São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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Espanha apóia oferta de europeus

MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A Espanha apóia a posição européia sobre as negociações de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia. Contudo seu governo pretende ser uma espécie de elo entre os dois blocos para buscar aproximar as posições, hoje consideradas inaceitáveis por ambos.
A afirmação é de Miguel Ángel Moratinos, ministro das Relações Exteriores e da Cooperação da Espanha, que ontem se encontrou com seu colega brasileiro, Celso Amorim, e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Moratinos disse que os investimentos espanhóis no país chegarão a US$ 500 milhões em 2004. Afirmou, porém, serem necessários instrumentos jurídicos para garanti-los.
Leia a seguir trechos de sua entrevista à Folha.
 

Folha - O governo Zapatero acusa o anterior, de José María Aznar, de ter negligenciado a América Latina e o Brasil. Todavia houve fortes investimentos espanhóis no Brasil nesse período. A tendência vai continuar?
Moratinos -
Os investimentos eram privados, não do governo Aznar. O governo Zapatero vai fomentar, consolidar e relançar os investimentos no Brasil. Neste ano, os investimentos espanhóis no país chegarão a US$ 500 milhões. Afinal, queremos ter com o Brasil uma relação muito mais intensa em todos os campos.

Folha - O sr. trouxe alguma demanda específica das empresas espanholas a Lula?
Moratinos -
Não, creio que tudo vá bem atualmente nessa área. As empresas espanholas foram bem acolhidas no Brasil, e há um diálogo construtivo. Se houver pequenas dificuldades, a embaixada poderá ajudar as empresas a superá-las. Logicamente, as empresas buscam aumentar seus benefícios dentro da lei e defendem seus interesses.
Queremos só que haja garantias jurídicas para facilitar os investimentos, que podem contribuir para o desenvolvimento social do Brasil. Para tanto, é necessário que haja uma associação construtiva entre as autoridades, os empresários e a sociedade. As empresas podem ter lucros, mas devem colaborar com o desenvolvimento social dos países.

Folha - O Mercosul não aceitou a proposta européia de acordo de livre comércio por conta da questão agrícola. Qual é a posição espanhola?
Moratinos -
Estamos ainda numa fase de negociações. Devemos avançar, existem fases em que os avanços são mais fáceis e outras em que as negociações são complexas. Há ainda momentos para refletir sobre os temas antes da retomada das negociações.
Trata-se de um processo dinâmico. Por ora, a Espanha apóia a posição da União Européia. Porém também servimos de intermediários para passar a nossos parceiros europeus os anseios brasileiros e vice-versa. Com isso, quando voltarmos às negociações, saberemos que será preciso fazer um esforço para aproximar as posições atuais e chegar a um acordo satisfatório para todos.

Folha - Por que a Espanha mudou de posição para facilitar a aprovação da futura Constituição européia?
Moratinos -
O atual governo espanhol é pró-Europa e pretende ajudar na construção européia. É exatamente isso que fizemos quando decidimos facilitar a aprovação da Constituição. Esta é positiva para os interesses espanhóis e para os europeus. Hoje a Espanha tem mais influência na UE e uma maior capacidade de atuação por conta da nova Carta.

Folha - O sr. crê que a UE possa dotar-se de uma política externa e de segurança comum apesar das divergências atuais?
Moratinos -
Sem dúvida. Fui um dos pioneiros da concepção dessa política, que, pouco a pouco, se torna uma realidade. Quando o bloco tiver um chanceler -em dois anos- e uma capacidade cada vez maior de tomar decisões por maioria qualificada, não por unanimidade, construiremos nossa política externa e de segurança comum.


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