São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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NO AZUL

Transações correntes em junho têm superávit de US$ 2 bi; para BC, resultado reduz vulnerabilidade, mas põe crescimento em risco

Contas externas voltam a ter saldo recorde

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma redução na vulnerabilidade externa do país, mas um possível obstáculo ao crescimento da economia. É assim que o Banco Central vê os resultados recordes, divulgados ontem, alcançados pelas contas externas brasileiras nos últimos meses.
Junho foi o segundo mês seguido em que o saldo das transações correntes -que contabiliza os bens e serviços negociados com outros países- bateu recorde: o superávit, de US$ 2,058 bilhões, foi o maior já registrado no país desde que o BC passou a calcular esse indicador, em 1947.
A conta de transações correntes inclui a balança comercial, a balança de serviços (pagamento de juros da dívida externa, gastos com viagens internacionais e remessas de lucros ao exterior, entre outros itens) e as transferências unilaterais (recursos enviados para o Brasil por residentes no exterior, e vice-versa).
No Brasil, esse saldo costuma ser negativo. Em 2003, ficou positivo pela primeira vez desde 1992, graças, principalmente, ao saldo da balança comercial. Nos últimos 12 meses, o superávit em transações correntes alcançou valor equivalente a 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto).

Vulnerabilidade
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, afirma que o superávit em transações correntes deve, por um lado, ser comemorado. "O resultado é significativo, porque reduz muito a vulnerabilidade externa do país", afirma.
Quando se tem déficit nesse indicador, é preciso atrair recursos para financiar o desequilíbrio. Dessa forma, empréstimos e investimentos estrangeiros ingressam no país para compensar as remessas de dólares ao exterior.
Vista de outra maneira, porém, a existência de um déficit em transações correntes significa que o país apenas está pagando, na forma de juros e dividendos, pelo capital estrangeiro que recebe e que ajuda a estimular o crescimento econômico. Logo, o déficit em transações correntes é normalmente observado em regiões menos desenvolvidas, que usam recursos de outros países para financiar seu crescimento.
"O déficit representa recursos externos que vêm para complementar a poupança interna do país", afirma Lopes.
Por outro lado, os países que têm superávit nesse indicador são aqueles que exportam capital, em vez de utilizá-lo no seu próprio desenvolvimento.
"Manter superávit expressivo por um período longo não é desejável. O que se deseja é que, depois de um certo tempo, se possa trabalhar em equilíbrio, ou até com um leve déficit", diz Lopes.
Para ele, "um déficit pequeno em transações correntes é desejável, pois isso significa ingresso de poupança externa no país, que vai auxiliar a gerar o desenvolvimento [econômico] requerido".
Em 2002, a conta de transações correntes ficou negativa em US$ 7,637 bilhões. No ano passado, houve um superávit de US$ 4,016 bilhões. No primeiro semestre deste ano, o resultado acumulado é de US$ 4,415 bilhões.
Segundo pesquisa feita pelo Banco Central entre analistas de mercado, o saldo deve ficar positivo em US$ 6 bilhões neste ano e em US$ 220 milhões em 2005. Essa queda se explica pela projeção de que, devido à retomada do crescimento econômico, possa ocorrer um aumento nas importações, o que reduziria o superávit da balança comercial.


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