a função dele
seria sanear e preparar o banco
para uma possível venda.
No mercado financeiro, o
principal temor é que o Banco
do Brasil acabe pagando um
preço exorbitante pelo banco
estatal paulista.
Como as ações de ambos os
bancos são populares na Bolsa,
a expectativa é que a negociação mexa com os brios dos investidores a partir de hoje.
Agronegócio
Em jogo está também a presença do Banco do Brasil no
agronegócio paulista, o mais
consolidado do país e que começa a despertar a cobiça do
espanhol Santander, entre os
outros bancos.
A presença tímida no interior
de São Paulo torna o Banco do
Brasil, líder no financiamento
no campo, vulnerável a perder
mercado no Estado, especialmente entre os pequenos e médios agricultores, vários deles
clientes da Nossa Caixa.
A Nossa Caixa agrega ainda
uma carteira importante de financiamento imobiliário, setor
em que o Banco do Brasil chegou atrasado em relação à concorrência. Até pouco tempo
atrás, o governo federal deixava
a exploração do crédito imobiliário para a CEF (Caixa Econômica Federal).
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