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Congresso quer limitar poderes de plano
Resistência de congressistas ao pacote do governo Bush muda humor de investidores; Bolsas caem e petróleo dispara
Democratas querem dar mais ajuda a mutuários e limitar os ganhos dos executivos; analistas vêem "pacote de maldades"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar da promessa de líderes da oposição democrata de
que aprovarão o pacote de US$
700 bilhões proposto pelo governo do republicano George
W. Bush para salvar o mercado
financeiro, o plano encontra resistência no Congresso dos
EUA, parte dela liderada pelo
próprio partido do presidente.
O progresso lento das negociações e a inclusão do que o
mercado chamou de "pacote de
maldades" para exigir contrapartidas dos bancos socorridos
contribuiu para a Bolsa de Nova York fechar em forte baixa,
com o índice Dow Jones em
queda de 3,27%. A Bovespa caiu
2,86%.
Já o preço do barril do petróleo teve alta de US$ 16, com o
temor disseminado de que a
moeda americana possa se desvalorizar ainda mais.
No final do dia, as lideranças
democratas do Senado e da Câmara dos Representantes (deputados federais) anunciaram
que haviam chegado a um acordo quanto às condições para a
aprovação do plano. A medida
original previa poderes ilimitados para o Tesouro limpar o
mercado nos próximos dois
anos dos títulos podres.
A contraproposta da oposição democrata, que comanda o
Congresso, pede a criação de
um comitê independente que
supervisionará as ações tomadas pelo Tesouro, a inclusão de
medidas que ajudem mutuários inadimplentes, a exigência
de que o governo receba ações
das empresas que auxiliar e um
teto para pacotes indenizatórios de executivos dos bancos.
Segundo o congressista democrata Barney Frank, presidente do comitê de serviços financeiros, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, teria
aceitado as mudanças. Até a
conclusão desta edição, no entanto, o governo Bush não tinha se manifestado oficialmente e uma pessoa ligada ao departamento afirmou que não
havia acordo fechado.
Dois dos pontos de discórdia
seriam a inclusão do auxílio a
mutuários e a limitação nos pagamentos dos executivos. A
oposição quer ver algum tipo de
punição aos que tiveram, nas
palavras do congressista Henry
Waxman, "comportamento irresponsável". O governo teme
que isso comprometa a viabilidade do pacote. Além disso, há
uma profusão de contrapropostas sendo feitas nas duas
Casas, o que atrasa a votação.
"Obviamente, haverá diferenças quanto a detalhes, e teremos de trabalhar nisso", afirmou texto do presidente George W. Bush. "Mas não será compreensível se membros do Congresso aproveitarem essa legislação de emergência para passar medidas não relacionadas
ou insistir em medidas que enfraqueçam sua efetividade."
A corrida contra o relógio é
alimentada por três fatores: a
turbulência do mercado, que
ontem não dava mostras de ceder; o recesso eleitoral do Congresso, marcado para começar
na sexta-feira, mas que pode
ser adiado; e as eleições presidenciais, em 43 dias.
Um dos líderes da resistência
ao plano do governo é o senador republicano Richard
Shelby, que acha a proposta
"muito vaga". Ele é o republicano mais graduado do comitê de
bancos daquela Casa do Legislativo. "Não acredito que o Tesouro e o Fed já tenham um
plano abrangente."
Se a medida for aprovada pela Câmara dos Representantes,
mas modificada pelo Senado,
tem de voltar àquela instância
para nova votação, o que atrasaria o processo. Indagado sobre o prazo, o democrata Barney Frank disse que vê a medida sendo aprovada "no começo
da semana que vem".
Como parte da campanha de
convencimento, hoje e amanhã
Henry Paulson e o presidente
do Fed, Ben Bernanke, serão
ouvidos pelos comitês financeiros de ambas as Casas.
"Pacote de maldades"
Uma das propostas dos democratas mais comentadas ontem era quanto à exigência de
contrapartidas das instituições
financeiras na hora de vender
suas carteiras de títulos podres.
Pela proposta, o Tesouro se
comprometeria a comprar os
papéis problemáticos, mas exigiria dos bancos interessados
que dessem ações por meio de
aumento de capital, o que dilui
o patrimônio dos acionistas.
Outra opção seria o Tesouro
fazer leilões para a compra de
carteiras dos bancos. Os leilões
seguiriam o modelo reverso,
em que o banco que oferecesse
o maior deságio acabaria se livrando mais rapidamente de
sua carteira problemática.
Para Fábio Susteras, economista do Banco Real, há dúvidas se há dinheiro suficiente
para promover a faxina completa dos créditos. "Não diria
que se trata de um pacote de
maldades. Maldade seria se não
tivesse nenhum tipo de resgate.
A bondade completa seria assumir todas as perdas", disse.
Luis Miguel Santacreu, da
Austin Ratings, lembra que há
dificuldade operacional em fazer o socorro, que envolve trabalho técnico de cobrança com
a avaliação de imóveis. "Se
comprar os papéis no valor de
face [o valor emprestado], estará dando dinheiro aos bancos.
É complicado o governo assumir todo o prejuízo."
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