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BC sinaliza interrupção no corte de juros
Após redução de meio ponto na Selic, nota do banco diz que taxa de 8,75% é "consistente" com cenário inflacionário
Foi a quinta redução seguida da taxa, que já caiu 5 pontos desde janeiro, mas corte, decidido por unanimidade, é o menor realizado no ano
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central sinalizou
ontem que o processo de queda
dos juros iniciado em janeiro
pode ter chegado ao fim. Por
unanimidade, os membros do
Copom (Comitê de Política
Monetária do BC) cortaram em
0,5 ponto percentual a taxa Selic, que a partir de hoje passa
para 8,75% ao ano, e afirmaram
que o novo nível é consistente
para controlar a inflação e estimular a recuperação da economia "ao longo do horizonte relevante".
"O comitê avalia, neste momento, que esse patamar de taxa básica de juros é consistente
com um cenário inflacionário
benigno, contribuindo para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas ao longo do horizonte relevante, bem como para a recuperação não inflacionária da
atividade econômica", informou o BC por meio de nota.
Foi a quinta redução seguida
promovida pelo BC, mas também a menor delas -nas quatro anteriores, o corte variou de
1 ponto a 1,5 ponto cada um.
De janeiro para cá, a Selic,
que serve de parâmetro para as
operações de curto prazo feitas
entre bancos e o BC, foi reduzida em cinco pontos percentuais. Desde o mês passado, a
taxa se encontra no nível mais
baixo desde a criação do Copom, em 1996. Antes da criação
do comitê, os juros, que agora
estão em um dígito, chegavam a
ultrapassar os 50.000% ao ano
para fazer frente aos períodos
de hiperinflação observados
até o início dos anos 1990.
Agora, o foco do debate está
na duração do atual processo
de queda dos juros. No mercado financeiro, analistas se dividem entre os que apostam que
o corte de ontem foi o último a
ser efetuado pelo BC neste ano
e os que acham possível ao menos mais uma redução, ainda
que pequena, na próxima reunião do Copom, em setembro.
Essa incerteza se explica por
uma série de fatores. De um lado, os indicadores econômicos
conhecidos até agora não permitem que se afirme com certeza que o país já retomou, de
fato, um ritmo de crescimento
mais sustentável. Apesar dos
bons resultados que vêm sendo
alcançados por setores como o
de serviços, na indústria a produção ainda patina, e o emprego permanece estabilizado
num nível relativamente baixo.
Inflação
A inflação, por sua vez, deve
ficar abaixo da meta de 4,5% fixada pelo governo para 2009 e
para 2010. Mas a alta acumulada pelo IPCA nos últimos 12
meses, de 4,8%, ficou acima dos
4,7% previstos pelo BC. Apesar
de aparentemente sob controle, a alta dos preços é vista por
alguns analistas como excessiva diante da desaceleração da
economia e poderia ser um sinal de que, retomado o crescimento, pressões inflacionárias
voltariam rapidamente.
Além disso, começa a pesar
cada vez mais o fator político
nas decisões sobre juros. Anteontem, o presidente Lula voltou a se manifestar publicamente sobre o assunto, defendendo haver "margem de manobra" para uma redução na taxa Selic.
Esse tipo de comentário ganha mais relevância quando se
considera a defasagem de tempo entre uma mudança nos juros e seu efeito na economia.
Economistas estimam que uma
queda na taxa pode levar mais
de um ano até provocar um estímulo efetivo no nível de atividade.
Ou seja, boa parte do impacto
de uma queda da Selic ocorrida
agora só será sentida em 2010,
ano de eleições, quando o governo tentará emplacar a ministra Dilma Rousseff como sucessora de Lula e até o presidente do BC, Henrique Meirelles, deve concorrer. Pessoas
próximas dizem que Meirelles
pretende se candidatar ao governo de seu Estado natal,
Goiás, embora publicamente
ele não confirme a intenção.
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