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Espanha apóia oferta de europeus
MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A Espanha apóia a posição européia sobre as negociações de
um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia. Contudo seu governo pretende ser uma espécie de elo entre
os dois blocos para buscar aproximar as posições, hoje consideradas inaceitáveis por ambos.
A afirmação é de Miguel Ángel
Moratinos, ministro das Relações
Exteriores e da Cooperação da Espanha, que ontem se encontrou
com seu colega brasileiro, Celso
Amorim, e com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Moratinos disse que os investimentos espanhóis no país chegarão a US$ 500 milhões em 2004.
Afirmou, porém, serem necessários instrumentos jurídicos para
garanti-los.
Leia a seguir trechos de sua entrevista à Folha.
Folha - O governo Zapatero acusa
o anterior, de José María Aznar, de
ter negligenciado a América Latina
e o Brasil. Todavia houve fortes investimentos espanhóis no Brasil
nesse período. A tendência vai continuar?
Moratinos - Os investimentos
eram privados, não do governo
Aznar. O governo Zapatero vai fomentar, consolidar e relançar os
investimentos no Brasil. Neste
ano, os investimentos espanhóis
no país chegarão a US$ 500 milhões. Afinal, queremos ter com o
Brasil uma relação muito mais intensa em todos os campos.
Folha - O sr. trouxe alguma demanda específica das empresas espanholas a Lula?
Moratinos - Não, creio que tudo
vá bem atualmente nessa área. As
empresas espanholas foram bem
acolhidas no Brasil, e há um diálogo construtivo. Se houver pequenas dificuldades, a embaixada poderá ajudar as empresas a superá-las. Logicamente, as empresas
buscam aumentar seus benefícios
dentro da lei e defendem seus interesses.
Queremos só que haja garantias
jurídicas para facilitar os investimentos, que podem contribuir
para o desenvolvimento social do
Brasil. Para tanto, é necessário
que haja uma associação construtiva entre as autoridades, os empresários e a sociedade. As empresas podem ter lucros, mas devem colaborar com o desenvolvimento social dos países.
Folha - O Mercosul não aceitou a
proposta européia de acordo de livre comércio por conta da questão
agrícola. Qual é a posição espanhola?
Moratinos - Estamos ainda numa fase de negociações. Devemos
avançar, existem fases em que os
avanços são mais fáceis e outras
em que as negociações são complexas. Há ainda momentos para
refletir sobre os temas antes da retomada das negociações.
Trata-se de um processo dinâmico. Por ora, a Espanha apóia a
posição da União Européia. Porém também servimos de intermediários para passar a nossos
parceiros europeus os anseios
brasileiros e vice-versa. Com isso,
quando voltarmos às negociações, saberemos que será preciso
fazer um esforço para aproximar
as posições atuais e chegar a um
acordo satisfatório para todos.
Folha - Por que a Espanha mudou
de posição para facilitar a aprovação da futura Constituição européia?
Moratinos - O atual governo espanhol é pró-Europa e pretende
ajudar na construção européia. É
exatamente isso que fizemos
quando decidimos facilitar a
aprovação da Constituição. Esta é
positiva para os interesses espanhóis e para os europeus. Hoje a
Espanha tem mais influência na
UE e uma maior capacidade de
atuação por conta da nova Carta.
Folha - O sr. crê que a UE possa
dotar-se de uma política externa e
de segurança comum apesar das
divergências atuais?
Moratinos - Sem dúvida. Fui um
dos pioneiros da concepção dessa
política, que, pouco a pouco, se
torna uma realidade. Quando o
bloco tiver um chanceler -em
dois anos- e uma capacidade cada vez maior de tomar decisões
por maioria qualificada, não por
unanimidade, construiremos
nossa política externa e de segurança comum.
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