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NO AZUL
Transações correntes em junho têm superávit de US$ 2 bi; para BC, resultado reduz vulnerabilidade, mas põe crescimento em risco
Contas externas voltam a ter saldo recorde
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma redução na vulnerabilidade externa do país, mas um possível obstáculo ao crescimento da
economia. É assim que o Banco
Central vê os resultados recordes,
divulgados ontem, alcançados pelas contas externas brasileiras nos
últimos meses.
Junho foi o segundo mês seguido em que o saldo das transações
correntes -que contabiliza os
bens e serviços negociados com
outros países- bateu recorde: o
superávit, de US$ 2,058 bilhões,
foi o maior já registrado no país
desde que o BC passou a calcular
esse indicador, em 1947.
A conta de transações correntes
inclui a balança comercial, a balança de serviços (pagamento de
juros da dívida externa, gastos
com viagens internacionais e remessas de lucros ao exterior, entre outros itens) e as transferências unilaterais (recursos enviados para o Brasil por residentes
no exterior, e vice-versa).
No Brasil, esse saldo costuma
ser negativo. Em 2003, ficou positivo pela primeira vez desde 1992,
graças, principalmente, ao saldo
da balança comercial. Nos últimos 12 meses, o superávit em
transações correntes alcançou valor equivalente a 1,5% do PIB
(Produto Interno Bruto).
Vulnerabilidade
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes,
afirma que o superávit em transações correntes deve, por um lado,
ser comemorado. "O resultado é
significativo, porque reduz muito
a vulnerabilidade externa do
país", afirma.
Quando se tem déficit nesse indicador, é preciso atrair recursos
para financiar o desequilíbrio.
Dessa forma, empréstimos e investimentos estrangeiros ingressam no país para compensar as
remessas de dólares ao exterior.
Vista de outra maneira, porém,
a existência de um déficit em transações correntes significa que o
país apenas está pagando, na forma de juros e dividendos, pelo capital estrangeiro que recebe e que
ajuda a estimular o crescimento
econômico. Logo, o déficit em
transações correntes é normalmente observado em regiões menos desenvolvidas, que usam recursos de outros países para financiar seu crescimento.
"O déficit representa recursos
externos que vêm para complementar a poupança interna do
país", afirma Lopes.
Por outro lado, os países que
têm superávit nesse indicador são
aqueles que exportam capital, em
vez de utilizá-lo no seu próprio
desenvolvimento.
"Manter superávit expressivo
por um período longo não é desejável. O que se deseja é que, depois
de um certo tempo, se possa trabalhar em equilíbrio, ou até com
um leve déficit", diz Lopes.
Para ele, "um déficit pequeno
em transações correntes é desejável, pois isso significa ingresso de
poupança externa no país, que vai
auxiliar a gerar o desenvolvimento [econômico] requerido".
Em 2002, a conta de transações
correntes ficou negativa em US$
7,637 bilhões. No ano passado,
houve um superávit de US$ 4,016
bilhões. No primeiro semestre
deste ano, o resultado acumulado
é de US$ 4,415 bilhões.
Segundo pesquisa feita pelo
Banco Central entre analistas de
mercado, o saldo deve ficar positivo em US$ 6 bilhões neste ano e
em US$ 220 milhões em 2005. Essa queda se explica pela projeção
de que, devido à retomada do
crescimento econômico, possa
ocorrer um aumento nas importações, o que reduziria o superávit
da balança comercial.
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