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AGROFOLHA
COMÉRCIO
Falta de qualidade do produto brasileiro faz com que ganhos com exportações sejam menores que o possível
Brasil deixa de ganhar US$ 2 bi com couro
JOSÉ SERGIO OSSE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil deixa de ganhar cerca de US$ 2 bilhões por ano por não investir na qualidade do couro obtido a partir do gado abatido para a produção de carne. No
país, apenas 8,56% do couro produzido é considerado de alta qualidade, contra 85% da produção dos EUA com essa qualificação.
De acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Gado de Corte, a qualidade do couro produzido no Brasil, é extremamente baixa em
relação à de outros países.
Da produção anual de 32 milhões de unidades, só 35% são exportados e, em geral, apenas couro semi-acabado (wet blue), com menor valor no exterior.
A produção brasileira que não é exportada é reaproveitada internamente. Ainda assim, pouco desse material é utilizado na fabricação de calçados (com maior valor agregado). Atualmente, 80% do couro utilizado pela indústria
de calçados ainda é importado da
Argentina e do Uruguai.
Segundo Edson Espíndola, pesquisador da Embrapa Gado de
Corte, o produtor brasileiro de gado não tem incentivo nenhum para cuidar da qualidade do couro.
A baixa remuneração que é dada
ao pecuarista pelo produto não
estimula gastos na propriedade
para melhorar sua qualidade. Tenha qualidade ou não, o valor pago ao agricultor é fixo, diz.
"O produtor recebe um valor
pequeno -de 7% a 10% do preço
do animal, que é em média de R$
700- do frigorífico a título de indenização pelo couro. A indenização pequena não estimula um
cuidado maior com a qualidade",
declarou.
Espíndola afirma que o primeiro passo para tentar melhorar a
qualidade do couro produzido no
país é conscientizar o produtor.
Segundo ele, 60% dos defeitos no
couro ocorrem com o animal ainda dentro da propriedade.
O uso errado de marcadores de
ferro, ferimentos causados por
arames farpados e carrapatos são
os problemas mais comuns. A
prevenção, diz, seria simples. Pequenas mudanças na propriedade e maior cuidado no manejo
dos animais já seriam suficientes
para aumentar a qualidade.
Outros 10% dos defeitos ocorrem durante o transporte dos animais da fazenda ao frigorífico.
Grande parte dos caminhões que
fazem esse transporte é velha e
não é adaptada para isso. Assim,
os animais machucam-se em parafusos e em correntes, danificando ainda mais o couro.
"O problema é que algumas
dessas mudanças, apesar de simples, são caras. Trocar o arame
farpado por arame liso, por exemplo, custa muito dinheiro. Adaptar caminhões, então, nem se fala", diz o Espíndola. "E, como isso
não geraria melhor rendimento,
fica difícil convencer o produtor a
fazer as mudanças."
Segundo ele, uma forma eficaz
de fazer os pecuaristas cuidarem
melhor do couro seria criar incentivos oficiais à atividade. Ele cita a
iniciativa do governo de Mato
Grosso, que oferece desconto sobre o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) para carcaças de bovinos que
estejam dentro de certos padrões.
"Algo assim poderia ser feito
para o couro. Mas, na verdade, só
melhorando a remuneração do
produtor na venda do couro é que
a qualidade vai melhorar", diz ele.
Para ele, é preciso que os frigoríficos adotem padrões diferenciados de pagamento para couros
com maior qualidade. Assim, diz,
o pecuarista terá um incentivo
real e imediato para cuidar da
qualidade do produto.
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