São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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EM TRANSE

Instituição poderá vender entre US$ 4,3 bi e US$ 8,3 bi no ano que vem

Poder do BC de intervir no dólar cai até 76% em 2003

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central terá menos dólares disponíveis em suas reservas para intervenções no mercado de câmbio em 2003, primeiro ano de mandato do próximo presidente.
A partir das projeções oficiais, conclui-se que o poder de fogo do BC para enfrentar eventuais turbulências financeiras deve ficar entre US$ 4,3 bilhões e US$ 8,3 bilhões no ano que vem.
O BC pode, se quiser, encerrar este ano com vendas de até US$ 18,2 bilhões ao mercado sem ferir as regras do acordo com o FMI. Comparando os números, o poder de intervenção do BC pode cair até 76% no ano que vem.
Os dólares para as intervenções vêm das chamadas reservas líquidas do BC, cujo valor equivale ao das reservas totais menos recursos que não podem ser utilizados enquanto vigorar o acordo -o principal deles é o próprio dinheiro emprestado pelo Fundo.
O acordo ainda estipula um limite mínimo para as reservas líquidas, que foi reduzido de US$ 15 bilhões para US$ 5 bilhões em agosto. O volume livre para vendas aos investidores, portanto, é a diferença entre o total das reservas líquidas e o piso fixado.
Devido à explosão do dólar impulsionada pela crise externa e pelas incertezas eleitorais, o BC estima utilizar, em 2002, US$ 7,7 bilhões -mais que os US$ 7,2 bilhões de 2001- para atenuar a pressão dos compradores.
Confirmado esse volume, as reservas totais encerrariam o ano em US$ 37,7 bilhões, e as líquidas, em US$ 15,5 bilhões.
Restariam, dessa forma, US$ 10,5 bilhões para ações do BC no mercado, já abaixo do disponível em 2002. O próximo governo ainda terá alguns compromissos pesados a cumprir em 2003: pagamentos de US$ 11,5 bilhões ao FMI, referentes a outros acordos, e US$ 10,5 bilhões em juros e amortizações de dívidas diversas.
Também são esperados, obviamente, ingressos de dólares, mas, ainda assim, o resultado final projetado é uma queda das reservas líquidas para US$ 13,3 bilhões no final de 2003, mesmo que o BC não venda dólares ao mercado.
Há ainda um fator de risco nesse cálculo: entre os ingressos imaginados para 2003, estão US$ 4 bilhões a serem obtidos com a venda de títulos do governo brasileiro no exterior -operação que depende, principalmente, das condições do mercado externo. Sem esse dinheiro, as reservas líquidas cairiam para US$ 9,3 bilhões, uma diferença de US$ 4,3 bilhões em relação ao piso determinado.
Os US$ 24 bilhões em empréstimos do FMI prometidos para 2003 -na hipótese provável de que o novo presidente mantenha o acordo- não alteram o resultado, uma vez que não entram na composição das reservas líquidas.
O BC argumenta que terá opções para, se necessário, ampliar sua munição em 2003. Avalia-se, para começar, que o volume projetado para captações com bônus é conservador: equivale ao obtido neste ano, sob condições adversas. No primeiro semestre, o governo obteve pouco mais de US$ 3,9 bilhões com a venda de títulos no exterior -menor resultado desde 98, outro ano de eleição presidencial. As demais alternativas dependem de entendimentos com o FMI. Há a possibilidade de adiar pagamentos de acordos anteriores ou negociar um "piso negativo" para as reservas líquidas, ou seja, a permissão para utilizar recursos emprestados pelo FMI.


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