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LUÍS NASSIF
A CSN é questão nacional
Nesta semana, Benjamin Steinbruch, da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional),
dará prosseguimento à sua tentativa de elucidar aspectos polêmicos da compra da CSN pela britânica Corus. Terá de apresentar argumentos sólidos para
comprovar que, em lugar da venda da CSN, houve uma fusão que permitirá ao menor adquirir o controle do maior -conforme vem sendo propalado.
Fusão é outra coisa. As duas empresas que se fundem desaparecem dando lugar a uma terceira, que irá assumir os ativos de ambas.
Não é isso o que vai ocorrer. A Corus assumirá o controle da CSN e pagará aos seus acionistas com papéis dela própria. Ou seja, além de vender o controle
da CSN, haverá a exportação do capital dela, sem que entre um dólar no país. Os executivos da Corus estão dando entrevistas para os principais jornais do
mundo falando de seus planos
de aproveitar o ferro brasileiro
para conseguir maior competitividade. Falam como virtuais
controladores da companhia.
Menciona-se a criação de
uma holding nacional que englobe as participações dos fundos de pensão -por lei, proibidos de aplicar fora do país. Mas
os únicos ativos da holding serão as ações da Corus, a serem
dadas em pagamento.
Esse é o resultado final dessa
falta de planejamento e de visão
estratégica na privatização do
setor siderúrgico e também do
petroquímico. Optou-se pelo
maior preço apenas. Por conta
disso, houve o saudável estímulo à competição, mas absoluta
imprudência em financiar grupos descapitalizados ou em permitir que tivessem o apoio de
fundos de pensão -muitas vezes em processos pouco transparentes.
Hoje em dia, a CSN é a melhor
empresa de produção de aço do
mundo. Nas mãos de uma Votorantim ou uma Gerdau, teria se
transformado em uma gigante
mundial do aço. No entanto decidiu-se financiar compradores
sem cacife financeiro. Os grupos
Rabinovitch-Steinbruch tinham
tradição na área têxtil, mas não
tinham cacife para a aquisição.
Em outros países existem
grandes empresas com problemas. Aqui no Brasil esse processo resultou no contrário: empresas sólidas foram vendidas a
controladores com problemas. O
resultado foi que, nos últimos
anos, a CSN foi espoliada com
uma política agressiva de distribuição de dividendos visando
permitir aos seus controladores
quitar os financiamentos contraídos para sua aquisição.
A empresa se endividou para
poder pagar dividendos fabulosos. Agora, quando o gás acaba,
tem-se essa dupla perda: o controle deixa de ser nacional e o
capital será exportado. E o prêmio de consolação será Benjamin Steinbruch presidindo o
conselho de administração.
Seria relevante que o BNDES e
os investidores institucionais se
debruçassem sobre a operação
não apenas do ângulo financeiro, mas do interesse nacional.
Esse é o poder de veto de que o
governo dispõe para redefinir
uma política siderúrgica que
contemple o interesse nacional.
E manter o controle da CSN no
país não é manifestação extemporânea de nacionalismo, mas
ponto estratégico em qualquer política de desenvolvimento.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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