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Especialistas criticam Vale por cortar investimento
Para uma parte deles, não faz sentido a mineradora investir US$ 5 bilhões a menos neste ano tendo US$ 12 bilhões em seu caixa
SAMANTHA LIMA
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A decisão da Vale de desacelerar investimentos é alvo de
questionamento por parte dos
especialistas em mineração. A
avaliação de parte deles é que
não faz sentido a maior companhia privada do país gastar US$
5 bilhões a menos, se tem em
seu caixa US$ 12 bilhões intocados. Na quinta-feira, a companhia anunciou que reduziria
de US$ 14 bilhões para US$ 9
bilhões seu plano de investir
em 2009 -um corte de 36%.
Os US$ 12 bilhões em caixa
foram resultantes da oferta de
ações que a empresa fez em julho de 2008 para se capitalizar.
Na época, a Vale tinha planos
de adquirir a mineradora anglo-suíça Xtrata, que chegou a
ser avaliada em US$ 90 bilhões.
A Xtrata acabou não sendo
comprada porque os controladores não aceitaram a oferta.
Hoje, o valor de mercado da
Xtrata é de US$ 28 bilhões.
Com todo esse dinheiro, a
Vale deveria aproveitar para investir mais, uma vez que os projetos ficaram mais baratos, e
assim se preparar para quando
as encomendas de minério voltarem a crescer, diz um ex-executivo da empresa.
O executivo lembra que, para
desenvolver a mina de Brucutu,
em Minas -a maior do Sudeste-, a Vale gastou US$ 1 bilhão,
ou três vezes o previsto inicialmente, porque os custos, acompanhando a demanda, estavam
nas alturas. Já que a economia
não faz sentido financeiro, a
suspeita é que a Vale esteja
"economizando" para poder fazer aquisições pelo mundo.
"Existem alguns ativos não
tão grandiosos, mas que podem
interessar à empresa", afirma
Gilberto Cardoso, analista de
mineração do Banif Securities.
Fornecedores da Vale já sofriam com o corte antes mesmo
do anúncio oficial. A indústria
de máquinas e equipamentos
enfrenta queda de 40% nas encomendas da mineradora em
relação ao período pré-crise.
"Há um amontoado de orçamentos que a Vale pediu e não
mandou executar. Eles não estão comprando nada", diz José
Velloso, presidente da Abimaq
(reúne as indústrias de máquinas e equipamentos).
A Vale argumenta que não
cortou projetos, mas os "reprogramou" em razão da demanda
mais enfraquecida neste ano.
Para a Vale, não é necessário
correr para implantar novas
minas se está vendendo menos
minério de ferro. A crise derrubou a demanda em 30%. A estratégia é aguardar a melhora
do mercado e a recuperação
dos preços antes de acelerar
novamente os investimentos.
Sob essa lógica, a Vale adiou
dois grandes projetos, os maiores em curso: as minas de níquel de Onça Puma (Pará) e de
Goro, na Indonésia. É que a crise fez o preço do metal despencar e reduziu a rentabilidade
dos projetos. "A decisão da Vale
já era esperada. A companhia
procurou preservar seu caixa",
disse Antônio Emílio Ruiz, analista do Banco do Brasil especialista no setor de mineração.
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