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Para analistas, negócio foi caro mas promissor
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar de ter pago caro por
uma empresa que está perdendo
dinheiro com a crise argentina,
especialistas ouvidos pela Folha
dizem que a Petrobras arriscou
para ser tornar uma das três petroleiras de classe internacional
da região. As outras duas serão a
PDVSA (estatal da Venezuela) e
Pemex (estatal do México).
Com a compra da Perez Companc, ainda recupera o fôlego na
petroquímica, setor que havia sido alvo da privatização dos ativos
da subsidiária Petroquisa.
A argentina YPF, controlada pela Repsol (Espanha), não deve ficar na lista, pois perderá espaço
para as concorrentes e será obrigada até a vender parte de seus
negócios, prevêem os analistas.
"A Perez é de um porte expressivo na América Latina. Com o
negócio, a Petrobras finca uma estaca importante", disse David
Zylbersztajn, ex-diretor-geral da
Agência Nacional de Petróleo.
Para o analista de petróleo do
Unibanco, Cleomar Parisi, a Petrobras pagou caro pela aquisição. "Olhando à primeira vista, o
valor [US$ 1,1 bilhão] é alto, uma
vez que a Pecom está com um caixa ruim por causa da crise. Por isso, as ações caíram."
Mas Parisi afirma que pelas reservas de óleo, o preço foi bom: a
estatal pagou US$ 2,40 por barril,
enquanto as últimas aquisições
foram a US$ 3,50.
Adriano Pires, ex-assessor da
ANP e professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, avalia
que a Petrobras começou tarde a
fazer o que a PDVSA -uma das
maiores empresas de petróleo do
mundo- iniciou há dez anos.
"A PDVSA refina 1,5 milhão de
barris no exterior e a mesma
quantidade na Venezuela. Tem a
segunda maior cadeia de postos
dos EUA. Isso tudo para reduzir o
custo de capital."
Os especialistas dizem ainda
que não está fora dos planos da
estatal brasileira novas aquisições, como a tão sonhada -e alvo de críticas- refinaria nos EUA
e outra empresa na Argentina, a
Santa Fé (da Devon).
"A Petrobras fez o que todas as
gigantes estão fazendo. Se não
crescer com aquisições, ela será
engolida", disse Zylbersztajn.
Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e ex-diretor financeiro da Petrobras, disse
que, neste momento de escassez
de moeda estrangeira, a Petrobras
teria de ter pensado melhor antes
de fazer uma "despesa dessas em
dólar", remetendo mais de US$ 1
bilhão para o exterior.
Com a compra da Perez Companc, a Petrobras volta a investir
num setor que começou a ser privatizado a partir de 1992. O maior
negócio da Pecom no Brasil é a
petroquímica Innova, que produz
plásticos no Rio Grande do Sul.
Somados aos ativos que comprou agora na Argentina, a Petroquisa, braço petroquímico da Petrobras, que depois da desestatização do setor não controla mais
nenhum das três centrais brasileiras deve partir para o ataque.
No mercado, espera-se que a
Petroquisa compre a Ipiranga Petroquímica, que controla 29% da
Copesul (pólo gaúcho) e cuja venda estava sendo negociada justamente com a Pecom.
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