São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2008

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Congresso quer limitar poderes de plano

Resistência de congressistas ao pacote do governo Bush muda humor de investidores; Bolsas caem e petróleo dispara

Democratas querem dar mais ajuda a mutuários e limitar os ganhos dos executivos; analistas vêem "pacote de maldades"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar da promessa de líderes da oposição democrata de que aprovarão o pacote de US$ 700 bilhões proposto pelo governo do republicano George W. Bush para salvar o mercado financeiro, o plano encontra resistência no Congresso dos EUA, parte dela liderada pelo próprio partido do presidente.
O progresso lento das negociações e a inclusão do que o mercado chamou de "pacote de maldades" para exigir contrapartidas dos bancos socorridos contribuiu para a Bolsa de Nova York fechar em forte baixa, com o índice Dow Jones em queda de 3,27%. A Bovespa caiu 2,86%.
Já o preço do barril do petróleo teve alta de US$ 16, com o temor disseminado de que a moeda americana possa se desvalorizar ainda mais.
No final do dia, as lideranças democratas do Senado e da Câmara dos Representantes (deputados federais) anunciaram que haviam chegado a um acordo quanto às condições para a aprovação do plano. A medida original previa poderes ilimitados para o Tesouro limpar o mercado nos próximos dois anos dos títulos podres.
A contraproposta da oposição democrata, que comanda o Congresso, pede a criação de um comitê independente que supervisionará as ações tomadas pelo Tesouro, a inclusão de medidas que ajudem mutuários inadimplentes, a exigência de que o governo receba ações das empresas que auxiliar e um teto para pacotes indenizatórios de executivos dos bancos.
Segundo o congressista democrata Barney Frank, presidente do comitê de serviços financeiros, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, teria aceitado as mudanças. Até a conclusão desta edição, no entanto, o governo Bush não tinha se manifestado oficialmente e uma pessoa ligada ao departamento afirmou que não havia acordo fechado.
Dois dos pontos de discórdia seriam a inclusão do auxílio a mutuários e a limitação nos pagamentos dos executivos. A oposição quer ver algum tipo de punição aos que tiveram, nas palavras do congressista Henry Waxman, "comportamento irresponsável". O governo teme que isso comprometa a viabilidade do pacote. Além disso, há uma profusão de contrapropostas sendo feitas nas duas Casas, o que atrasa a votação.
"Obviamente, haverá diferenças quanto a detalhes, e teremos de trabalhar nisso", afirmou texto do presidente George W. Bush. "Mas não será compreensível se membros do Congresso aproveitarem essa legislação de emergência para passar medidas não relacionadas ou insistir em medidas que enfraqueçam sua efetividade."
A corrida contra o relógio é alimentada por três fatores: a turbulência do mercado, que ontem não dava mostras de ceder; o recesso eleitoral do Congresso, marcado para começar na sexta-feira, mas que pode ser adiado; e as eleições presidenciais, em 43 dias.
Um dos líderes da resistência ao plano do governo é o senador republicano Richard Shelby, que acha a proposta "muito vaga". Ele é o republicano mais graduado do comitê de bancos daquela Casa do Legislativo. "Não acredito que o Tesouro e o Fed já tenham um plano abrangente."
Se a medida for aprovada pela Câmara dos Representantes, mas modificada pelo Senado, tem de voltar àquela instância para nova votação, o que atrasaria o processo. Indagado sobre o prazo, o democrata Barney Frank disse que vê a medida sendo aprovada "no começo da semana que vem".
Como parte da campanha de convencimento, hoje e amanhã Henry Paulson e o presidente do Fed, Ben Bernanke, serão ouvidos pelos comitês financeiros de ambas as Casas.

"Pacote de maldades"
Uma das propostas dos democratas mais comentadas ontem era quanto à exigência de contrapartidas das instituições financeiras na hora de vender suas carteiras de títulos podres.
Pela proposta, o Tesouro se comprometeria a comprar os papéis problemáticos, mas exigiria dos bancos interessados que dessem ações por meio de aumento de capital, o que dilui o patrimônio dos acionistas.
Outra opção seria o Tesouro fazer leilões para a compra de carteiras dos bancos. Os leilões seguiriam o modelo reverso, em que o banco que oferecesse o maior deságio acabaria se livrando mais rapidamente de sua carteira problemática.
Para Fábio Susteras, economista do Banco Real, há dúvidas se há dinheiro suficiente para promover a faxina completa dos créditos. "Não diria que se trata de um pacote de maldades. Maldade seria se não tivesse nenhum tipo de resgate. A bondade completa seria assumir todas as perdas", disse.
Luis Miguel Santacreu, da Austin Ratings, lembra que há dificuldade operacional em fazer o socorro, que envolve trabalho técnico de cobrança com a avaliação de imóveis. "Se comprar os papéis no valor de face [o valor emprestado], estará dando dinheiro aos bancos. É complicado o governo assumir todo o prejuízo."


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