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Real fraco afeta a meta de inflação
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Criado em 1999, o sistema de
metas de inflação não conseguiu
frear a alta dos preços nos últimos
quatro anos. A vulnerabilidade
externa do Brasil é apontada como um dos principais obstáculos
à eficácia do regime durante o segundo mandato do presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Segundo estimativas do mercado, o IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo) deve registrar uma alta de aproximadamente 6,5% neste ano. Caso a projeção
se confirme, a inflação acumulada
entre 1999 e 2002 ficará em 32,4%.
Essa alta dos preços não se compara à hiperinflação observada
antes do Plano Real. Mas está bem
acima da meta fixada pelo governo, de 23,2% para o período.
A distância entre a inflação projetada pelas metas do governo e o
resultado efetivamente ocorrido é
consequência, principalmente, da
alta do dólar. No ano passado, a
inflação ficou em 7,67%, enquanto a meta era de 4%. A alta de
20,9% registrada pelo dólar no período foi responsável por 2,9 pontos percentuais desse aumento,
segundo o BC. Neste ano, a moeda dos EUA já subiu mais de 40%.
A alta do dólar é consequência
da vulnerabilidade externa do
país. São necessários mais da US$
40 bilhões por ano para que se
atinja o equilíbrio do balanço de
pagamentos -que contabiliza
todos os dólares que entram e que
saem do país. Esse dinheiro vem
na forma de empréstimos e de investimentos estrangeiros, que
costumam sumir em épocas de
crise. Foi o que aconteceu, por
exemplo, durante as crises asiática (1997) e russa (1998). Mais recentemente, o fluxo de capital externo foi influenciado pela moratória argentina e pelo desaquecimento da economia dos EUA.
"As fraquezas do desempenho
do sistema se deveram mais ao
contexto geral da economia brasileira, muito vulnerável a todo tipo
de choques, do que ao sistema de
metas inflacionarias em si", afirma o economista Fernando Cardim, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Para o ex-diretor do BC Sérgio
Werlang, um dos idealizadores do
sistema de metas adotado no país,
a inflação ficou acima do esperado pelo governo porque os objetivos traçados foram muito otimistas. "As metas colocadas eram
apertadas. Foi um exagero", diz.
Até agora, apenas as metas fixadas para 1999 e 2000 foram cumpridas. Para este ano, a meta é de
3,5% com variação de até dois
pontos percentuais para cima ou
para baixo, mas a alta dos preços
deve chegar a 6,5%. Em 2001, para
uma meta de 4%, a inflação ficou
em 7,67%.
Werlang afirma que o atual regime poderia ser aperfeiçoado
com a adoção do chamado núcleo
de inflação, que não considera
nos seus cálculos a variação dos
preços mais sensíveis à alta do dólar, como as tarifas públicas. O
economista diz que o sistema é o
mais adequado para manter a estabilidade monetária no Brasil.
"Não existe alternativa ao sistema
de metas", afirma.
Em relação a políticas de controle de inflação, os oito anos do
governo FHC se dividem em duas
partes: no primeiro mandato
(1995-1998), a estabilidade era
perseguida pela âncora cambial,
em que a cotação do dólar era
controlada pelo governo e ficava
próxima de R$ 1 ou dentro da variação de um piso e de um teto.
Diante das pressões do mercado, o governo foi obrigado a
abandonar o câmbio controlado
em janeiro de 1999. De lá para cá,
o controle da inflação é feito por
meio do sistema de metas de inflação. A cotação do dólar flutua
de acordo com os humores do
mercado. As intervenções do BC
são para evitar grandes oscilações
na taxa da moeda americana.
A inflação registrada durante o
regime de metas só é superada pela alta dos preços ocorrida entre
1995 e 1996, quando a economia
ainda passava por um processo de
desindexação e a estabilidade monetária ainda se consolidava.
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