São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 2002

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LUÍS NASSIF

A CSN é questão nacional

Nesta semana, Benjamin Steinbruch, da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), dará prosseguimento à sua tentativa de elucidar aspectos polêmicos da compra da CSN pela britânica Corus. Terá de apresentar argumentos sólidos para comprovar que, em lugar da venda da CSN, houve uma fusão que permitirá ao menor adquirir o controle do maior -conforme vem sendo propalado.
Fusão é outra coisa. As duas empresas que se fundem desaparecem dando lugar a uma terceira, que irá assumir os ativos de ambas.
Não é isso o que vai ocorrer. A Corus assumirá o controle da CSN e pagará aos seus acionistas com papéis dela própria. Ou seja, além de vender o controle da CSN, haverá a exportação do capital dela, sem que entre um dólar no país. Os executivos da Corus estão dando entrevistas para os principais jornais do mundo falando de seus planos de aproveitar o ferro brasileiro para conseguir maior competitividade. Falam como virtuais controladores da companhia.
Menciona-se a criação de uma holding nacional que englobe as participações dos fundos de pensão -por lei, proibidos de aplicar fora do país. Mas os únicos ativos da holding serão as ações da Corus, a serem dadas em pagamento.
Esse é o resultado final dessa falta de planejamento e de visão estratégica na privatização do setor siderúrgico e também do petroquímico. Optou-se pelo maior preço apenas. Por conta disso, houve o saudável estímulo à competição, mas absoluta imprudência em financiar grupos descapitalizados ou em permitir que tivessem o apoio de fundos de pensão -muitas vezes em processos pouco transparentes.
Hoje em dia, a CSN é a melhor empresa de produção de aço do mundo. Nas mãos de uma Votorantim ou uma Gerdau, teria se transformado em uma gigante mundial do aço. No entanto decidiu-se financiar compradores sem cacife financeiro. Os grupos Rabinovitch-Steinbruch tinham tradição na área têxtil, mas não tinham cacife para a aquisição.
Em outros países existem grandes empresas com problemas. Aqui no Brasil esse processo resultou no contrário: empresas sólidas foram vendidas a controladores com problemas. O resultado foi que, nos últimos anos, a CSN foi espoliada com uma política agressiva de distribuição de dividendos visando permitir aos seus controladores quitar os financiamentos contraídos para sua aquisição.
A empresa se endividou para poder pagar dividendos fabulosos. Agora, quando o gás acaba, tem-se essa dupla perda: o controle deixa de ser nacional e o capital será exportado. E o prêmio de consolação será Benjamin Steinbruch presidindo o conselho de administração.
Seria relevante que o BNDES e os investidores institucionais se debruçassem sobre a operação não apenas do ângulo financeiro, mas do interesse nacional. Esse é o poder de veto de que o governo dispõe para redefinir uma política siderúrgica que contemple o interesse nacional. E manter o controle da CSN no país não é manifestação extemporânea de nacionalismo, mas ponto estratégico em qualquer política de desenvolvimento.

E-mail - lnassif@uol.com.br



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