São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

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Bolsa argentina desaba após estatização

Estatização de fundos de previdência privada do país afeta negativamente mercado e índice Merval cai mais de 10%

Iniciativa teria como meta tornar cenário nacional mais tranqüilo, porém tem efeito contrário; medida enfrenta oposição no Congresso

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Longe de trazer previsibilidade e tranqüilidade, como afirmou a presidente argentina, Cristina Kirchner, o anúncio da estatização da previdência privada provocou forte impacto negativo sobre os índices da economia do país ontem.
O índice Merval da Bolsa de Comércio de Buenos Aires fechou com uma queda de 10,11%, chegando ao menor índice desde junho de 2004. Durante a tarde, o Merval chegou a cair quase 18%, acompanhando também a tendência de baixa nas bolsas internacionais.
Os fundos de previdência privada, que agora serão estatizados, têm cerca de 70% de seu dinheiro investido em bônus e ações e estão entre os principais investidores da bolsa local.
Seguindo a tendência negativa, o risco-país chegou a alcançar 2.000 pontos, e os títulos do país caíram uma média de 11%. O dólar manteve seu valor pela intervenção do Banco Central.
Na Espanha, a queda de 8% na Bolsa de Madri, mais expressiva do que a das economias vizinhas, foi vista como reflexo da reforma da previdência argentina, pela forte relação entre as duas economias. Um dos títulos mais afetados foi o da petroleira binacional Repsol-YPF, que caiu mais de 15%.
Diante da fuga de capitais, a Justiça argentina já havia deliberado anteontem que os dez fundos de pensão privados não poderiam atuar no mercado financeiro por sete dias.
No entanto, diante da forte queda da bolsa, a Justiça argentina determinou ontem a busca e apreensão de documento e equipamento de informática na sede dos fundos de previdência diante da denúncia de que estariam liquidando bônus e ações frente à iminente estatização.
Em um comunicado, a União de Administradoras de Fundos de Aposentadorias e Pensões afirmou que "o projeto de lei não tem uma visão de longo prazo" e que "a medida gera um contexto que desincentiva os investimentos na Argentina".
As empresas estimulam que seus afiliados processem o Estado e já se prevê grande quantidade de processos. Alguns dos principais fundos argentinos estão ligados a grandes grupos, como HSBC e BBVA.
O projeto de lei que determina a estatização da Previdência ainda tem que ser aprovado pelo Congresso, onde a oposição promete dar trabalho ao governo. Eles afirmam que a nova medida visa encher os cofres do governo em tempo de crise e não ajudar aos aposentados.
Desde 1994, quando foi criado a Previdência privada, a Argentina tinha um sistema misto. Quem não optava entre a Previdência estatal ou a privada, ia automaticamente para o sistema privado. Uma reforma feita pelo ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) permitiu que os contribuintes do setor privado pudessem voltar a escolher o sistema público.


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