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Governo deverá ficar sem captar no exterior até 2008
Estratégia só foi possível porque as reservas internacionais superaram US$ 70 bi
Kawall diz que reduzir a vulnerabilidade externa "é importante para aumentar a capacidade do Brasil
de suportar choques"
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Tesouro Nacional anunciou que não recorrerá ao mercado internacional para honrar
os US$ 14,193 bilhões em compromissos da dívida externa
que vencerão até 2008. Com a
abundância de moeda forte no
país, o governo pretende lançar
mão das reservas internacionais ou comprar no mercado
interno os dólares necessários
para fazer os pagamentos.
A estratégia divulgada ontem
pelo Tesouro para a administração da dívida externa no período 2007/8 prevê captações
externas -inclusive novas
emissões em real- somente
quando as condições de mercado se mostrarem favoráveis e
com o objetivo específico de
melhorar o perfil da dívida.
"Não faremos mais captações
que visem servir à necessidade
de financiamento até o final de
2008. As emissões serão qualitativas. Por isso, não estamos
mais trabalhando com uma
meta nominal para o volume de
emissões", afirmou o secretário
do Tesouro, Carlos Kawall.
Segundo o secretário, a nova
linha de atuação do Tesouro só
será possível graças à situação
"confortável" do país. As reservas internacionais já superam
US$ 70 bilhões e o saldo da balança comercial, nos últimos 12
meses, é de US$ 45,3 bilhões.
Além disso, desde julho de
2005 o governo vem adotando
medidas para reduzir a vulnerabilidade externa. Várias operações de recompra, troca e
resgates antecipados de títulos,
além do pagamento antecipado
de dívidas com organismos internacionais -FMI e Clube de
Paris- permitiram a redução
da dívida externa, atualmente
em US$ 64,7 bilhões.
Com tais medidas, houve redução do estoque da dívida
(contratual e em títulos) em
US$ 36,2 bilhões -esse valor
não inclui juros, apenas o principal. Já a dívida externa em títulos com vencimento entre
2007 e 2008 caiu em US$ 4,958
bilhões (principal e juros).
No ano passado, ao anunciar
a estratégia de financiamento
externo para 2006/7, o Tesouro divulgou que captaria no
mercado internacional US$ 9
bilhões, o que representava um
refinanciamento de 76% dos
vencimentos do período.
A nova política do Tesouro
pode significar, em última análise, que o governo não rolará
nenhum centavo da dívida que
tem no exterior, pagando seus
compromissos com moeda adquirida no mercado local de divisas. Isso reduziria o estoque
em US$ 14,193 bilhões, que são
os vencimentos de 2007/8.
Seguro
Na avaliação do secretário, a
estratégia do Tesouro de reduzir a dívida externa tem um caráter de "seguro" para que o
país possa atravessar crises da
melhor forma possível. Analistas de mercado têm criticado a
troca da dívida externa por aumento do endividamento interno pelo alto custo.
"Isso [a redução da vulnerabilidade] é importante para aumentar a capacidade do Brasil
de suportar choques. A prática
mostra que estamos mais resistentes. Afinal, não adianta
comprar apólice de seguro
quando o choque vem."
Para o economista Caio Megale, da Mauá Investimentos, a
não-emissão no exterior é interessante, uma vez que o Tesouro já vem adotando uma política de recompra de dívida externa. "Não faz sentido recomprar
e depois ficar emitindo de novo.
Além disso, o BC conta com
uma quantidade grande de reservas, que deve chegar ao fim
do ano em US$ 80 bilhões, o
que é um exagero", disse.
Megale acha, porém, que embora seja válido o país contar
com um "seguro", é preciso
cautela para não se pagar caro
demais pela apólice. "Tudo tem
limite. As chances de uma crise
afetar o Brasil não são grandes,
já que a dívida externa está baixa e não há dívida cambial."
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