São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

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Dólar sobe 6,7% e acumula alta de 52% desde agosto

Moeda, que sobe em todo o mundo, atinge maior cotação em dois anos e meio

Queda dos preços das commodities, notícia sobre fluxo cambial negativo e nova MP contribuíram para enfraquecer mais o real

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar comercial subiu 6,68% ontem -após ter subido 4,99% anteontem- e chegou a R$ 2,38, seu maior valor desde 24 de maio de 2006. A moeda dos EUA acumula elevação de 33,9% no ano e de 52,6% desde 1º de agosto, quando havia alcançando a cotação mínima de 2008, R$ 1,559.
A medida provisória editada ontem que permite ao governo comprar empresas e a notícia de que o fluxo cambial no país ficou negativo em US$ 3,751 bilhões nas primeiras três semanas de outubro já azedaram os ânimos no câmbio logo pela manhã. Mas são vários os fatores que explicam a disparada da moeda americana ontem.
O movimento foi global. O dólar avançou contra praticamente todas as moedas devido ao crescimento dos temores de uma recessão planetária. Os economistas prevêem que muitos países -os europeus, por exemplo- terão que cortar a sua taxa básica de juros em breve para enfrentar a já prevista recessão. Diante da perspectiva de menores ganhos, os investidores preferem correr para os EUA e comprar os títulos do seu Tesouro, tradicional refúgio em momentos de crise, mesmo que as turbulências tenham tido início justamente em solo americano.
A forte queda dos preços das commodities metálicas -ferro, ouro- e agrícolas -milho, soja, trigo- no mercado internacional ajudou a derrubar o real.
Boa parte da pauta de exportações brasileira é composta por essas matérias-primas, cuja demanda cresceu bastante nos últimos anos enquanto o mundo progredia. Uma diminuição do consumo com o desaquecimento global significaria menos dólares entrando no Brasil.
O cenário negativo fez alguns bancos e investidores aumentarem as suas compras de divisas para estocar -eles apostam que a situação pode se deteriorar ainda mais, também fazendo a moeda americana subir.
Esse componente especulativo impediu que a intervenção do Banco Central ontem tivesse efeito em segurar as cotações. A instituição realizou dois leilões de moeda no mercado à vista e também ofereceu US$ 515 milhões em contratos de "swap" cambial. No total, até segunda-feira, o BC já havia empregado US$ 22,8 bilhões por meio de diversos instrumentos para tentar impedir a disparada do dólar.
Nesse contexto de medo e de desconfiança, a edição da Medida Provisória 443 -que permite que o Banco do Brasil e a Nossa Caixa adquiram participação em outros bancos e empresas sem licitação- contribuiu para piorar o clima. "O entendimento é que as condições do sistema bancário brasileiro podem ser um pouco mais complicadas", comenta Alessandra Ribeiro, analista da Tendências Consultoria, para ressaltar em seguida: "É verdade que a regulação é rígida, que a alavancagem é pequena, as instituições estão capitalizadas; porém, o BC pode estar mais preocupado com as menores. As grandes são sólidas".
Para ela, o governo deveria ser mais cuidadoso na comunicação de suas ações para não mandar mensagens erradas e deixar o mercado ainda mais nervoso.
No entanto, de acordo com especialistas, a elevação observada nas últimas semanas é fruto apenas do pânico e não de uma piora do país, por isso não se sustentaria por muito tempo. Na bonança, o Brasil aproveitou para melhorar as suas contas externas -agora é credor e não devedor- e construir uma reserva de dólares de mais de US$ 200 bilhões. A projeção da Tendências é que o dólar volte a R$ 1,95 no final do ano.


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