São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 2002

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Para analistas, negócio foi caro mas promissor

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de ter pago caro por uma empresa que está perdendo dinheiro com a crise argentina, especialistas ouvidos pela Folha dizem que a Petrobras arriscou para ser tornar uma das três petroleiras de classe internacional da região. As outras duas serão a PDVSA (estatal da Venezuela) e Pemex (estatal do México).
Com a compra da Perez Companc, ainda recupera o fôlego na petroquímica, setor que havia sido alvo da privatização dos ativos da subsidiária Petroquisa.
A argentina YPF, controlada pela Repsol (Espanha), não deve ficar na lista, pois perderá espaço para as concorrentes e será obrigada até a vender parte de seus negócios, prevêem os analistas.
"A Perez é de um porte expressivo na América Latina. Com o negócio, a Petrobras finca uma estaca importante", disse David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo.
Para o analista de petróleo do Unibanco, Cleomar Parisi, a Petrobras pagou caro pela aquisição. "Olhando à primeira vista, o valor [US$ 1,1 bilhão] é alto, uma vez que a Pecom está com um caixa ruim por causa da crise. Por isso, as ações caíram."
Mas Parisi afirma que pelas reservas de óleo, o preço foi bom: a estatal pagou US$ 2,40 por barril, enquanto as últimas aquisições foram a US$ 3,50.
Adriano Pires, ex-assessor da ANP e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, avalia que a Petrobras começou tarde a fazer o que a PDVSA -uma das maiores empresas de petróleo do mundo- iniciou há dez anos.
"A PDVSA refina 1,5 milhão de barris no exterior e a mesma quantidade na Venezuela. Tem a segunda maior cadeia de postos dos EUA. Isso tudo para reduzir o custo de capital."
Os especialistas dizem ainda que não está fora dos planos da estatal brasileira novas aquisições, como a tão sonhada -e alvo de críticas- refinaria nos EUA e outra empresa na Argentina, a Santa Fé (da Devon).
"A Petrobras fez o que todas as gigantes estão fazendo. Se não crescer com aquisições, ela será engolida", disse Zylbersztajn.
Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e ex-diretor financeiro da Petrobras, disse que, neste momento de escassez de moeda estrangeira, a Petrobras teria de ter pensado melhor antes de fazer uma "despesa dessas em dólar", remetendo mais de US$ 1 bilhão para o exterior.
Com a compra da Perez Companc, a Petrobras volta a investir num setor que começou a ser privatizado a partir de 1992. O maior negócio da Pecom no Brasil é a petroquímica Innova, que produz plásticos no Rio Grande do Sul.
Somados aos ativos que comprou agora na Argentina, a Petroquisa, braço petroquímico da Petrobras, que depois da desestatização do setor não controla mais nenhum das três centrais brasileiras deve partir para o ataque.
No mercado, espera-se que a Petroquisa compre a Ipiranga Petroquímica, que controla 29% da Copesul (pólo gaúcho) e cuja venda estava sendo negociada justamente com a Pecom.



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