São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo deverá ficar sem captar no exterior até 2008

Estratégia só foi possível porque as reservas internacionais superaram US$ 70 bi

Kawall diz que reduzir a vulnerabilidade externa "é importante para aumentar a capacidade do Brasil de suportar choques"


JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Tesouro Nacional anunciou que não recorrerá ao mercado internacional para honrar os US$ 14,193 bilhões em compromissos da dívida externa que vencerão até 2008. Com a abundância de moeda forte no país, o governo pretende lançar mão das reservas internacionais ou comprar no mercado interno os dólares necessários para fazer os pagamentos.
A estratégia divulgada ontem pelo Tesouro para a administração da dívida externa no período 2007/8 prevê captações externas -inclusive novas emissões em real- somente quando as condições de mercado se mostrarem favoráveis e com o objetivo específico de melhorar o perfil da dívida.
"Não faremos mais captações que visem servir à necessidade de financiamento até o final de 2008. As emissões serão qualitativas. Por isso, não estamos mais trabalhando com uma meta nominal para o volume de emissões", afirmou o secretário do Tesouro, Carlos Kawall.
Segundo o secretário, a nova linha de atuação do Tesouro só será possível graças à situação "confortável" do país. As reservas internacionais já superam US$ 70 bilhões e o saldo da balança comercial, nos últimos 12 meses, é de US$ 45,3 bilhões.
Além disso, desde julho de 2005 o governo vem adotando medidas para reduzir a vulnerabilidade externa. Várias operações de recompra, troca e resgates antecipados de títulos, além do pagamento antecipado de dívidas com organismos internacionais -FMI e Clube de Paris- permitiram a redução da dívida externa, atualmente em US$ 64,7 bilhões.
Com tais medidas, houve redução do estoque da dívida (contratual e em títulos) em US$ 36,2 bilhões -esse valor não inclui juros, apenas o principal. Já a dívida externa em títulos com vencimento entre 2007 e 2008 caiu em US$ 4,958 bilhões (principal e juros).
No ano passado, ao anunciar a estratégia de financiamento externo para 2006/7, o Tesouro divulgou que captaria no mercado internacional US$ 9 bilhões, o que representava um refinanciamento de 76% dos vencimentos do período.
A nova política do Tesouro pode significar, em última análise, que o governo não rolará nenhum centavo da dívida que tem no exterior, pagando seus compromissos com moeda adquirida no mercado local de divisas. Isso reduziria o estoque em US$ 14,193 bilhões, que são os vencimentos de 2007/8.

Seguro
Na avaliação do secretário, a estratégia do Tesouro de reduzir a dívida externa tem um caráter de "seguro" para que o país possa atravessar crises da melhor forma possível. Analistas de mercado têm criticado a troca da dívida externa por aumento do endividamento interno pelo alto custo.
"Isso [a redução da vulnerabilidade] é importante para aumentar a capacidade do Brasil de suportar choques. A prática mostra que estamos mais resistentes. Afinal, não adianta comprar apólice de seguro quando o choque vem."
Para o economista Caio Megale, da Mauá Investimentos, a não-emissão no exterior é interessante, uma vez que o Tesouro já vem adotando uma política de recompra de dívida externa. "Não faz sentido recomprar e depois ficar emitindo de novo. Além disso, o BC conta com uma quantidade grande de reservas, que deve chegar ao fim do ano em US$ 80 bilhões, o que é um exagero", disse.
Megale acha, porém, que embora seja válido o país contar com um "seguro", é preciso cautela para não se pagar caro demais pela apólice. "Tudo tem limite. As chances de uma crise afetar o Brasil não são grandes, já que a dívida externa está baixa e não há dívida cambial."


Texto Anterior: Programa social na área de energia provoca aumento extra na tarifa
Próximo Texto: Finanças: BC vai regulamentar saque de valor alto em dinheiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.